Para o especialista Ori Goldberg, ataque israelense foi uma manobra política de Netanyahu diante do cerco internacional por crimes em Gaza.
247 – O analista independente Ori Goldberg, doutor em Estudos do Oriente Médio com especialização em assuntos iranianos, afirma que o recente ataque de Israel ao Irã não teve nenhuma relação real com uma ameaça nuclear. Em artigo publicado na Al Jazeera, Goldberg sustenta que a ofensiva foi motivada por razões políticas e estratégicas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que tenta se proteger do crescente isolamento internacional e de ações iminentes da Justiça internacional.
A operação, que já dura três dias, deixou ao menos 80 mortos no Irã e 10 em Israel, segundo relatos oficiais. Apesar do alto custo humano e da gravidade do conflito, o governo israelense tem repetido que o ataque foi “preventivo” — tese desmontada por Goldberg. “O que ocorreu foi uma operação meticulosamente planejada, esperada há anos, e executada no momento que Netanyahu considerou mais oportuno para seus interesses políticos”, explica o especialista, que já foi professor universitário e consultor de segurança nacional.
De acordo com ele, não há evidências de que o Irã estivesse prestes a produzir uma bomba nuclear, nem o relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), publicado em 12 de junho, justifica qualquer ação de emergência. “Mesmo a AIEA não sugeriu a existência de uma ameaça iminente”, destaca.
Alvos civis, militares e políticos
A ofensiva israelense atingiu diversos alvos militares e governamentais iranianos, como campos de mísseis, depósitos de petróleo, instalações de gás e figuras de alto escalão. Entre os assassinados estaria Ali Shamkhani, ex-ministro da Defesa e assessor direto do líder supremo iraniano, Ali Khamenei. Embora sua morte ainda não tenha sido oficialmente confirmada por Teerã, fontes relatam que ele foi eliminado na operação. Shamkhani era peça central nas negociações diplomáticas com os Estados Unidos.
“Israel recorre frequentemente à tática de assassinatos seletivos na tentativa de desestruturar sistemas por meio da eliminação de seus líderes”, analisa Goldberg. Ele vê nesse padrão uma estratégia para sabotar as instituições iranianas e, possivelmente, interromper qualquer canal de negociação entre Irã e potências ocidentais.
A cortina de fumaça da guerra
Para o analista, o ataque não teve o objetivo real de destruir o programa nuclear iraniano, até porque isso exigiria capacidades militares que Israel não possui isoladamente. A verdadeira motivação, afirma Goldberg, está no desgaste internacional enfrentado por Netanyahu diante das denúncias de genocídio contra o povo palestino em Gaza, da ameaça de mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) e do movimento global em favor do reconhecimento do Estado palestino.
“É uma tentativa desesperada de reacender o apoio global a Israel, num momento em que a comunidade internacional começa a negar a impunidade de que o país gozou desde sua fundação”, escreve.
A lógica da impunidade
Goldberg conclui que o ataque ao Irã serve para reafirmar a concepção israelense de “segurança” como sinônimo de impunidade: a capacidade de agir militarmente onde quiser, quando quiser, sem consequências. Segundo ele, essa lógica não é nova, e sustenta as operações israelenses desde Gaza até o Iêmen, passando pelo Líbano, Síria e agora o Irã.
“Segurança”, nas palavras do analista, tornou-se “o princípio sagrado que justifica a supremacia judaica e a eliminação de qualquer ameaça percebida, real ou fictícia, sem prestar contas”.
Diante do ambiente de medo e tensão em Israel, onde a população corre para supermercados e se prepara para prolongado estado de emergência, Goldberg alerta: um povo em “modo de sobrevivência” pode fortalecer líderes autoritários, mas enfraquece qualquer projeto de sociedade democrática e saudável.
FOTO: Avash Media
FONTE: https://www.brasil247.com/ideias/analista-geopolitico-explica-por-que-israel-atacou-o-ira-e-isso-nao-tem-nada-a-ver-com-ameaca-nuclear