Crise em Brasília nasce da ofensiva contra o coração do crime organizado e desorganiza as elites que dependem desse dinheiro para influenciar o Estado em 2026.
Enquanto o Congresso encena uma rebelião e tenta transformar tensões institucionais em espetáculo político, a verdadeira guerra ocorre fora do alcance das câmeras. A PF atingiu, pela primeira vez, os fluxos bilionários que conectam facções, operadores de mercado, intermediários do poder e interesses estrangeiros. É essa ruptura — e não a disputa visível — que move a batalha híbrida que decidirá quem controla o Brasil em 2026.
Nota do autor
Enquanto eu concluía este artigo, a Polícia Federal prendeu Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O fato não é um detalhe lateral, mas a confirmação em tempo real do movimento que descrevo nas próximas páginas. A PF está avançando sobre figuras centrais do tabuleiro político, rompendo a fronteira que historicamente separou o crime econômico das estruturas de poder institucional. Quando a elite política começa a ser alcançada pelas investigações, a crise deixa de ser retórica e passa a ser estrutural. A notícia reforça a tese central deste texto: o país assiste não a um conflito institucional isolado, mas à reação desesperada de um sistema que está, pela primeira vez, sendo obrigado a enfrentar seu próprio subterrâneo financeiro e político.
O país olha para o lugar errado
A crise que tomou Brasília em novembro e dezembro de 2025 não nasceu da indicação de Jorge Messias ao STF, nem da disputa entre Senado e Planalto, nem da sucessão de pautas-bomba que paralisou o Congresso. Esses elementos existem, produzem ruído e mobilizam manchetes, mas funcionam como narrativa de superfície. O que move a explosão política é outra coisa, muito mais profunda e estrategicamente decisiva: pela primeira vez na história recente, o governo federal decidiu enfrentar o coração financeiro do crime organizado, e o Congresso reagiu como se sua própria sobrevivência estivesse em jogo.
Enquanto Brasília discute procedimentos regimentais e travas institucionais, a Polícia Federal, a Receita e o Ministério da Justiça executam uma ofensiva inédita contra estruturas bilionárias que sempre operaram na sombra. Não se trata de grandes operações simbólicas, mas de uma mudança de paradigma: investigar quem financia, lucra, legaliza e protege o dinheiro do crime. Quando o Estado mira os operadores que circulam entre facções e elites econômicas, a temperatura política sobe instantaneamente.
A tensão institucional, portanto, não é causa. É efeito. O que o país assiste não é um conflito entre poderes, mas a reação de grupos que sempre dependeram da opacidade financeira e da fragilidade regulatória para manter influência política e econômica. A crise é, na verdade, a primeira etapa de uma disputa muito maior que se estenderá até 2026 e que definirá se o Estado brasileiro continuará vulnerável a interesses paralelos ou se recuperará o controle sobre o dinheiro que molda seu destino.
A virada estratégica do governo Lula
O governo Lula sabia que 2026 seria o ano em que a guerra híbrida atingiria seu grau máximo no Brasil. As eleições ocorrerão sob a convergência inédita de desinformação avançada, capital especulativo operando politicamente, crime organizado com presença estruturada na economia formal e plataformas digitais preparadas para amplificar qualquer narrativa de colapso institucional. Diante desse cenário, o Planalto tomou a decisão que moldaria toda a crise atual: abandonar a postura defensiva e acionar o Estado em modo ofensivo.
A virada não ocorreu por impulso, mas por cálculo. Após dois anos medindo o comportamento das elites políticas, observando a reorganização da extrema direita global e analisando a evolução das operações do crime organizado, Lula e sua equipe concluíram que não haveria estabilidade possível sem atingir diretamente a fonte do poder paralelo que influencia o país há décadas. Não bastava prender lideranças de facções, apreender armas ou fechar laboratórios. Era necessário atacar a engrenagem que sustenta tudo: o sistema financeiro informal, as cadeias logísticas legalizadas e os intermediários sofisticados que garantem que o dinheiro sujo circule com aparência de normalidade.
Foi nesse ponto que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal receberam sinal verde para operar com profundidade inédita. Não se tratava apenas de intensificar investigações, mas de mudar o eixo da política criminal brasileira. A estratégia era clara: se a guerra híbrida para 2026 viria com força total, o Estado responderia desmontando a infraestrutura financeira que alimenta a desinformação, financia candidaturas opacas, compra influência e ancora a instabilidade crônica do país.
