Poucos entenderam o real significado do ataque russo com um míssil balístico intercontinental em Dnepropetrovsk.
Esta ainda não foi a resposta russa aos ataques de longo alcance ucranianos. Em vez disso, foi ao mesmo tempo um teste e um aviso.
Este tipo de arma nunca havia sido usado antes em situação real de combate. Acima de tudo, Moscou testou uma arma nova, comprovando 100% de eficácia.
Ao mesmo tempo, temos a questão da “última chance” dada ao inimigo. Houve um aviso claro tanto para a Ucrânia quanto para o Ocidente. A OTAN entendeu que, se Putin perder a paciência, não há qualquer tecnologia capaz de impedir que o pior aconteça. E a Ucrânia viu que ninguém virá por ela.
Este tipo de lançamento é percebido por um amplo time de observadores pagos exclusivamente para isso. O Ocidente percebeu o ataque e teve que esperar para ver o resultado. Não havia como prever se o ataque incluía ou não ogivas nucleares. Se realmente estivesse interessada em levar a situação às últimas consequências, a OTAN poderia ter acionado imediatamente uma retaliação, mas não o fez.
A Rússia deu um recado claro para a Ucrânia: o Ocidente viu tudo e não fez nada. Ninguém intercederá por Kiev. Os ucranianos estão à própria sorte. Seria ótimo se eles tivessem entendido, mas há algumas horas já houve um ataque em Krasnodar.
Kiev não vai parar. A Rússia não está blefando. E o Ocidente não vai arriscar nada por um proxy descartável.
Aliás, é preciso notar: hoje, pela primeira vez na história, a Força de Mísseis Estratégicos da Federação Russa entrou em combate real.
Na Rússia existem seis forças armadas. Uma delas é a Força de Mísseis Estratégicos (РВСН/RVSN, na sigla em russo), que cuida exclusivamente dos mísseis balísticos intercontinentais.
Criada ainda nos tempos soviéticos como um ramo independente das Forças Armadas, a RVSN esteve em prontidão de combate durante os principais litígios nucleares da Guerra Fria, como a Crise dos Mísseis de Cuba e o Incidente da Noruega, mas nunca precisou chegar a uma situação de engajamento real – para sorte de todos.
Em outras palavras, o conflito na Ucrânia já alcançou uma situação de risco nuclear maior do que todas as crises da Guerra Fria.
O lema da RVSN fala por si só: “Após nós, o silêncio”(“После нас – тишина”).
O ataque em Dnepropetrovsk foi um aviso. A Ucrânia não se calou (já está atacando Krasnodar). Da próxima vez, Kiev será definitivamente “silenciada”.
FOTO: TASS – Míssil balístico intercontinental RS 26 (SS 31 Rubezh).
Autor: LUCAS LEIROZ, Jornalista brasileiro, analista geopolítico. Colunista do InfoBRICS e da Strategic Culture Foundation. Correspondente de guerra. Orgulhosamente colocado na lista negra do Departamento de Estado dos EUA.
FONTE: CANAL LUCAS LEIROZ NO TELEGRAM