Associação Brasileira dos Jornalistas

Seja um associado da ABJ. Há 16 anos lutando pelos jornalistas

2025 será um dos anos mais conturbados da história, diz Pepe Escobar

Especialista em geopolítica avalia cenários de conflito e o fortalecimento dos BRICS para o próximo ano.

247 – O jornalista e analista internacional Pepe Escobar acredita que 2025 terá momentos críticos capazes de redefinir não apenas os próximos doze meses, mas também todo o restante da década e até além dela. “O ano que vem vai ser um dos anos mais conturbados e mais difíceis da história”, disse ele, no vídeo “2025: o choque do futuro” no YouTube.

As declarações surgem em meio às perspectivas sobre o conflito na Ucrânia, o papel dos BRICS na geopolítica global e a possibilidade de Donald Trump voltar ao poder nos Estados Unidos, redesenhando acordos e interesses globais.

Escobar, que acompanha de perto a conjuntura internacional destacou em seu Pepe Café que “os dois primeiros meses de 2025 vão ser absolutamente cruciais para definir o ano, os próximos anos, a década e talvez além”. De acordo com o analista, esse é o período em que eventos-chave podem desencadear novas negociações ou agravar tensões latentes, especialmente entre EUA, Rússia e China.

O fortalecimento dos BRICS

Para Pepe Escobar, 2024 foi “o ano dos BRICS”, numa referência à presidência russa e ao intenso trabalho de articulação que aproximou países emergentes e reforçou a importância do bloco no tabuleiro global. “Esse ano como vocês sabem, um pequeno recap desse ano que é fundamental. Esse foi o ano dos BRICS”, pontuou, ressaltando que houve mais de 200 encontros com grupos de trabalho e diversas iniciativas conduzidas por Serguei Ryabkov, vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia.A próxima presidência do BRICS estará com o Brasil em 2025, e Escobar enfatiza que a expectativa é manter e ampliar o vigor organizacional demonstrado em 2024. “A bola estará no Brasil, nós vamos acompanhar cuidadosamente como eles vão manter o nível de empenho e de organização dos russos em 2024”, diz o analista, apontando que o fortalecimento do bloco é um elemento-chave para que o Sul Global aumente sua presença e voz nas decisões mundiais.

“Trump 2.0” e a Guerra na Ucrânia

Outra variável que Escobar destaca como determinante para 2025 é o possível retorno de Donald Trump à Casa Branca. Segundo ele, “o que vai mudar evidentemente é quem teoricamente vai estar comandando o show nos Estados Unidos”. A reorientação da política externa americana, em especial no que diz respeito ao conflito na Ucrânia, poderia acelerar uma solução negociada ou prolongar as tensões, dependendo de como Trump e o Conselho de Segurança Russo — liderado por Vladimir Putin — conduzirem eventuais conversas.“A Rússia sabe muito bem com quem está lidando e já tem uma estratégia de negociação bem alinhavada para o caso de um ‘Trump 2.0’”, analisa Escobar, pontuando que Moscou busca caminhos para encerrar o conflito, mas não aceitará uma humilhação total dos EUA. A eventual reaproximação entre russos e americanos, contudo, precisaria de um canal de diálogo sigiloso, capaz de evitar vazamentos e a consequente reação em bloco de outros atores, como a OTAN e países europeus alinhados a Washington.

Conectividade eurasiática e as novas rotas globais

O especialista lembra que, ao mesmo tempo, a Rússia e a China fortalecem projetos de integração na Eurásia, como o Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul, envolvendo Moscou, Teerã e Nova Délhi. A perspectiva é de que esses corredores logísticos e energéticos continuem a se expandir, “com a China não querendo que a guerra na Ucrânia se prolongue além de 2025”, como reforça Escobar.

Ele também aponta para a importância estratégica do Estreito de Ormuz, por onde passa 20% do petróleo global, e para a influência crescente da Turquia na Ásia Central. Por outro lado, há menções à fragmentação da Síria e à postura de Israel apoiada pelos Estados Unidos — fatores que compõem um cenário volátil no Oriente Médio, na avaliação de Escobar, podendo prolongar o que ele chama de “guerra eterna no oeste da Ásia”.

Tensão permanente e o papel de Washington

A demência guerreira da OTAN” é outro ponto elencado por Pepe Escobar, para quem o bloco ocidental, dominado pelos Estados Unidos, tende a manter uma postura ofensiva em diversas latitudes, mesmo com mudanças na Casa Branca. Para ele, o movimento global do “combate eterno” contra inimigos variáveis faz parte do DNA estratégico de Washington, algo que qualquer governo norte-americano ainda terá dificuldade de alterar por completo.Entretanto, Escobar acredita que “Trump não fará guerra contra o Irã para satisfazer os interesses israelenses”, a menos que o Irã ameace diretamente os EUA. Para o analista, a Síria se tornou um exemplo da política americana de “anarquia total”, deixando o país em ruínas sob a ocupação de diversos grupos, enquanto o petróleo sírio segue sendo explorado pelos EUA. “É sempre a mesma estratégia de dividir para reinar”, conclui.

Expectativas e despedida

Ao final da entrevista, Pepe Escobar revela que se retirará por alguns dias para a Itália, “uma espécie de pausa” em sua rotina, onde costuma traçar planos e iniciar projetos para o ano seguinte. “Apertem os cintos porque o ano que vem vai ser um dos anos mais conturbados e mais difíceis da história desse jovem e turbulento século XXI”, alerta, convidando seus seguidores a acompanhá-lo em suas próximas análises sobre os rumos de 2025.

Esse é o cenário que vamos começar a viver em 2025 já a partir de janeiro. Os dois primeiros meses vão ser fundamentais para o destino do ano e o destino do resto da década.”

Foto: Brasil247

 

FONTE: https://www.brasil247.com/mundo/2025-sera-um-dos-anos-mais-conturbados-da-historia-diz-pepe-escobar