Associação Brasileira dos Jornalistas

Seja um associado da ABJ. Há 12 anos lutando pelos jornalistas

A guerra de 2026 já começou

Lula, o povo e a disputa contra as elites que querem tomar o Brasil.

O governo desperta para a dimensão de uma guerra híbrida articulada por forças poderosas contra o Brasil e seu povo. A partir de agora, somente uma ofensiva permanente, corajosa e popular poderá reverter a destruição e garantir a reconstrução nacional até 2026.

O despertar tardio do governo e a guinada necessária

Desde a sua posse em janeiro de 2023, o terceiro governo Lula foi submetido a um bombardeio sistemático que transcende as disputas políticas ordinárias. O cerco imposto pelas elites nacionais e transnacionais, pela extrema-direita organizada e por um Congresso sequestrado por interesses oligárquicos produziu um ambiente de guerra híbrida de intensidade rara na história recente do país. Em lugar de debates institucionais transparentes, o governo enfrentou chantagens explícitas do Legislativo, manipulação judicial, campanhas permanentes de desinformação e ataques de caráter psicológico direcionados a fragilizar sua base social e política.

Durante mais de dois anos, o Planalto pareceu reagir de forma fragmentada e defensiva, hesitante em compreender que a ofensiva não era apenas pontual, mas estrutural e programática. Houve concessões, recuos, tentativas de apaziguar setores absolutamente incompatíveis com qualquer projeto desenvolvimentista e soberano. A leniência frente ao controle de pautas por Arthur Lira pelo centrão e posteriormente com Hugo Motta e Alcolumbre, a demora em consolidar a comunicação direta com as massas e a crença na possibilidade de conciliação com grandes grupos empresariais custaram caro. Esse tempo perdido fortaleceu a percepção de inoperância e ampliou o espaço para a guerra informacional da extrema-direita e de seus aliados internacionais, que mantiveram a sociedade refém de narrativas mentirosas e profundamente antinacionais.

O ponto de inflexão começou a se desenhar nos últimos dias, quando decisões do governo — como o veto presidencial à extensão do IOF, a retomada do discurso sobre a taxação dos super-ricos, a sinalização de tributação de plataformas de apostas e o enfrentamento direto às big techs — revelaram que finalmente se compreendeu a gravidade da conjuntura. A adoção de discursos duros por ministros, parlamentares aliados e pelo próprio presidente Lula, somada ao uso estratégico de inteligência artificial e narrativas proativas, indicou que a inércia foi, ao menos parcialmente, substituída por uma disposição de combate.

Trata-se de um movimento tardio, porém indispensável. O governo parece ter despertado para a constatação objetiva de que não existe saída negociada quando o adversário busca, em essência, sua destruição política e simbólica. O projeto lulista, ancorado na redução das desigualdades, na ampliação de direitos e na afirmação soberana do Brasil em um mundo fragmentado, sempre foi incompatível com os interesses de frações dominantes do capital financeiro, do latifúndio e do imperialismo global. Desde o colapso do neoliberalismo periférico e a emergência de disputas multipolares, tornou-se evidente que qualquer tentativa de reconstruir a autonomia nacional seria recebida com retaliações violentas — ainda que mascaradas sob discursos de “defesa da democracia” e “responsabilidade fiscal”.

O que emerge, portanto, é a percepção de que a única chance de êxito do governo até 2026 repousa sobre a construção de uma contraofensiva informacional, cultural e política capaz de mobilizar setores populares, tensionar as contradições do Congresso, expor o caráter antipopular de seus representantes e recolocar o povo no centro da arena política. Não há mais espaço para ilusões de conciliação. A correlação de forças é brutal. O adversário não recuará por boa vontade.

A virada que se esboça, ainda tímida, precisa ser consolidada e radicalizada, sem medo de disputar cada milímetro do imaginário social. O momento exige que o governo permaneça em estado de ofensiva permanente, pautando a agenda pública, expondo os sabotadores do interesse popular e desmascarando as elites que sequestraram parte do aparelho legislativo brasileiro. Até as urnas de 2026, cada ato, cada discurso e cada política pública deve ter como horizonte a mobilização popular e a derrota estratégica do bloco reacionário que tenta paralisar o país.

