Os dados mensais do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) são voláteis, assim como são muitas das análises que se apoiam nele. O IBC-Br é uma medida da marcha da atividade econômica e o resultado de maio, divulgado nesta segunda-feira (17), veio fortemente negativo. A atividade, na medida do indicador, recuou 2% em maio, na comparação com abril.
Identificado como uma “prévia do PIB”, o IBC-Br de maio aparece como o botão que fará disparar a impressão de que, depois da surpresa positiva do primeiro trimestre, a atividade tende a ratear no restante do ano. No primeiro trimestre, mais de 80% em função do excepcional resultado do setor agropecuário, a economia cresceu 1,9%, o equivalente a uma expansão anualizada “chinesa” de 7,8%.
Previsão é de estagnação trimestral
O exagero do pessimismo do início do ano, que deu lugar ao exagero do otimismo pós-primeiro trimestre, deve agora se acomodar numa avaliação mais realista. O crescimento nos próximos trimestres, em comparação com os anteriores, será de estagnação, de acordo com as projeções. O crescimento do ano, que deve ficar por volta de 2%, podendo chegar a 2,5%, conforme as previsões, refletiria, apenas o transbordamento do crescimento entre janeiro e março.
Mais recentemente, as estimativas de ritmo de atividade trimestral estagnada ganharam alguma expectativa de que o resultado efetivo acabe sendo um pouco melhor. Isso se deve às iniciativas do governo com a adoção de uma série de programas de impulso do consumo. Pode-se listar, entre outros:
- Programa do carro “popular”;
-
Retomada e ampliação do Minha Casa, Minha Vida, na construção civil;
-
Desenrolamento do programa Desenrola, de redução de dívidas;
-
Estímulos anunciados à compra de eletrodoméstico;
-
Programa “Novo PAC”, de retomada de obras de infraestrutura.
Esperada, por diversos motivos, a queda da atividade em maio foi bem superior às previsões. A média das projeções indicava estabilidade em maio, na comparação com abril. O recuo mais forte levou analistas a já começar a encomendar uns baldes de água fria sobre as expectativas otimistas em excesso, que vinham se generalizando.
Apostas em corte maior na Selic
Sinal de de que o otimismo do presente corre riscos de reversão no futuro próximo pode ser encontrado na mudança de opinião quanto ao nível do corte da taxa básica de juros (taxa Selic) previsto para a reunião de agosto do Copom (Comitê de Política Monetária). Até se conhecer o IBC-Br de maio, as apostas majoritárias era de que o ciclo de cortes começaria com 0,25 ponto percentual. Depois do IBC-Br de maio, previsões avançam para redução de 0,5 ponto.
O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, engrossou o coro dos que pegaram carona no número, indicaram problemas no ritmo de atividade e já sacaram que a Selic tem de cair mais rápido e mais forte:
“A pretendida desaceleração da economia pelo Banco Central chegou forte. Precisamos ter muita cautela com o que pode acontecer se as taxas forem mantidas na casa de 10% o juro real ao ano. É muito pesado para a economia”. Fernando Haddad, ministro da Fazenda
É mais do que sabido que juros básicos nas alturas, e por tempo prolongado, costumam, sim, ajudar a sufocar a atividade econômica. A taxa Selic nominal de 13,75% ao ano, mantida desde agosto de 2022, pelos efeitos cumulativos e defasados da política monetária, é elemento importante nas dificuldades atuais da economia.
FONTE:
https://economia.uol.com.br/colunas/jose-paulo-kupfer/2023/07/17/recuo-forte-do-ibc-br-em-maio-aciona-reducao-do-otimismo-com-a-economia.htm