Empresas do Reino Unido, como a Kellogg UK, estão deixando de considerar a capacitação formal como um requisito para contratar.
Quando forem publicados os resultados dos exames dos cursos pré-universitários da Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, acrescentados aos currículos dos alunos que concluem o curso médio, prevê-se que milhares de jovens não obterão as notas necessárias para ingressar na universidade. Isso é doloroso, mas, assim que o choque passar, os próximos passos, tradicionalmente, são, muitas vezes, o encaminhamento, pela universidade, para cursos de segunda opção onde há vagas remanescentes ou refazer os exames. Neste ano, poderá haver uma terceira opção viável: começar a trabalhar em uma prestigiosa empresa (com a vantagem de que esta última alternativa não estará vinculada a dezenas de milhares de libras esterlinas em dívidas).
O número de anúncios de empregos que não exigem ensino superior subiu 90%, em termos ano a ano, entre 2021 e 2022, segundo novos dados do LinkedIn, e, em termos mundiais, os recrutadores estão cinco vezes mais tendentes a procurar “competências” do que no começo do ano passado.
Especialistas em mercado de trabalho sabem que uma tendência só se torna um movimento quando grandes empregadores a adotam. Nesse caso, a primeira a se movimentar nessa direção foi a Kellogg UK (que se autodefine como “a gigante dos cereais e salgadinhos”). Em junho, a empresa anunciou que “ter um diploma de curso superior deixará de ser um requisito para os que quiserem trabalhar na Kellogg no Reino Unido”.
Perguntei a Chris Silcock, vice-presidente e diretor geral da Kellogg Reino Unido e Irlanda, como esse anúncio foi recebido. Trata-se de uma grande mudança. As pessoas foram receptivas? “A reação [no LinkedIn] foi inacreditável em termos de compartilhamentos e repostagens, e os comentários foram esmagadoramente positivos. Somos um empregador muito inclusivo e é muito importante para nós recorrermos a todos os currículos diferentes”, disse Silcock.
Os poucos comentários negativos vieram de pessoas que “têm formação superior e sentiram que não estamos dando valor a ela. Estamos nos desdobrando para garantir que ainda aceitamos e valorizamos capacitações formais de formação superior. O que estamos dizendo é que, em muitas funções e em muitos casos, a atitude e a perseverança [do candidato] são tão importantes quanto a sua capacitação formal”.
A abertura de mais vagas de trabalho para não portadores de diploma universitário é parte de uma atitude de distanciamento em relação a contratações antiquadas baseadas em capacitações formais – concentradas em realizações no campo da instrução acadêmica de todos os tipos – em favor de recrutar pessoas com base em suas competências e potencial.
Josh Graff, diretor executivo do LinkedIn para Europa, Oriente Médio e América Latina, sustenta que quando os recrutadores examinam competências e potencial, estão com isso abrindo muitas carreiras profissionais tradicionalmente fechadas a não portadores de curso superior (e ele é um deles – Graff abandonou a universidade).
Seu conselho aos que deixaram a universidade e resolveram trabalhar, em vez de procurar obter diploma de curso superior, é “pensar nas capacitações que você possivelmente já tenha, e não subestimá-las. Por exemplo, se você tem um emprego de meio período em uma lanchonete ou em uma unidade do McDonald’s, seja onde for, provavelmente você incorporou capacitações decisivas: em comunicação, em atendimento ao cliente, e elas são realmente importante para os empregadores”. (Tradução de Rachel Warszawski)
FONTE: https://valor.globo.com/carreira/noticia/2023/08/23/mercado-de-trabalho-comeca-a-se-abrir-para-quem-nao-tem-diploma.ghtml