A anatomia do cerco: a estratégia das elites e do Congresso

Desde a posse de Lula em janeiro de 2023, o Congresso Nacional, sob hegemonia de forças conservadoras e extrema-direita, consolidou um verdadeiro parlamentarismo informal, onde a chantagem, a sabotagem orçamentária e a manipulação regimental transformaram a Câmara dos Deputados num centro de poder paralelo. Arthur Lira, presidente da Câmara, tornou-se símbolo desse processo ao operar como guardião dos interesses de elites financeiras, agrárias e especulativas, atuando na prática como primeiro-ministro de um regime parlamentarista de facto.

A articulação que sustenta essa configuração não se resume a Motta. Nomes como Alcolumbre presidente do senado, ou Elmar Nascimento, articulador de negociações subterrâneas do centrão, integram uma coalizão que capturou a agenda legislativa e bloqueia sistematicamente qualquer iniciativa de fortalecimento do Estado social ou de estímulo ao desenvolvimento nacional. Por trás deles, atua um lobby empresarial poderoso, reunindo desde associações do agronegócio e do setor bancário até consultorias e escritórios de advocacia especializados em defender privilégios tributários de grandes conglomerados.

Esse bloco opera com métodos próprios de uma guerra híbrida: sabota propostas populares, dissemina pânico fiscal, produz ruídos permanentes sobre a estabilidade do governo e amplia a sensação de crise artificial, tudo isso potencializado por uma máquina de comunicação poderosa. Jornais de grande circulação, redes de rádio e TV abertas, e portais digitais alinhados à elite financeira reforçam diariamente a ideia de um governo frágil, desorganizado e refém de supostos “radicais”. Nas redes sociais, impulsionamentos milionários — muitas vezes anônimos, mas rastreáveis ao agronegócio, ao mercado financeiro e a think tanks de viés ultraliberal — ajudam a manter viva a retórica antipetista, a velha cantilena anticorrupção e a deslegitimação de políticas distributivas.

O objetivo central não é apenas impedir a governabilidade cotidiana, mas inviabilizar a reeleição em 2026 e aniquilar o campo progressista enquanto alternativa histórica de poder. O discurso “responsável” que esses setores produzem, travestido de zelo com as contas públicas, nada mais é que uma estratégia de dominação de longo prazo, mantendo a engrenagem do rentismo, da precarização do trabalho e da dependência externa em funcionamento. Para isso, vale qualquer método: obstrução de pautas, chantagem por cargos, controle seletivo de CPIs, destruição de reputações e ameaças veladas de impeachment.

O aparato que sustenta essa ofensiva não é espontâneo: articula-se com interesses geopolíticos externos, particularmente a frações do capital financeiro internacional que temem um Brasil minimamente soberano e capaz de reindustrializar-se ou fortalecer políticas sociais de longo prazo. A integração entre elites brasileiras submissas, lobbies estrangeiros, big techs e influencers digitais cria um campo de batalha em que a manipulação da informação é tão importante quanto as negociações regimentais.

Frente a esse cerco, o governo não pode alimentar qualquer ilusão de diálogo republicano pleno. Ainda que a negociação pontual seja necessária para aprovar medidas urgentes, a estrutura de poder instalada no Congresso hoje é, objetivamente, hostil ao interesse popular e ao projeto de soberania nacional. Somente a mobilização política e cultural massiva pode deslocar essa correlação de forças e expor ao povo quem são os verdadeiros inimigos de seus direitos.

O campo de batalha informacional: a guerra psicológica em curso

Se a guerra híbrida contra o governo Lula se expressa no plano institucional por meio do cerco parlamentar, no plano simbólico ela se materializa em uma operação psicológica de proporções massivas e permanentes. Desde antes da posse, redes articuladas de desinformação, plataformas digitais enviesadas e grupos de interesse operam em total sintonia para minar a confiança do povo nas instituições democráticas e esvaziar a legitimidade de qualquer política progressista.

Essa engenharia de percepção não surge do acaso: envolve fazendas de bots, disparos coordenados em aplicativos de mensagem criptografada, exércitos de influenciadores a soldo do agronegócio e do rentismo, além do financiamento oculto de campanhas de pânico moral e teorias conspiratórias. A pauta da “corrupção do PT” — mesmo sem provas concretas, após anos de lawfare e destruição de reputações — continua sendo ressuscitada de maneira cíclica para desacreditar o governo e confundir a opinião pública. A fórmula se repete: fake news impulsionadas via anúncios pagos, notícias distorcidas replicadas em portais e perfis de alta audiência, seguidas de enxurradas de comentários automatizados para criar a impressão de consenso contra o governo.

