Com o conteúdo de mídia manipulado se tornando cada vez mais comum, jornalistas vão precisar ser capazes de identificar suas diferentes formas e educar a audiência a respeito do mesmo.
Os deepfakes estão entre os principais exemplos de mídia manipulada atualmente, de acordo com Sam Gregory, diretor de programas na WITNESS, uma organização que usa vídeo e tecnologia para defender os direitos humanos, em uma fala durante um webinar do Fórum de Reportagem de Crises Globais do ICFJ.
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Diante da constante luta entre reportagem com credibilidade e conteúdo de mídia feito com a intenção de enganar, jornalistas e defensores dos direitos humanos precisam estar equipados com as ferramentas e técnicas mais eficientes para combater as mais recentes táticas de desinformação.
Acompanhe na sequência o que é preciso saber:
A tecnologia
Há muitos tipos de deepfakes com os quais jornalistas devem se preocupar. Os exemplos incluem remover itens ou alterar o fundo de imagens e vídeos, manipular expressões faciais ou movimentos de pessoas e criar rostos completamente novos.
Os deepfakes são uma ameaça séria, ainda que a extensão da tecnologia e seu impacto atual sejam às vezes exagerados. Por exemplo, embora tenham sido feitas previsões na mídia sobre a capacidade dos deepfakes de afetar processos políticos, eles ainda não impactaram significativamente eleições recentes.
“Existe essa retórica em torno dos deepfakes, com a ideia de que eles vão desestabilizar toda a verdade possível”, disse Gregory. Isso não leva em consideração como a tecnologia para detectar esses esforços está melhorando, mesmo que alguns deepfakes continuem sendo difíceis de detectar. “Embora pensemos nos deepfakes como trocas de rosto muito hiper-realistas, essa ainda é a parte mais difícil de ser feita desse espectro e requer mais recursos”, acrescentou.
Mesmo assim, à medida que a tecnologia melhora a capacidade de criar deepfakes mais facilmente e de forma mais barata, especialmente em dispositivos móveis, jornalistas precisam continuar atentos a ameaças futuras.
Ameaças futuras
Avanços na tecnologia estão tornando mais simples a produção de deepfakes com menos capacitação. Criminosos têm mais condições de manipular conteúdo em áudio, fotos e vídeos, assim como combinação de conteúdo multimídia.
Isso é especialmente preocupante para mulheres jornalistas, já que a forma mais comum de mídia manipulada são imagens sexuais falseadas que podem ser usadas para silenciá-las, observou Gregory. É uma área em particular na qual as medidas de combate ficam aquém do necessário. “A detecção é insuficiente”, disse. “É problemática e não existe uma boa gama de soluções na área.”
Os deepfakes também forçam os jornalistas a gastar tempo e dinheiro para provar que uma imagem não é manipulada. À medida que os deepfakes se tornam mais simples de serem produzidos, isso pode se tornar um fardo significativo para jornalistas, especialmente para aqueles com menos acesso a recursos. “Precisamos observar como isso contribui para os desafios existentes para jornalistas com poucos recursos.”
Hoje, os shallowfakes – conteúdo de mídia mal contextualizado, reaproveitado e edições com a intenção de enganar – continuam mais prevalentes do que os deepfakes. Felizmente, estes também ainda representam um nível baixo de ameaça.
Combate aos deepfakes
As mesmas ferramentas e técnicas usadas para criar mídia sintética também podem ser aproveitadas para detectá-las. Os jornalistas devem analisar falhas em vídeos e aplicar técnicas existentes de verificação e forenses para identificar mídia manipulada. Eles também podem utilizar criptografia e táticas emergentes que usam inteligência artificial, como detecção de infravermelho.
À medida que se envolvem em esforços para combater deepfakes, jornalistas também devem ter em mente questões éticas. Os deepfakes podem ser usados para sátira e para proteger identidades, por exemplo, gerando certa hesitação diante dos esforços para impedir seu uso.
Além disso, os jornalistas devem se perguntar:
- Como podemos ensinar as pessoas a identificar deepfakes?
- Existem ferramentas para detecção? Quem tem acesso?
- Como tirar proveito das habilidades e coordenação jornalísticas existentes?
- Existem ferramentas para autenticação? Quem tem acesso?
No entanto, as ferramentas e estratégias existentes têm suas limitações. “Essas ferramentas estão apenas começando a estarem disponíveis, [e] elas têm mais dificuldade em lidar com o conteúdo que [jornalistas] encontram”, disse Gregory, acrescentando que entre os desafios de hoje está o fato de as organizações darem mais prioridade ao lucro do que às soluções.
Quanto aos jornalistas, quando publicarem algo, devem incluir evidências para mostrar aos leitores que o conteúdo não é falso. Eles também devem incorporar informações sobre mídia sintética nos esforços de letramento midiático para seu público, recomendou Gregory. Uma abordagem útil para disseminar é seguir estes passos: “pare, investigue, encontre uma cobertura melhor e rastreie o contexto original de afirmações, citações e mídia”.
Enquanto isso, organizações como Google, Adobe e The New York Times estão desenvolvendo ferramentas para ajudar jornalistas a identificar e combater deepfakes e garantir que seu trabalho inclua evidências de legitimidade.
“É importante colocar os jornalistas como um dos grupos-chave que de fato precisam identificar o que é necessário neste cenário”, disse Gregory.
Foto por Mediamodifier no Unsplash.
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