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DE ONDE NÃO SE ESPERA NADA É QUE NÃO SAI NADA MESMO

DE ONDE NÃO SE ESPERA NADA É QUE NÃO SAI NADA MESMO

Na última sexta-feira, o governo federal anunciou um pacote de medidas na área da segurança pública. O evento, que contou com a presença de prefeitos e governadores aliados, teve como foco quatro pontos principais: novas regras para limitar o uso de armas de fogo para a população civil, novos recursos para estados e municípios, um projeto de lei para tipificar como crime hediondo a violência nas escolas e outro projeto de lei para aumentar as punições a quem “atentar contra o Estado Democrático de Direito”. Se alguém esperava medidas mais efetivas contra a violência institucionalizada no país e contra o crime organizado, saiu de lá mais desesperado ainda.

Por Daniel Spirin Reynaldo em seu Facebook

Atualmente, vivemos o que se convencionou chamar de “mexicanização do Brasil”, quando as facções criminosas organizadas alcançam os cargos públicos e as bases de votos de determinados grupos políticos se concentram em áreas onde o poder público não atua mais. O narcotráfico, presente nas principais capitais e também com extensões no interior do Brasil, por sua vez está conseguindo uma aliança inédita com as milícias (grupos paramilitares que dominam bairros e regiões de diversos estados), além de implementar uma nova rotina de leis draconianas para os cidadãos que não conhecem mais a proteção das leis oficiais.
O pacote lançado pelo governo Lula nem sequer menciona a criação de uma política exclusiva federal para o enfrentamento da violência e do crime organizado de maneira mais contundente. O tal pacote apenas se limita a repassar pouco mais de um bilhão de reais para os estados e municípios em recursos a serem aplicados em equipamentos, informática e armamentos para os policiais. No Rio de Janeiro, estado com mais de 70% da sua capital dominada pelas milícias e pelo tráfico, este montante não chega a quarenta milhões de reais, valores irrisórios diante do enorme desafio que é retirar o ente federado das mãos dos criminosos.
Outro ponto que não mereceu destaque no novo pacote governamental contra o crime é a completa ausência de um programa de erradicação da violência e das facções nos presídios brasileiros. Verdadeiras universidades do crime, as cadeias no Brasil há muito que deixaram de ser centros correcionais para darem lugar ao aprendizado e aperfeiçoamento de práticas ilícitas ministradas por outros detentos. Por incrível que pareça, são os grupos religiosos neopentecostais que atuam nos presídios em favor daqueles que buscam sair da vida marginal. Boa parte das sequenciais ondas de roubos, assassinatos e invasões de territórios adversários saem dos presídios por ordem dos líderes das facções.
Confesso que eu esperava, pelo menos, que o governo Lula anunciasse algum tipo de força-tarefa da Polícia Federal para combater os grandes criminosos, os chamados “cabeças” por detrás da ralé dos morros e comunidades dominadas pelos grupos do tráfico e milícias; e que englobasse uma empreitada de rastreio e bloqueio de recursos econômicos. Nada disso estava no pacote.
O Brasil vive hoje numa cultura de violência que veio do alto e ganhou as camadas populares. Pequenos delitos de fraudes, furtos, avanços de semáforos, atropelamentos, lançamento de lixos em vias públicas, som alto, brigas de gangues de lutadores, roubo de mobiliário público, propinas, e muito mais, tornaram-se fatos dados e estabelecidos numa sociedade que ainda não se libertou da prerrogativa da força para a aceitação da ordem civilizada. As próprias polícias estaduais viraram uma espécie de instituição baseada na aplicação da força bruta contra as camadas mais pobres enquanto aplica as leis em favor daqueles que podem pagar pela segurança. Os bons policiais, honestos e capacitados, são oprimidos e até mesmo ameaçados pelas bandas podres das forças de segurança. Nenhum tipo de programa contra a corrupção nas PMs e Polícia Civil estaduais foi lembrado no pacote do governo petista.
Os governos petistas sempre se destacaram pelo crescimento econômico, geração de emprego e renda, melhorias na área da assistencial e expansão do ensino, mas sempre pecaram quando o assunto é segurança pública. Isto pode explicar o fenômeno até hoje não completamente estudado quando, nos período de 2003 a 2013, onde os índices sociais melhoraram excepcionalmente, as facções do tráfico e das milícias experimentaram enorme crescimento. Colocar a culpa tão somente nas administrações estaduais não dá conta da resposta.
De fato, a velha máxima ‘de onde não se espera nada é que não sai nada mesmo’ cai como uma luva neste momento.
FONTE
https://www.facebook.com/photo?fbid=6361188007270003&set=a.105549126167287