Neste cenário, as big techs exercem papel decisivo, seja por ação direta, seja por omissão. Plataformas como Meta, Google e X (antigo Twitter) permitem a monetização de conteúdos abertamente falsos e de ataques violentos, ao mesmo tempo, em que reduzem drasticamente o alcance de publicações progressistas sob o pretexto de “conteúdo sensível” ou “baixa relevância”. O resultado é um ambiente de debate viciado, em que a extrema-direita mantém vantagem assimétrica para capturar emoções primárias — medo, raiva, ressentimento — transformando-as em ação política antipopular.

Essa guerra psicológica não se limita ao campo virtual. Ela ecoa em rádios comunitárias cooptadas, igrejas fundamentalistas, clubes de tiro e associações patronais, que replicam a narrativa de “caos petista” e a suposta falência do Estado social. Cada boato, cada meme, cada vídeo viral não é inocente: integra um ecossistema sofisticado de ataque ao imaginário popular, gerando um estado permanente de desconfiança e desesperança. Trata-se, no fundo, de deslegitimar o princípio mesmo da democracia representativa, criando o sentimento de que “nada muda” e que “todos são iguais”, para neutralizar a força transformadora do voto.

Mais grave ainda, essa ofensiva informacional está plenamente conectada a interesses geopolíticos de grandes potências e conglomerados financeiros internacionais, para os quais um Brasil soberano, industrializado e politicamente estável representa risco de rearranjo no tabuleiro global. O papel de fundações estrangeiras, organizações de fachada e agências de lobby travestidas de ONGs precisa ser identificado como parte desse circuito de guerra híbrida, pois ajudam a formatar a opinião pública de modo a favorecer políticas de austeridade, privatização e subordinação econômica.

É neste campo — o da disputa do imaginário — que se trava hoje a batalha mais decisiva. Não basta ao governo resistir no parlamento ou garantir maioria momentânea: se não conquistar corações e mentes, se não desconstruir de forma pedagógica as mentiras disseminadas, se não retomar o sentido de pertencimento e projeto coletivo, a reação política terá fôlego curto. Só uma guerra informacional inversa, propositiva e popular, poderá romper o cerco psicológico que mantém parte da sociedade paralisada e vulnerável às teses ultraconservadoras.

A resposta do governo: passos iniciais e desafios

O recente endurecimento do governo Lula diante do cerco oligárquico e extremista marca um divisor de águas. Depois de quase dezoito meses de resistência fragmentada e reativa, começaram a surgir sinais de que a máquina governamental e a base progressista acordaram para a dimensão de guerra híbrida que enfrentam. O veto presidencial à prorrogação do IOF — um claro recado ao Congresso capturado —, a retomada do debate sobre a taxação dos super-ricos, a sinalização de taxação de plataformas de apostas, e, sobretudo, a comunicação mais assertiva de Lula e seus ministros indicam que se consolidou a percepção de que não existe espaço para concessões ilimitadas.

Um ponto especialmente relevante foi o uso de tecnologias de inteligência artificial para combater a avalanche de desinformação nas redes. Essa estratégia, ainda incipiente, precisa ser expandida e profissionalizada, articulando equipes técnicas, jornalistas, acadêmicos e movimentos sociais, de modo a criar uma verdadeira trincheira informacional popular. Também merece destaque a escolha de Lula por discursos públicos de tom mais firme, denunciando diretamente as manobras parlamentares e apontando nomes dos responsáveis pela sabotagem. Esse gesto, que poderia parecer arriscado em outros momentos, mostrou-se necessário e eficaz, pois rompe a falsa ideia de neutralidade e reacende a confiança de setores populares na capacidade de reação do governo.

Além disso, ministros estratégicos — como Fernando Haddad, Camilo Santana e Simone Tebet — passaram a falar de forma mais coordenada, alinhando narrativas e reduzindo contradições que vinham sendo exploradas pela extrema-direita para semear divisões dentro do campo progressista. Esse movimento de unidade comunicacional, somado ao esforço de aproximação com lideranças de base e movimentos sociais, sinaliza que há condições de articular, de modo mais estável, uma coalizão combativa e coerente.

