Presidente defendeu a ciência como ferramenta essencial para orientar as decisões globais e cobrou compromisso na abertura da conferência em Belém.
247 – Na abertura da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada em Belém (PA) nesta segunda-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso firme em relação ao combate das mudanças climáticas. Diante de delegações de todo o mundo, ele pediu ações imediatas imediata para enfrentar a crise climática e combater as desigualdades agravadas pelos desastres ambientais. Lula também defendeu a ciência como ferramenta essencial para orientar as decisões globais e a cobrança por medidas efetivas de mitigação já acordadas em conferências anteriores.
“A mudança do clima já não é ameaça do futuro”
Lula alertou que o planeta já vive as consequências da crise ambiental e citou tragédias recentes, como o tornado que atingiu o Paraná e o furacão Melissa, no Caribe. “A mudança do clima já não é ameaça do futuro. É uma tragédia do presente”, afirmou. “Das secas e incêndios na África e na Europa às enchentes na América do Sul e no Sudeste Asiático, o aumento da temperatura global espalha dor e devastação, especialmente entre as populações mais vulneráveis.”
O presidente classificou a emergência climática como “uma crise de desigualdade”, explicando que ela “aprofundou a lógica perversa que define quem é digno de viver e quem deve morrer”. Segundo ele, “mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela tragédia”.
A “COP da verdade” e o papel da ciência
Lula ressaltou que esta será “a COP da verdade”, marcada pela necessidade de enfrentar o negacionismo e a desinformação. “Os obscurantistas rejeitam não só evidências da ciência, mas também o multilateralismo. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, disse.
O presidente destacou ainda que Belém se tornou “o coração do mundo”, ao sediar o evento na Amazônia, região que simboliza a luta global por justiça climática e preservação ambiental.
André Corrêa do Lago assume presidência da COP30
Durante a cerimônia, o embaixador André Corrêa do Lago assumiu a presidência da COP30, sucedendo Mukhtar Babayev, do Azerbaijão. “Estamos reunidos aqui para tentar mudar as coisas. O ser humano é essencialmente bom, mas é capaz de coisas terríveis, como a guerra”, afirmou. “A ciência, a educação e a cultura são o caminho que temos que seguir.”
O diplomata destacou a importância do “mutirão”, palavra de origem indígena que simboliza o esforço coletivo. “É através do mutirão que vamos implementar as decisões desta e das anteriores COPs”, afirmou Corrêa do Lago.
Acordo de Paris e urgência climática
Lula lembrou que o Acordo de Paris pavimentou o caminho para o futuro, mas alertou que o progresso é lento. “Sem o Acordo de Paris, o mundo estaria fadado a um aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século. Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada”, advertiu. O presidente reforçou que romper a barreira de 1,5°C de aumento médio global seria “um risco que a humanidade não pode correr”.
Chamado de Belém pelo Clima
O discurso incluiu o lançamento do Chamado de Belém pelo Clima, documento que propõe ações em três eixos: cumprimento das metas de redução de emissões (NDCs), fortalecimento da governança global e centralidade das pessoas nas políticas climáticas. “Convoco a comunidade internacional a colocar as pessoas no centro da agenda climática”, declarou Lula.
Ele destacou o impacto desproporcional da crise sobre mulheres, afrodescendentes, migrantes e povos tradicionais, defendendo o papel dos territórios indígenas como fundamentais na mitigação dos efeitos climáticos.
Amazônia como símbolo e legado da COP30
Ao encerrar seu discurso, Lula homenageou o povo paraense e a realização da conferência na Amazônia. “Quem só vê a floresta de cima desconhece o que se passa à sua sombra. O bioma mais diverso da Terra é a casa de quase 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas”, disse.
O presidente enfatizou que o evento deixará legados permanentes para Belém, com investimentos em infraestrutura e valorização da cultura local. “Espero que a serenidade da floresta inspire em todos nós a clareza de pensamento necessária para ver o que precisa ser feito”, concluiu Lula, após apresentações culturais com Fafá de Belém e a ministra da Cultura, Margareth Menezes.
Foto: Ricardo Stuckert / PR
FONTE: https://www.brasil247.com/cop30/a-crise-climatica-nao-e-ameaca-do-futuro-e-tragedia-do-presente-diz-lula-na-abertura-da-cop30