Com a inflação em cerca de 4%, a Selic não deveria passar de 8,5% para garantir juros neutros, argumentou o ministro. Hoje a Selic está em 13,25%.
Em entrevista concedida ao jornalista Reinaldo Azevedo e ao advogado Walfrido Warde nesta segunda-feira (14), o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez declarações enfáticas sobre a atual política de juros praticada pelo Banco Central, criticando a demora no corte de juros e argumentando que uma taxa acima de 8,5% é “recessiva e contracionista” para a economia – dada a inflação atual de 3,99% no acumulado dos 12 últimos meses.
No centro da entrevista, Haddad abordou a questão da taxa Selic, a taxa básica de juros do Brasil, que atualmente está em 13,25%. Ele ressaltou que, dadas as circunstâncias econômicas, essa taxa é excessivamente alta e está tendo um impacto negativo na atividade econômica do país: “uma coisa nos surpreendeu: a demora no corte de juros. Por que o governo ficou angustiado com a demora? Óbvio. Já tinha razões para o corte de juros. Nós vínhamos dizendo: ‘não podemos nos iludir com o PIB do primeiro trimestre. O PIB do primeiro trimestre é o agro [agronegócio]. Em abril vai começar uma desaceleração muito forte no Brasil. Tem falas minhas na porta da Fazenda dizendo isso”.
“Quando saiu o PIB do primeiro trimestre, o pessoal começou a me cumprimentar. Não tinha nada a ver comigo. Eu dizia: ‘não é para me cumprimentar. Nós estamos com um problema’. Eu podia bater bumbo e dizer ‘eu sou bacana, olha como a coisa funciona comigo’. Eu falei o contrário, falei ‘não vamos nos iludir’. Veio a desaceleração e não veio o corte de juros. Então esse período entre abril, maio e julho foi o momento de maior tensão com o Banco Central. Se não viesse o corte de agosto, eu não sei o que nós iríamos fazer”, acrescentou Haddad.
O Ministro ressaltou a importância de manter os juros em níveis neutros para garantir um equilíbrio saudável entre inflação e crescimento econômico: “o Banco Central diz que chamada taxa neutra de juros gira em torno de 4,5% e 5%. Se a inflação é 4%, 8,5% é neutro. Significa que tudo acima de 8,5% é recessivo, é contracionista. Então se você cortar 0,5 [ponto percentual], faça a conta: quanto tempo nós vamos chegar a um juro neutro cortando 0,5 por reunião, sendo que são oito [reuniões] por ano. O juro neutro é o quê? A inflação nem sobe nem desce. Cortando 0,5 nós vamos viver um longo processo contracionista”.
Haddad expressou preocupação com a arrecadação em queda no país, apontando que a economia enfrenta desaceleração desde abril, e acentuou que, mesmo pequeno, o corte de 0,5 ponto percentual na taxa de juros era essencial para evitar problemas econômicos graves. Ele também destacou a relação entre a política de juros e as decisões políticas: “[sem o corte de 0,5%] talvez você começasse a ter pessoas que votaram a favor da autonomia [do Banco Central] dizendo ‘espera aí, acho que erramos’”.
FONTE:
https://www.brasil247.com/economia/haddad-taxa-de-juros-acima-de-8-5-e-recessiva-e-contracionista