Contudo, essa primeira reação ainda está longe de ser suficiente. A guerra híbrida não cessará; ao contrário, deve se intensificar à medida que se aproximar o calendário eleitoral de 2026. A oposição ao projeto de desenvolvimento nacional e redistribuição de riqueza conta com recursos praticamente ilimitados, redes globais de desinformação, financiamento empresarial de larga escala e um Congresso disposto a tudo para impedir a reconstrução do Estado social brasileiro. É, portanto, ilusão imaginar que algumas ações pontuais bastarão para vencer essa disputa.

A reação do governo precisará se tornar permanente, orgânica e popular. Não basta apenas anunciar medidas corretas: será necessário repetir, massificar, transformar em linguagem acessível e traduzir cada conquista em símbolos poderosos para o imaginário popular. Cada programa social, cada direito trabalhista recuperado, cada ação de soberania econômica deve ser apresentado como vitória do povo sobre elites sabotadoras. Isso não se faz de modo burocrático, mas com campanha pedagógica diária, capaz de ressignificar a política como projeto coletivo de libertação e dignidade.

Se Lula e sua base forem capazes de consolidar essa mudança de postura e mantê-la até 2026, terão não apenas a chance de reeleição, mas também a oportunidade histórica de reconstruir a confiança social na democracia e em um projeto nacional de desenvolvimento. É esta virada de chave — do defensivismo para a ofensiva estratégica — que define a sobrevivência política do campo progressista e a preservação de um horizonte mínimo de soberania para o Brasil.

O potencial explosivo das pautas populares como armas de guerra cultural

Em meio a um cenário de guerra híbrida, em que a extrema-direita e o bloco oligárquico tentam sequestrar o senso comum e sufocar qualquer projeto de autonomia nacional, as pautas populares emergem como munição poderosa. Não se trata apenas de implementar políticas públicas necessárias, mas de compreendê-las como instrumentos simbólicos de disputa da consciência social, capazes de reorganizar o imaginário coletivo e enfraquecer o discurso reacionário que domina parte do Congresso.

Temas como a taxação dos super-ricos, por exemplo, têm força potencial para explodir a hegemonia liberal. Pesquisas recentes indicam apoio superior a 70% da população para a cobrança de impostos mais altos sobre grandes fortunas, num país onde os mais pobres arcam proporcionalmente com muito mais tributos do que os bilionários. Transformar a taxação de super-ricos em bandeira central, com linguagem simples e exemplos concretos, pode estabelecer uma linha divisória clara entre quem defende o povo e quem protege privilégios.

A mesma lógica vale para a regulamentação do mercado de apostas online (bets), que movimenta bilhões de reais sem contrapartida social, e para a extinção da jornada de trabalho 6×1, herança da lógica escravista que ainda persiste na legislação. Essas pautas dialogam diretamente com o cotidiano da classe trabalhadora e podem catalisar indignação popular contra o Congresso, que tenta bloqueá-las para atender lobbies empresariais.

Além disso, políticas de valorização do salário mínimo, programas de habitação popular, defesa do SUS, ampliação de direitos previdenciários, políticas para juventude e educação técnica são elementos centrais que podem ser convertidos em narrativas mobilizadoras. O governo precisa compreendê-los não apenas como medidas administrativas, mas como símbolos de uma reconstrução coletiva do pacto social. São bandeiras que apontam para um Brasil digno, justo e soberano — e que devem ser marteladas sem trégua até 2026.

Nesse sentido, é vital articular campanhas de comunicação que apresentem esses temas como conquistas do povo, e não apenas como iniciativas governamentais. O PT, os movimentos sociais e lideranças populares devem apropriar-se dessa agenda e transformá-la em movimento pedagógico de massas, ensinando quem trava esses avanços e quem os defende. Esse processo exige ousadia política, clareza de discurso e a disposição de colocar o Congresso, as elites rentistas e seus representantes na defensiva.

O governo precisa entender que essas pautas são armas na guerra cultural. Cada direito conquistado, cada reforma popular, deve ser convertido em símbolo vivo de resistência contra o neoliberalismo periférico e a dominação colonial que ainda estrutura a economia brasileira. Somente assim será possível reconstruir a confiança do povo e reacender a chama de um projeto nacional capaz de mobilizar mentes e corações — condição indispensável para enfrentar a ofensiva antipopular e vencer em 2026.

