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A Era das “Bolhas Sociais”

As mentiras contadas nas Redes Sociais agora têm o objetivo claro de nos manipular para nos prender em “bolhas”, ou seja, de nos “embolhar”.

Com a chamada Era da Pós-Verdade, que em realidade é a era da total e completa mentira, surgiu também o conceito de “bolhas sociais”, as quais estão presentes nas mais variadas Redes Sociais que conhecemos. As mentiras contadas nas Redes Sociais agora têm o objetivo claro de nos manipular para nos prender em “bolhas”, ou seja, de nos “embolhar”.

Esse neologismo, “embolhar”, significa especificamente: enclausurar; aprisionar. E este aprisionamento é feito em uma das variadas “bolhas” ideológicas que hoje existem nas redes sociais, as quais estão mais para seitas políticas do que para militância.

O objetivo de nos “embolhar” é facilitar, ao que manipulada a nossa opinião, ganhar algum tipo de monetização sobre nós (os encarcerados nas “bolhas sociais”), pois quando estamos encarcerados nas “bolhas” é mais fácil nos apresentar produtos para compra. Esses produtos atualmente podem ser livros, cursos, palestras, meros “clickbaits” e demais produtos que ele, o manipulador, queira nos vender.

Hoje em dia, as Artes Cênicas estão mais presentes nas análises políticas do que o jornalismo. Notem, a comunicação política está cada vez mais teatral. O intuito disso é nos capturar para nos enclausurar nas “bolhas sociais” através da manipulação de nossas emoções. Motivo pelo qual o Neuromarketing está sendo usado constantemente na comunicação política. Não é incomum vermos comunicadores utilizando palavras em inglês para caprichar nesta teatralidade. Assim comumente ouvimos palavras do tipo: “Deep State”, “Prox War”, “Hybrid War”; “Player”; por exemplo, no vocabulário dos analistas, digo, manipuladores (geo) políticos. Também não tem sido raro vermos esses “analistas” dizendo que receberam um “vazamento” de alguma agência de inteligência internacional ou de algum funcionário de uma diplomacia estrangeira. Ou seja, vale tudo para ativar os gatilhos necessários para nos manter presos nas “bolhas sociais”.

Vários gatilhos estão sendo utilizados nas “bolhas” por estes “analistas” para nos fazer sentir prazer, medo, raiva, etc. Esses gatilhos atuam diretamente nos nossos hormônios e neurotransmissores para produzir a emoção adequada para nos manter emocionalmente dependentes e consequentemente presos nestas “bolhas”, lugar no qual recebemos nossas doses de emoção diária. Constantemente voltamos a nossa “bolha social” para receber as substâncias que satisfazem a nossa dependência emocional. Esse é um esquema de vício em drogas, neste caso as drogas são os nossos próprios hormônios e neurotransmissores produzidos pelos gatilhos do Neuromarketing, que estão na atualidade mantendo as pessoas emocionalmente dependentes e presas as “bolhas sociais”.

Os hormônios e neurotransmissores que são usados nas vendas de mercadorias, como por exemplo a dopamina, oxitocina, serotonina e adrenalina, agora estão sendo usados constantemente para nos vender aquilo que foi transformado em um mero produto pelas “bolhas sociais”: a política.

Para identificar os que estão aprisionados nas “bolhas” não é muito difícil, pois eles apresentam sintomas semelhantes, como por exemplo:

– Não aceitam opiniões contrárias. Inclusive se comportam com agressividade diante de opiniões contrárias;

– Se informam exclusivamente através das Redes Sociais;

– As informações que eles acessam e repassam, muitas vezes, só existem nas “bolhas” que eles frequentam;

– Dão um caráter religioso aos seus líderes políticos, os quais passam a expressar uma suposta “verdade absoluta”;

– Fornecem explicações esdrúxulas para justificar as ações de seus líderes. Algo bem parecido com a expressão: “tentam explicar o inexplicável”;

– Qualquer mídia ou pesquisa que fale contra os seus líderes é falsa. Somente o que ratifica o comportamento e as palavras de seus líderes é tido como sendo verdadeiro.

– Qualquer opinião contrária à sua “verdade absoluta” se torna alvo de algum tipo de ataque (virtual ou até físico).

Seguem algumas dicas para evitar ser mais um prisioneiro das “bolhas sociais”:

1- Não se informe através de memes ou cortes de vídeos, pois ambos são utilizados somente para propaganda ideológica e não para promover uma reflexão mais profunda da realidade.

2- Vídeos de “react” não informam, eles somente ratificam a opinião dos que os produzem, sem permitir uma opinião contrária.

3- Desconfie dos “analistas” que somente ratificam a tua própria opinião pessoal e que em nenhum momento te fazem refletir sobre uma opinião contrária.

4- Cuidado com os “analistas” que usam hipérboles para vangloriar algum líder político, exemplo:

“O Fulano é o maior estadista da História”;

“O Sicrano é o melhor ser humano que já existiu;

“O Beltrano é o maior político de todos os tempos”;

“Nunca mais veremos um ser humano tão maravilhoso como ele na face da Terra”.

5- Não leve em consideração os “analistas” que usam palavras religiosas para descrever algum líder político, exemplo:

“O Fulano é o nosso salvador.”;

“O Sicrano é o escolhido de Deus”.

“O Beltrano faz milagres para o povo.”

“Tenhamos fé nele, pois ele é uma pessoa iluminada”.

6- Evite os “analistas” que comecem a sua comunicação com expressões do tipo:

“Bomba! Bomba!”;

“Urgente!” “Urgente”;

“Acabou para Fulano!”;

“Breaking News!”

Pois estas expressões evidenciam gatilhos usados para chamar a atenção do incauto para o mundo do espetáculo manipulatório produzido pelas “bolhas”.

7- Não acompanhe os “analistas” que usem em suas “análises” expressões do tipo:

“Simples assim!”;

“Na minha humilde opinião!”

Pois estes só querem se passar por aquilo que realmente não são: humildes. Eles fazem uma análise rasa de situações complexas, as quais não acrescentam em nada, servem somente para manipular a sua opinião.

Em resumo, todo tipo de análise política que vise somente ratificar a tua opinião pessoal, sem te fazer refletir a respeito de uma visão contrária ao que você pensa, evidencia que esta análise está somente te manipulando e consequentemente te aprisionando em uma “bolha”.

Cuidado, para não se tornar um prisioneiro de uma dessas “bolhas”, pois é um caminho de difícil retorno. Elas provocam uma grande dependência emocional. Como sabemos, toda dependência é perigosa e essa que é produzida pelas “bolhas sociais” é talvez a prisão mais eficiente que o mundo virtual produziu até hoje, pois é um cárcere que não é visto como prisão e sim como libertação. Para te seduzir, as “bolhas sociais” te apresentam tudo o que você gosta de ver, ouvir e consumir. Parece muito como a casa da bruxa do conto infantil “João e Maria”. Por fora é uma casa repleta de doces maravilhosos, mas por dentro é uma gaiola cerceadora de liberdade. Cuidado! Muito cuidado para não se “embolhar”.

Foto: Freepik

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/a-era-das-bolhas-sociais