Operação inédita com drones destrói bombardeiros russos e reacende temor de escalada no conflito.
No início deste mês de junho, a Ucrânia lançou um ataque inédito contra bases de bombardeiros nucleares em território russo, elevando de forma significativa o nível de tensão no conflito. Segundo fontes oficiais em Kiev, a operação — batizada de “Spiderweb” — foi planejada ao longo de 18 meses e utilizou 117 drones para atingir aeronaves estratégicas em pelo menos cinco bases militares localizadas a milhares de quilômetros da linha de frente.
De acordo com o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), 41 aeronaves russas foram danificadas ou destruídas, entre elas os Tu-95 e Tu-22M3, parte da tríade nuclear russa. Analistas mais próximos a Moscou falam em um número significativamente menor: algo entre cinco e nove bombardeiros atingidos em graus diferentes.
Os ataques atingiram bases nas regiões de Murmansk, Ryazan, Ivanovo, Irkutsk e Amur, com drones sendo montados clandestinamente dentro da Rússia e ativados simultaneamente por controle remoto.
Apesar da gravidade do episódio, o governo russo ainda não se pronunciou de forma clara sobre a resposta que pretende adotar. O presidente Vladimir Putin limitou-se a classificar o ataque como “ato terrorista” e afirmou que Moscou “responderá à altura”. O Ministério da Defesa russo confirmou apenas que houve incêndios e danos em algumas aeronaves, sem registrar vítimas. A imprensa estatal se referiu aos ataques como parte de uma ofensiva externa contra a segurança nacional russa.
O silêncio parcial do Kremlin contrasta com declarações mais diretas de outras figuras do alto escalão. O chanceler Sergey Lavrov acusou o Reino Unido de envolvimento direto na operação, sugerindo que os serviços de inteligência britânicos participaram do planejamento e execução do ataque. A acusação, rejeitada por Londres, foi interpretada por analistas ocidentais como um movimento para justificar uma possível reclassificação da guerra.
De fato, especialistas em segurança internacional avaliam que o Kremlin pode alterar o status da chamada “operação militar especial” na Ucrânia para uma “operação antiterrorista”. Na prática, isso permitiria ao governo russo ampliar poderes internos e justificar mobilizações mais agressivas, inclusive com uso ampliado de armamentos pesados e ofensivas a centros de decisão em Kiev. A medida poderia representar uma escalada militar significativa, com impacto direto sobre a relação com países da OTAN.
Nos Estados Unidos, a reação foi ambígua. O presidente Donald Trump confirmou ter mantido uma ligação telefônica com Putin após o ataque e relatou que o líder russo afirmou, de maneira incisiva, que tomará providências. Segundo Trump, a conversa foi “boa”, mas sem sinais de uma solução de curto prazo. A Casa Branca, por sua vez, negou que os EUA tenham tido conhecimento prévio da operação e reforçou que Washington monitora “em tempo real” as ações ucranianas com drones.
Já o secretário de Defesa norte-americano, Pete Hegseth, declarou durante audiência no Congresso que não houve aviso prévio da Ucrânia, mas indicou que os serviços de inteligência dos EUA acompanham os desdobramentos desde o início dos ataques também em tempo real. A aparente contradição alimentou suspeitas, especialmente diante do apoio militar, tecnológico e estratégico contínuo que Washington e aliados europeus fornecem a Kiev.
No Capitólio, parlamentares dos EUA se dividiram sobre o episódio. Setores mais nacionalistas criticaram a iniciativa ucraniana como “imprudente” e temeram uma provocação direta à Rússia. Já aliados tradicionais da OTAN destacaram que Moscou não pode usar sua infraestrutura nuclear como escudo para ações ofensivas e reforçaram o apoio à autodefesa da Ucrânia.
Névoa de guerra
Todo este desenrolar ilustra o que é a chamada névoa de guerra, fenômeno no qual desinformações e incertezas diminuem a capacidade de checar fatos, e ampliam os riscos de decisões desproporcionais.
Nos dias seguintes ao ataque, a Rússia respondeu com intensos bombardeios aéreos contra cidades ucranianas, deixando ao menos 12 mortos, segundo autoridades de Kiev. Putin também suspendeu negociações de paz em curso com mediação da Turquia, alegando quebra de confiança. O gesto indica que o conflito pode ingressar em uma fase mais violenta e menos aberta a saídas diplomáticas.
Especialistas alertam para os riscos de uma nova escalada. Embora não haja sinais de preparação russa para uso de armamento nuclear, a retórica empregada em Moscou — e a ênfase no termo “terrorismo” — mostram que o Kremlin busca respaldo político para endurecer sua estratégia.
O ataque, considerado o mais profundo e coordenado já feito pela Ucrânia em território russo desde o início da guerra, marca um ponto de inflexão no conflito. Além das perdas materiais, ele sinaliza que a guerra pode ultrapassar fronteiras até então respeitadas de forma tácita.
Enquanto o governo russo calibra sua resposta e os países ocidentais tentam evitar envolvimento direto, o mundo observa com apreensão o desenrolar de um episódio que pode definir os rumos do conflito nos próximos meses.
FOTO: Wikimedia Commons
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/ataque-ucraniano-a-infraestrutura-nuclear-russa-leva-guerra-a-novo-patamar-de-potencial-escalada