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Censo brasileiro revela impacto da pandemia e desafia o IBGE, diz Ester Limonad

Censo brasileiro revela impacto da pandemia e desafia o IBGE, diz Ester Limonad

Dados oficiais refletem a dimensão real da Covid-19 e da crise política, enquanto ajuste inédito de 8 milhões gera preocupações estatísticas, destaca especialista.

 O Censo brasileiro foi divulgado recentemente, revelando informações surpreendentes sobre a população do país. No entanto, a realização do Censo enfrentou desafios e atrasos, levantando preocupações sobre a qualidade dos dados coletados. Ester Limonad, professora titular aposentada de geografia humana na Universidade Federal Fluminense e pesquisadora na área de geografia, destacou a importância do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como uma instituição governamental séria e reconhecida internacionalmente. Ela explicou que o Censo enfrentou uma série de problemas devido a cortes orçamentários e dificuldades decorrentes da pandemia.

Sobre o paradeiro de 10 milhões de pessoas, Ester Limonad esclareceu que, na verdade, esse número foi ajustado para 8 milhões. O ajuste é necessário devido à parcela da população que não responde ou não é entrevistada, o que é comum em todos os Censos. No entanto, o ajuste de 8 milhões representa um desvio estatístico significativo, ultrapassando a margem de erro aceitável de 5%. Sem esse ajuste, o Censo perderia sua validade estatística, levando à necessidade de justificar a ausência de um grande número de pessoas nos dados.

“Os resultados desse Censo revelam a dimensão real do impacto da pandemia e da loucura que tomou conta do país a partir de 2019”, destacou. Os dados oficiais sobre mortalidade foram baseados em informações do Ministério da Saúde, que registrou oficialmente 750 mil mortes devido à Covid-19 e síndrome aguda respiratória, embora se acredite que o número real possa ser cinco vezes maior. Além disso, mortes não registradas, como aquelas ocorridas em comunidades marginalizadas ou em áreas rurais, contribuíram para a discrepância nos números. A professora também ressaltou a situação de populações indígenas e trabalhadores rurais, que sofrem com tentativas de extermínio e violência, muitas vezes não divulgadas pela imprensa.

Outro aspecto destacado pelo Censo é a diminuição da população nas capitais brasileiras. Tendência essa que já vem sendo observada há pelo menos 20 anos pelos estudiosos de geografia e urbanismo. O Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, estão perdendo habitantes, e a taxa de crescimento demográfico oficial do IBGE, que é de 0,52% ao ano, não é suficiente para manter a estabilidade populacional. O país está caminhando para um cenário em que a população se dispersa em busca de melhores condições de vida e oportunidades em municípios menores.

A falta de recursos e o desafio de coletar informações precisas em um país com dimensões continentais são apenas alguns dos obstáculos enfrentados pelo IBGE. Ester Limonad ressalta que o Censo é essencial para o planejamento e desenvolvimento do país, além de ser fundamental para garantir políticas públicas eficientes. Portanto, é urgente que o governo reconheça a importância dessa ferramenta de conhecimento e assegure os recursos necessários para sua realização adequada.

“Eu acho muito difícil que façam outro Censo. Esse foi um dos piores Censos que já foi feito, embora eles contassem com equipamentos mais modernos. A questão é que esses ajustes que foram feitos dão margem é desconfiar que tem uma série de problemas”, comentou.

Dessa forma, o Censo brasileiro de 2022 revelou as consequências diretas da pandemia e problemas na sua realização, desafiando o IBGE a lidar com ajustes estatísticos significativos e levantando discussões sobre a relevância e o futuro dos Censos no país.

 

FONTE

https://www.brasil247.com/brasil/censo-brasileiro-revela-impacto-da-pandemia-e-desafia-o-ibge-diz-ester-limonad