Associação Brasileira dos Jornalistas

capa14anos
Guerra em Gaza: especialistas apontam desafios de Israel no combate por terra contra o Hamas

Guerra em Gaza: especialistas apontam desafios de Israel no combate por terra contra o Hamas

Israel já anunciou que vai invadir a Faixa de Gaza por terra, mar e ar, mas muitos analistas acreditam que as tropas estariam entrando em uma armadilha. Eles explicam também por que o Egito reluta em abrir passagem aos refugiados palestinos.

A guerra entre Israel e o Hamas deve entrar em uma nova fase nos próximos dias, com a incursão das tropas israelenses em Gaza. O que esperar? Especialistas ouvidos pelo Fantástico apontam os desafios de uma invasão por terra para combater os terroristas.

Israel já anunciou que vai invadir a Faixa de Gaza por terra, mar e ar, mas muitos analistas acreditam que as tropas estariam entrando em uma armadilha.

“A guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah, no Líbano, demonstrou a dificuldade que Israel tinha de entrar no território libanês, porque há todo um universo quase que subterrâneo que eles não conhecem, mas que os guerrilheiros do Hezbollah conheciam perfeitamente. O que eles vão encontrar em Gaza é algo parecido, mas em um cenário muito mais urbano”, explica Salem Nasser, professor de direito da FGV-SP.

“Serão batalhas em 360 graus, no ar, no chão e debaixo dele, nos túneis. Haverá situações em que os israelenses conquistam um território e são contra-atacados pelas costas, por forças que emergem de túneis”, ressalta Mark Hienay, da Human Rights Watch.

Em um cenário como esse, há muitas mortes dos dois lados, mas o maior risco é para a população civil de Gaza. Israel mandou os moradores do norte abandonarem a região, mas para onde ir? A única saída possível é o Egito, pelo posto de fronteira conhecido como passagem de Rafah – uma entrada para a Península do Sinai -, mas o país hesita em abrir esse portão, que pode ser a diferença entre vida e morte para centenas de milhares de palestinos.

Um temor do Egito é de que, ao permitir a entrada dos refugiados, a Península do Sinai acabe se tornando um território alternativo para a criação do Estado Palestino.

“O Egito tem receio de que grupos do Hamas se espalhem entre esses refugiados e acabem atuando também no Egito“, afirma Vitélio Brustolin, professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard.

Em uma das áreas mais densamente povoadas do planeta, muitas bombas estão atingindo civis e hospitais. Pelo menos 12 funcionários da ONU foram mortos em Gaza.

Só no primeiro dia de conflito, o Hamas disparou 2 mil foguetes contra Israel. De onde vem tantas armas? Mark Hienat, da ONG Human Rights Watch, explica que há apoio externo:

“O Hamas produz boa parte de suas armas com recursos próprios, mas é claro que existe apoio externo. Fuzis Kalashnikov fabricados na China, minas antitanque feitas no Irã. Então, existe um fluxo de armas entrando em Gaza. Outra fonte importante é o próprio Exército israelense. Uma bomba qualquer não detonada, como uma mina por exemplo, desmonta tudo e usa aqueles explosivos para fazer munição ou um morteiro improvisado”.

Para evitar que alguns países pensem em se juntar ao conflito – como a Síria e especialmente o Irã, que tem um programa nuclear e financia o Hamas e outros grupos radicais -, os Estados Unidos já deslocaram o maior porta-aviões do mundo, com capacidade para 90 aeronaves de ataque, para o litoral da Faixa de Gaza. A embarcação está sendo escoltada por três destroieres com mísseis guiados, um cruzador e um submarino nuclear e um segundo porta-aviões e sua escolta começaram a se deslocar na noite deste sábado (14).

As evidências recolhidas até agora mostram que, mesmo parecendo um grupo desorganizado de terroristas avançando em motos e carrocerias de caminhonete, os detalhes do ataque terrorista da semana passada foram bem planejados – com cada terrorista com locais e alvos definidos a atacar.

Vídeos divulgados pelo Hamas ajudam a reconstituir o ataque terrorista que desencadeou a guerra. Em um publicado no dia 12 de setembro, menos de um mês antes da invasão ao território israelense, os terroristas treinavam.

As imagens mostram os integrantes do Hamas explodindo uma réplica do Muro de Ferro, que separa a Faixa de Gaza e Israel, das torres de vigilância até as reproduções de vilas em tamanho real. Os terroristas entram de casa em casa, atirando, com munição de verdade, em alvos de papel representando as pessoas que seriam mortas.

O próprio porta-voz do Hamas disse, em entrevista a uma TV russa, que o grupo fingiu negociar com Israel por dois anos enquanto planejava a invasão.

“Existem métodos antigos para não ser detectado pela internet, mas não se deve descartar um componente de negligência, de quem achou que a postura recente do Hamas vinha sendo de negociar em boa-fé”, afirma Andrew Borene, ex-funcionário do Centro de Contraterrorismo dos EUA.

ASSISTA A REPORTAGEM DO FANTÁSTICO AQUI:

https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2023/10/15/guerra-em-gaza-especialistas-apontam-desafios-de-israel-no-combate-por-terra-contra-o-hamas.ghtml