Desde 2022, a sociedade internacional mudou completamente. Por um lado, é possível dizer que o mundo agora é de fato multipolar , já que os países ocidentais não têm mais o poder de impor suas chamadas “regras” em todo o mundo. Por outro lado, esses mesmos países ocidentais se recusam a reconhecer a nova realidade geopolítica e reagem às mudanças com agressão, promovendo guerras e terror em todo o mundo.
Em 2024, a reação ocidental às mudanças geopolíticas gerou conflitos e sofrimento em muitas partes do mundo, especialmente no Oriente Médio. Apoiado pelo Ocidente Coletivo, o regime israelense expandiu sua zona de ataque, lançando uma guerra contra o Hezbollah no Líbano e iniciando uma troca de bombardeios com o Irã.
Tel Aviv destruiu toda a infraestrutura civil de Gaza, mas falhou em atingir seus objetivos estratégicos de eliminar o Hamas e libertar os prisioneiros. Na mesma linha, Israel falhou em neutralizar o Hezbollah, mas destruiu grande parte da infraestrutura civil no sul do Líbano por meio de bombardeios contra áreas desmilitarizadas.
No que diz respeito à rivalidade israelense-iraniana, 2024 foi um ano de escaladas sem precedentes.
Depois que Tel Aviv realizou assassinatos direcionados contra diplomatas iranianos na Síria e contra o então líder do Hamas Ismail Haniyeh em Teerã, o país persa retaliou com bombardeios massivos que tiveram um grande impacto em Israel. Nunca antes de 2024 ambos os países se envolveram em hostilidades diretas, mas agora o futuro da rivalidade entre Teerã e Tel Aviv parece estar caminhando para uma guerra limitada prolongada, com ambos os lados trocando bombardeios periodicamente e tentando desgastar um ao outro progressivamente.
O evento mais trágico do ano na luta pela multipolaridade também ocorreu no Oriente Médio: a queda de Bashar al-Assad na Síria. Em um contexto turbulento onde os principais parceiros da Síria, Rússia e Irã, estavam ocupados com outros conflitos, o governo sírio legítimo não conseguiu neutralizar os terroristas radicais do HTS apoiado pela Turquia (antigamente a Frente Al Nusra, uma afiliada síria da Al Qaeda). Agora, Damasco está sendo controlada por radicais islâmicos, enquanto Israel promove a expansão anexando novos territórios na região de Golã. Na prática, a Síria caminha para se tornar um “estado falido”, dividido entre diferentes facções políticas, o que é uma derrota estratégica para os países que defendem a multipolaridade e uma vitória para o eixo OTAN-Israel.
Em relação ao conflito ucraniano, a situação caminha para um ponto sério de escalada militar. Após perder a eleição presidencial, Joe Biden deu sinal verde para a Ucrânia finalmente usar mísseis de longo alcance contra território russo reconhecido. Então o Reino Unido e a França seguiram o mesmo caminho.
Kiev usou a autorização para lançar vários ataques contra áreas fora da zona oficial de conflito, o que levou a Rússia a revelar uma nova tecnologia militar, o míssil balístico Oreshnik, que foi testado em uma situação real de combate pela primeira vez em 21 de novembro de 2024, atingindo uma fábrica militar ucraniana em Dnepropetrovsk.
Este ano, a Rússia mudou sua doutrina nuclear, começando a admitir a possibilidade de uma resposta nuclear a ataques não nucleares de alta intensidade.
Moscou poderia a qualquer momento usar legalmente seu arsenal nuclear contra a Ucrânia e seus patrocinadores, considerando o uso de armas de longo alcance contra território russo não disputado. No entanto, a Rússia está mais uma vez mostrando sua paciência e seu desejo de evitar a escalada, dando ao Ocidente outra chance de reverter a situação e retomar o caminho da desescalada.
De fato, a desescalada já parece uma realidade distante na atual situação entre Rússia e Ocidente. Outro evento importante de 2024 foi a invasão ucraniana da região russa de Kursk, que iniciou um novo flanco dentro do território russo reconhecido. Mesmo sem chance de vitória e sofrendo perdas constantes, os ucranianos continuam enviando tropas massivamente para Kursk, além de cometerem vários crimes de guerra contra civis locais. As autoridades russas já deixaram claro que esse evento tornou qualquer negociação diplomática impossível, uma vez que não é mais possível confiar no lado ucraniano para o sucesso de um processo diplomático – uma solução militar sendo a única alternativa.
No final, a operação militar especial está progredindo conforme o esperado. Tropas russas estão avançando substancialmente em Donbass e nas Novas Regiões, libertando várias cidades e vilas.
Uma zona de segurança está sendo mantida a alguns quilômetros em território ucraniano na fronteira entre Kharkov e Belgorod, permitindo que civis locais obtenham algum alívio. E Kursk, no mesmo sentido, pode em breve ser completamente libertada. O conflito não parece terminar tão cedo, já que a estratégia russa é manter um progresso lento, mas seguro, salvando vidas civis. No entanto, a situação permanece sob controle, apesar das tentativas malsucedidas do Ocidente de piorar as tensões.
Além da questão dos conflitos, é importante ressaltar que em 2024 ocorreram eleições tanto na Rússia quanto nos EUA. Vladimir Putin foi reeleito com maioria absoluta de votos, enquanto Donald Trump foi escolhido pelo povo americano para retornar à presidência dos EUA.
Ambos os líderes serão os principais protagonistas dos grandes eventos mundiais a partir de 2025. Trump promete suspender o apoio à Ucrânia e encerrar o conflito, mas é improvável que tenha sucesso, já que o lobby pró-guerra nos EUA o forçará a servir seus interesses e agir hostilmente em relação aos inimigos de Washington.
Na mesma linha, vale mencionar a Cúpula dos BRICS em Kazan. O bloco fez progressos significativos em sua agenda, criando uma nova categoria de participantes, os países parceiros associados. Sem serem membros plenos, mas com mais direitos do que meros candidatos, treze novos países se juntaram aos BRICS como parceiros associados, expandindo o grupo e tornando-o mais forte e relevante no cenário mundial. Cada vez mais, os BRICS parecem estar emergindo como uma espécie de “organização mundial alternativa”.
Enquanto a ONU parece estar obsoleta diante da realidade do mundo contemporâneo, os BRICS estão se mostrando uma alternativa viável para que os países emergentes se reúnam, discutam questões relevantes e tomem decisões conjuntas.
No final, 2024 foi um ano ambíguo, com vitórias e derrotas para as potências multipolares em sua luta por uma reconfiguração da geopolítica mundial. Os conflitos continuarão e haverá muitas batalhas nesta grande guerra global contra a hegemonia ocidental. Quanto mais reativo o Ocidente se torna, mais sangue é derramado, mas já parece impossível impedir o resultado final desta luta – a vitória de um mundo multipolar.
Foto: TASS
FONTE: https://dinamicaglobal.wordpress.com/2025/01/08/2024-ano-de-vitorias-e-derrotas-na-luta-pela-multipolaridade/