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A frente ampla está preparada para 2026? Um jogo de poder e sobrevivência

O jogo político já começou, e a extrema-direita tem um plano claro para 2026. E se Lula não for candidato? Existe um nome capaz de impedir a volta do fascismo?

A disputa política no Brasil nunca foi tão intensa. De um lado, um governo progressista tentando reconstruir o país após anos de desmonte. Do outro, uma extrema-direita que, apesar das derrotas eleitorais, se mantém forte, organizada e internacionalmente apoiada. As eleições de 2026 não serão apenas sobre economia ou gestão – serão uma batalha decisiva entre democracia e autoritarismo. O Brasil faz parte de um tabuleiro global onde as big techs, o capital financeiro e as potências estrangeiras têm interesse direto na condução política do país. O crescimento da extrema-direita não ocorre por acaso. Há uma operação internacional coordenada para desestabilizar governos progressistas, moldando a opinião pública por meio da guerra híbrida, do uso massivo de desinformação e do controle das redes sociais. O Brasil já é um laboratório dessas práticas desde 2016, quando o golpe contra Dilma Rousseff iniciou uma fase de ingerência internacional mais direta na política nacional.

Se em 2018 a máquina de fake news foi suficiente para eleger um candidato sem preparo, agora as estratégias estão mais sofisticadas. Plataformas digitais seguem desreguladas, permitindo o avanço do discurso de ódio e da manipulação política. A extrema-direita, apesar das dificuldades, segue unida e reforçada por atores globais como Elon Musk, Peter Thiel, Trump e think tanks norte-americanos, instrumentos para desestabilizar democracias pelo mundo. Diante desse cenário, a eleição de 2026 não será um jogo jogado, mas uma guerra política que exigirá máxima estratégia do campo democrático.

Lula é, sem dúvida, a maior liderança política do Brasil. Sua trajetória de lutas e conquistas o colocam como um dos poucos capazes de vencer a extrema-direita no voto popular. Mas há questões a serem consideradas: a pressão da mídia, a força da oposição e, sobretudo, sua própria saúde e desejo pessoal. Aos 81 anos, em 2026, Lula pode optar por não disputar. E se isso acontecer, o que fazer? Olhando para dentro da esquerda, a situação é preocupante. As lideranças progressistas construídas ao longo dos anos não possuem capilaridade eleitoral suficiente para vencer uma disputa nacional. Haddad, o nome mais evidente, enfrenta dificuldades de comunicação com o povo e resistência dentro do próprio governo. Seu discurso técnico não empolga as massas, e sua dependência da política econômica ortodoxa o afasta da base popular. Outras figuras relevantes na esquerda não têm projeção suficiente. O próprio PT, nos últimos anos, sabotou lideranças emergentes, deixando um vácuo na sucessão de Lula.

Sem um nome forte, o risco de derrota se torna real. Se Lula concorrer e perder, a extrema-direita consolidará sua narrativa de que superou o maior líder da esquerda brasileira. Isso teria efeitos devastadores para o campo progressista, pois não seria apenas uma derrota eleitoral, mas uma humilhação simbólica, reforçando o discurso de que a esquerda foi superada. Se Lula não concorrer, quem poderia ocupar esse espaço? O Brasil precisaria de um nome que conseguisse manter a unidade da frente ampla e impedir a ascensão do fascismo. Esse nome precisa ter trânsito no centro e na esquerda, agregando apoio político. Precisa ter experiência administrativa e capacidade de negociação, assim como faz o próprio Lula, não é mesmo? Neste momento, a única via possível para conter o fascismo é a disputa eleitoral. Não há atalhos, nem saídas mágicas: ou o campo progressista constrói uma estratégia ampla e realista para 2026, ou estará condenado a ver a extrema-direita retomar o poder. Para isso, o governo precisa dialogar com setores que vão além de sua base tradicional, mas sem jamais capitular às pressões do mercado ou se tornar refém das amarras impostas pelo liberalismo econômico. O compromisso deve ser com a soberania popular e o fortalecimento do Estado, não com os ditames do rentismo e das elites que se beneficiam da instabilidade política. Ao mesmo tempo, é preciso tensionar a esquerda, exigir que suas pautas avancem e garantir que o campo democrático não vire um mero espaço de acomodação para figuras sem compromisso com mudanças estruturais. O nome que representará esse projeto precisa ser capaz de unificar a base progressista e manter um canal de diálogo com setores conservadores que não estão alinhados ao fascismo. Essa liderança precisa ter experiência administrativa, capacidade de negociação e uma imagem associada à estabilidade e ao desenvolvimento, sem perder de vista que conter o fascismo não significa prescindir da agenda popular. Diante da incerteza do cenário, a única certeza é que 2026 não pode ser tratado como uma eleição comum. A disputa já começou e as peças do jogo estão na mesa. Agora, o leitor deve refletir: quem, na ausência de Lula, poderia impedir a extrema-direita de voltar ao poder? A resposta, cada um pode chegar por conta própria.

Se a frente democrática não encontrar um caminho sólido até 2026, o risco de uma ruptura política mais grave se torna real. A extrema-direita não apenas se fortalece eleitoralmente, mas também infiltra instituições, prepara quadros e mantém uma base radicalizada disposta a confrontar o regime democrático. Não se trata apenas de uma eleição, mas da sobrevivência de um projeto de país que pode ser colocado sob ataque direto caso o fascismo retome o poder. A história recente do Brasil já demonstrou que derrotas eleitorais para esse campo não são apenas revezamentos de governo, mas aberturas para o desmonte de direitos, perseguições políticas e a destruição do Estado como indutor do desenvolvimento nacional. Se a extrema-direita vencer, suas estratégias não se limitarão a governar dentro das regras democráticas – haverá uma tentativa de reconfiguração permanente das instituições, algo que Jair Bolsonaro tentou e, com mais tempo e articulação, um sucessor pode concluir. A esquerda e os setores democráticos não podem ignorar essa realidade. Rupturas políticas não ocorrem apenas com tanques nas ruas, mas com a corrosão lenta e estratégica do sistema democrático. Se 2026 não for tratado com a devida seriedade, o Brasil poderá entrar em um ponto sem retorno.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/a-frente-ampla-esta-preparada-para-2026-um-jogo-de-poder-e-sobrevivencia