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“O governo federal não pode fazer segurança pública sozinho”, diz Dino em lançamento de programa contra organizações criminosas

“O governo federal não pode fazer segurança pública sozinho”, diz Dino em lançamento de programa contra organizações criminosas

Ministro da Justiça fez um discurso exaltando a necessidade de uma integração federativa em torno da segurança pública e atacou “falsas polêmicas”.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), lançou nesta segunda-feira (2) o Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas – Enfoc, com a promessa de investimento de R$ 900 milhões em segurança pública.

Ao longo de seu discurso, Dino defendeu a integração federativa em torno da segurança pública, destacando que o governo Lula (PT) não pode “fazer segurança sozinho, porque a Constituição impede”. “Nesse caso da segurança pública, na articulação federativa, chamada de SUSP (Sistema Único de Segurança Pública), não se cuida de uma reconstrução, se cuida na verdade de construir o que nunca existiu. E nós estamos muito orgulhosos por termos traçado um rumo e nele permanecido, e ao mesmo tempo a humildade para fazer o processo participativo permanentemente. A Constituição de 88 definiu os órgãos de segurança pública. Lá estão os órgãos e as competências, e faço questão de lembrar essa premissa porque ela é inafastável e porque parece que ela é olvidada em certas análises. Diferente do que aconteceu nas políticas públicas de saúde e de educação, em que a integração federativa está no núcleo da Constituição desde 88, no caso da segurança isso nunca se colocou, infelizmente. Foram precisos 30 anos para que fosse votada a Lei 13.675, que é a lei que institui o Sistema Único de Segurança Pública. Em 2018 essa lei foi aprovada. Essa lei cria o SUSP e a Política Nacional de Segurança Pública. Vejo perplexo a cobrança reiterada de que em 2023 eu simplesmente pegasse essa lei e jogasse no lixo, porque dizem estes que nós devemos ter um plano nacional de segurança pública. Ora, ela já existe. É uma lei. Queriam o quê? Que nós parássemos para rediscutir? Isso seria construtivo? Isso seria sério? Isso seria eficiente? Claro que não. O que nós fizemos? Complementar essa política nacional e implementá-la, concretizá-la pela primeira vez na nossa história, em nove meses, porque nos últimos quatro anos nada – ou quase nada – foi feito para tirar a lei do papel”.

Se dirigindo a secretários estaduais de segurança e comandantes das Polícias Militares, Dino afirmou: “nós precisamos de vocês. O governo federal não pode fazer segurança pública sozinho, porque a Constituição impede. E por isso precisamos trabalhar com os estados, inclusive para que vocês nos ensinem. Qual autoridade que eu tenho de chegar lá na Bahia e dizer o que é o certo? Eu tenho que conversar com a equipe que está lá na Bahia”.

O ministro negou também que o lançamento do programa teria sido uma resposta política à crescente crise de violência na Bahia. “Esse plano está sendo construído há três meses, portanto ele não é uma resposta às crises, mas ele é útil. E qual é o centro da nossa preocupação neste programa? O nome diz: enfoque contra organizações criminosas a partir de um duplo pilar, inteligência e investigação. É um programa em que a nossa equipe vai trabalhar muito fortemente com as polícias judiciárias”.

Dino também atacou o que chamou de “falsas polêmicas”. “A primeira: repressão versus prevenção, como se fosse conceitos antinômicos. A repressão é prevenção e a prevenção faz parte da atividade de enfrentamento ao crime. E por essa visão nós Lançamos o Pronasci, para dizer mais uma vez que não existe política de segurança pública sem prevenção e fatores sociais A outra falsa polêmica é entre planejamento e ação, como se houvesse um momento mágico em que o mundo para, nós editamos uma portaria, o mundo fica parado e nós vamos planejar, depois agir. Não temos essa opção porque ela não existe. Sou acusado hoje, e gosto muito do debate, de fazer ações paliativas e pontuais. Não sei o que significa isso. Talvez signifique o seguinte: nós assumimos, no dia 8 de janeiro uma horda de golpistas resolve destruir a democracia e eu ia dizer ‘não, isso não é comigo, porque isso é uma ação pontual e paliativa’. Dez dias depois, estoura a crise dos ianomâmi em Roraima e eu nada faria, a Polícia Federal, a PRF, porque eu ia dizer ‘isso é uma ação pontual e paliativa, eu estou planejando’. Polícias: outra falsa contradição. As polícias estão sempre certas; as polícias estão sempre erradas. Quem disse isso? E é isso que está no debate público. Exageros, extremismos. E nós não podemos incorrer nisso. Não é verdade que as polícias estão sempre certas, e é injusto dizer que as polícias estão sempre erradas. Nós precisamos apoiar e qualificar as polícias, e é isto que estamos fazendo. A outra contradição falsa é entre inteligência e força. Quando o uso da força infelizmente se revela ineficaz, vem essa palavrinha mágica, ‘inteligência’, como se fosse uma espécie de pedra filosofal que fosse resolver todos os problemas. Nós temos como fazer a segurança apenas sabendo o que está acontecendo? Não. Nós temos que incidir sobre a realidade. É falsa a ideia de que todos os problemas de segurança do país vão se resolver apenas com inteligência ou apenas dando tiro a esmo”.

FONTE:

https://www.brasil247.com/brasil/o-governo-federal-nao-pode-fazer-seguranca-publica-sozinho-diz-dino-em-lancamento-de-programa-contra-organizacoes-criminosas