As táticas de guerra comunicacional para a virada em 2026

A consciência de que o governo Lula está inserido em uma guerra híbrida precisa ser acompanhada de uma estratégia comunicacional de guerra total — contínua, articulada e popular. Não se trata apenas de reagir a ataques, mas de tomar a iniciativa, ocupando o imaginário coletivo e impondo uma agenda capaz de incendiar a esperança e desmoralizar o campo reacionário.

Para isso, é essencial combinar quatro frentes táticas de forma coordenada e permanente:

• A cultura popular — O governo e seus aliados devem investir massivamente em expressões culturais que falem a linguagem das periferias, das juventudes, do campo e das quebradas urbanas. Música, arte de rua, teatro comunitário, festivais, influenciadores culturais. Esses instrumentos podem resgatar a política como experiência de pertencimento e identidade, desconstruindo o ressentimento alimentado pela extrema-direita.

• As redes digitais com segmentação inteligente — Não basta disparar conteúdo genérico. É preciso utilizar ferramentas de análise de dados e inteligência artificial para falar de forma cirúrgica a cada público: trabalhadores urbanos, mulheres periféricas, juventudes negras, lideranças comunitárias. Cada segmento deve receber mensagens que dialoguem com sua experiência concreta e gerem senso de urgência contra a agenda antipopular.

• Os influenciadores orgânicos — A base progressista precisa abandonar a dependência de “grandes nomes” midiáticos e investir em microinfluenciadores com forte laço comunitário, que gozam de credibilidade real nos territórios. São esses agentes — líderes sindicais, professores, pastores progressistas, artistas locais — que podem traduzir a linguagem do governo em palavras compreensíveis e emocionalmente potentes.

• O resgate da militância presencial — Nenhum algoritmo substitui a presença humana. Movimentos populares, centrais sindicais, coletivos culturais e organizações de base devem ser mobilizados para a pedagogia política corpo a corpo. Isso envolve rodadas de formação política, oficinas de comunicação popular, seminários de atualização sobre a guerra híbrida, criação de núcleos de defesa da democracia nos bairros e nas universidades. É preciso construir verdadeiras trincheiras comunitárias, onde se produz análise crítica, solidariedade e capacidade de reação rápida a ataques virtuais ou narrativos.

Além dessas frentes, a comunicação precisa escolher inimigos pedagógicos claros. O povo precisa identificar quem bloqueia seus sonhos. Nomear deputados, senadores, empresários e bancos que sabotam projetos populares não é “radicalismo”, mas pedagogia política. É fundamental mostrar de forma didática e constante quem lucra com a miséria e quem luta para transformá-la.

Outro elemento crucial é reforçar que as vitórias concretas do governo são do povo, e não favores de cima para baixo. Cada aumento real do salário mínimo, cada bolsa de estudo, cada hospital entregue deve ser narrado como conquista arrancada do sistema, por meio da força popular. Só assim a massa manterá a motivação para defender o projeto até 2026.

Em síntese, a guerra comunicacional não pode ser episódica nem burocrática. Ela deve ser transformada em espírito de época: constante, popular, vibrante, ancorada na realidade objetiva e sempre projetada para derrotar a falsa neutralidade das elites. Esta é a condição para, finalmente, conquistar a virada política e simbólica que o Brasil tanto necessita.

O risco do recuo e a necessidade de ofensiva permanente

Nenhuma vitória parcial deve iludir o campo progressista sobre a natureza prolongada e implacável da guerra híbrida. O adversário — elites financeiras, agronegócio, mercado especulativo, big techs, think tanks estrangeiros e suas redes políticas — não se satisfará com derrotas pontuais. Seu objetivo estratégico permanece o mesmo: neutralizar de forma definitiva qualquer tentativa de reconstrução de um projeto nacional soberano e popular.

É exatamente por isso que qualquer recuo neste momento seria fatal. A história recente ensina, de forma dolorosa, que o progressismo brasileiro paga um preço altíssimo sempre que hesita em sustentar sua ofensiva política. Concessões simbólicas ao inimigo, sinais de “moderação” exagerada ou a busca de consensos impossíveis apenas revigoram a extrema-direita e encorajam novas tentativas de desestabilização.