Essa decisão, por si só, redefiniu o tabuleiro político. Ao cruzar a linha que nenhum governo anterior cruzou, Lula levou o conflito para o terreno onde ele sempre existiu, mas nunca havia sido nomeado à luz do dia. E foi exatamente nesse momento que Brasília explodiu.
O que a PF atingiu (e por que isso mudou tudo)
A PF não abalou o país porque prendeu traficantes. Ela abalou o país porque encontrou seus banqueiros. Pela primeira vez, o Estado brasileiro entrou no território proibido onde facções, empresas, operadores financeiros e intermediários de alto nível se encontram. O alvo não foi a periferia do crime, mas o seu centro nervoso: um sistema sofisticado de lavagem estruturado em redes legais de combustíveis, transportadoras, fintechs, fundos de investimento, distribuidoras e cadeias logísticas usadas para dar aparência regular a fluxos bilionários.
As operações recentes não expuseram apenas fraudes fiscais ou sonegação industrial. Expuseram a arquitetura de um mercado paralelo que movimenta capital com eficiência superior à de muitas instituições financeiras formais. Postos de combustíveis funcionavam como caixas de lavagem; fintechs operavam como bancos clandestinos conectados a facções; refinarias privadas e grandes transportadoras integravam engrenagens que trocavam combustível por dinheiro vivo; fundos e consultorias ofereciam blindagem contábil com selo de respeitabilidade corporativa. Nada disso acontece sem a participação de segmentos do topo da pirâmide econômica.
Ao atingir esses esquemas, a PF tocou em elos que ligam crime organizado, elite empresarial, operadores políticos e interesses externos. A ofensiva ameaçou cadeias que financiam campanhas, irrigam estruturas partidárias, influenciam votações e estabilizam projetos de poder paralelos ao Estado formal. Quando o dinheiro sujo deixa de circular com a fluidez habitual, Brasília entra em convulsão. Não porque o crime esteja acuado, mas porque quem vive da interseção entre crime e política perdeu a blindagem.
A reação violenta do Congresso não nasce da pauta do STF. Nasce da percepção de que a PF atravessou a fronteira simbólica que sempre protegeu os intocáveis. E, uma vez atravessada, essa fronteira não volta ao lugar.
O Congresso como trincheira das elites atingidas
A rebelião do Congresso não é um acidente institucional. É uma reação coordenada de sobrevivência. Quando a PF atingiu a engrenagem financeira que conecta facções, operadores econômicos e intermediários políticos, a resposta não veio das ruas nem dos mercados; veio das mesas de comando do Legislativo. Pautas-bomba, sabotagens regimentais e a súbita aversão à indicação de Jorge Messias foram mobilizadas como instrumentos de pressão para conter o avanço das investigações. Não se trata de prerrogativas do Senado. Trata-se de pânico.
O Congresso se converteu na linha de frente porque é ali que os interesses atingidos encontram abrigo imediato. Bancadas financiadas por redes empresariais envolvidas em esquemas de combustíveis, grupos ligados à logística e ao varejo de alto risco, parlamentares com histórico de proximidade com operadores financeiros e segmentos do bolsonarismo que dependem da economia subterrânea para sustentar sua estrutura digital reconheceram o perigo antes de qualquer outro ator político. Se a PF continuar seguindo o dinheiro, alcançará pessoas, contratos e campanhas que transitaram por Brasília nos últimos quinze anos.
Nesse contexto, Messias virou uma distração conveniente. A disputa pública sobre a sabatina funciona como biombo para a disputa real: controlar ou enfraquecer a PF, limitar sua capacidade de atingir novas camadas do sistema e forçar o governo a negociar recuos estratégicos. A tática é simples e antiga. Quando o Estado se aproxima demais do dinheiro proibido, produz-se uma crise institucional para deslocar o foco, criar chantagem e empurrar o Executivo para a defensiva.
O que diferencia 2025 de outros momentos é que o governo não recuou. E isso transformou o Congresso na arena central de uma guerra que já não é sobre leis, votos ou ritos, mas sobre quem dita os limites da ação do Estado: o interesse público ou os donos da economia invisível.
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Foto: Agência Brasil
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/a-batalha-invisivel-de-2026-pf-congresso-e-o-dinheiro-que-move-a-guerra-hibrida