Grande parte dessas cidades está nas regiões Norte e Nordeste.
Dois terços dos municípios brasileiros não têm capacidade de se adaptar aos efeitos climáticos, segundo dados apresentados pela secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni. A agropecuária pode ser um dos setores mais impactados.
Grande parte desses municípios está no Norte e Nordeste. “Dos 5.570 municípios, 3.679 têm baixíssima capacidade de se adaptar a desastres geohidrológicos. Isso é muito importante para a agricultura, para a nossa capacidade de produzir os alimentos”, disse a secretária em um evento na semana passada.
Em outra apresentação recente na Câmara, Ana Toni mostrou que o cenário projetado para o clima nos próximos anos é de temperaturas mais altas, possibilidade de ocorrência de desertificação e estresse hídrico. Esses processos podem afetar o acesso regular e permanente de populações à alimentação, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade.
As projeções analisadas pelo governo mostram a possibilidade de redução de 10,6 milhões de hectares de terra destinada à agricultura até 2030, mostrou Ana Toni. A agropecuária também pode ter que lidar com o aumento de áreas de alto risco climático, redistribuição regional de culturas em busca de condições mais favoráveis e o agravamento da pobreza.
“O Brasil é o país com maior capacidade de gerar soluções climáticas, mas ao mesmo tempo somos muito vulneráveis às mudanças do clima”, disse Toni. Ela apontou um aumento na ocorrência de desastres naturais em todas as regiões do país. “Todos esses eventos vêm aumentando muito rapidamente no Brasil.”
O governo vai desenhar uma nova política nacional de mudanças climáticas e criar planos setoriais com metas e tarefas específicas. Serão oito planos de mitigação e 14 planos de adaptação. Agricultura e pecuária estão em ambas as modalidades.
Antes de tudo, porém, a secretária ressaltou que o principal exercício a ser feito no país é acabar com o desmatamento. Diferentemente do resto do mundo, em que a queima de combustíveis fósseis é o maior fator de emissões, a derrubada da vegetação nativa ainda é a mazela brasileira.
“Se conseguíssemos eliminar o desmatamento da nossa pegada de carbono, sairíamos da sexta posição no ranking de maiores emissões de gases de efeito estufa e, provavelmente, passaríamos para 20º ou 23º. É uma tarefa de todos, não só da agricultura. Combater o desmatamento vai ajudar o Brasil a fazer a transição de maneira mais gradual”, afirmou no evento.
Além de renovar os planos de ação para mitigação e adaptação, o governo articula a criação de uma rede nacional para angariar investimentos e apoiar estudos sobre riscos climáticos. As perdas no campo se refletem cada vez mais nas contas públicas. Nas últimas cinco safras, foram pagos R$ 20 bilhões pela União em coberturas aos pequenos produtores do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro).
No seguro-rural, as indenizações pagas pelas seguradoras privadas passaram de R$ 8 bilhões para médios e grandes produtores desde 2018. Com as perdas e a alta sinistralidade, o preço das apólices aumentou e consumiu mais rapidamente o orçamento da subvenção de 2023. Uma suplementação de R$ 500 milhões para os últimos dois meses do ano foi classificada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, como uma demonstração de “sensibilidade com as mudanças climáticas”.
FONTE:
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/11/08/dois-tercos-dos-municipios-do-brasil-nao-tem-capacidade-de-se-adaptar-a-crise-climatica.ghtml