O governo Lula e sua base precisam compreender que o calendário até outubro de 2026 não é apenas eleitoral — é existencial. Cada dia de recuo narrativo abre brecha para a rearticulação do bolsonarismo, para as campanhas de ódio digital, para o moralismo hipócrita de elites ressentidas e para a sabotagem legislativa que transforma a governabilidade em chantagem. O campo progressista deve atuar como força histórica que não aceita retrocessos: todo avanço social, toda política de redistribuição, toda medida de reconstrução do Estado deve ser defendida com coragem, clareza e contundência.

É necessário, portanto, instituir uma ofensiva permanente que não se limite a anúncios de governo, mas se traduza em um movimento de longo prazo capaz de reconstruir laços sociais, revitalizar a confiança na política e oferecer ao povo uma perspectiva concreta de futuro. Isso implica manter a denúncia constante dos sabotadores — apontando nomes, explicando interesses, desmontando fake news e expondo privilégios inaceitáveis — enquanto se alimenta a esperança popular com exemplos concretos de vitória e transformação.

A batalha pela hegemonia não se dá apenas no Congresso ou no Judiciário, mas, sobretudo, no imaginário popular. O governo não pode perder o controle do enredo: precisa transformar cada conquista em elemento simbólico de um novo Brasil, demonstrando ao povo que os verdadeiros inimigos são aqueles que bloqueiam seus sonhos de dignidade. Só assim será possível sustentar a mobilização e chegar às urnas de 2026 não apenas como candidatura viável, mas como projeto coletivo que transcende ciclos eleitorais e se afirma como alternativa histórica.

O risco de retroceder não se limita à derrota de Lula: significa abrir caminho para a destruição do Estado social, o desmonte de direitos trabalhistas, o entreguismo econômico e o enraizamento de um neofascismo subordinado ao capital financeiro internacional. Para evitar este destino, a ofensiva precisa ser permanente, pedagógica, corajosa — e, sobretudo, popular.

Conclusão: das palavras à vitória

O Brasil atravessa uma das disputas mais decisivas de sua história recente. Não se trata apenas de um embate entre governo e oposição parlamentar, mas de uma luta profunda entre dois projetos inconciliáveis: de um lado, a reconstrução nacional, com base em desenvolvimento, justiça social e soberania popular; de outro, a manutenção de um país submisso ao rentismo, à precarização do trabalho e à dependência externa, controlado por elites que transformaram a política em instrumento de negócios privados.

A guerra híbrida travada contra o governo Lula não é episódica nem restrita ao debate político convencional — ela é sistêmica, multiforme e articulada para inviabilizar a experiência popular e democrática. Diante dessa ofensiva, não haverá espaço para hesitações. É hora de consolidar uma linha estratégica clara, que combine políticas públicas transformadoras com uma narrativa ofensiva, pedagógica e permanente, capaz de reposicionar a confiança do povo em si mesmo e na ideia de que mudanças reais dependem de mobilização coletiva.

O governo já deu sinais de que entendeu a dimensão dessa disputa, ao endurecer seu discurso, utilizar novas tecnologias para se contrapor à desinformação e pautar temas que mobilizam amplamente as maiorias. Mas essa guinada precisa se transformar em estratégia estrutural, sem vacilos, até o último voto em outubro de 2026 — pois qualquer recuo reabrirá as portas para a sabotagem e para o fascismo social que paira no horizonte.

A história oferece raríssimas oportunidades de inflexão política. Lula, com sua experiência, carisma e senso de oportunidade, tem agora a possibilidade de liderar não apenas uma gestão, mas uma verdadeira refundação simbólica e material do Brasil. Para isso, será preciso ousadia, radicalidade estratégica, e sobretudo coragem para colocar o povo em primeiro plano, não como espectador, mas como sujeito histórico.

A vitória, neste contexto, não significa apenas vencer uma eleição, mas derrotar — no imaginário, na cultura, na economia e na política — o bloco antinacional que impede o país de existir plenamente. Somente um movimento popular forte, consciente, organizado e capaz de disputar a narrativa centímetro a centímetro poderá consolidar as conquistas e abrir caminho para um futuro soberano e digno.

O caminho foi apontado. Cabe agora transformá-lo em marcha. E manter o passo firme até a vitória.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/a-guerra-de-2026-ja-comecou