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Banqueiros avaliam que Campos Neto pode ter prevaricado ao deixar o caso Master ir longe demais

Setor financeiro critica omissão do ex-presidente do BC após alertas formais sobre riscos do Master, enquanto Galípolo é elogiado por intervenção rápida.

247 – Os principais banqueiros do País avaliam que o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pode ter se omitido diante do agravamento da crise do banco Master. A percepção foi relatada em conversas reservadas durante o tradicional almoço de fim de ano da Febraban, segundo reportagem de Raquel Landim, publicada pelo jornal Estado de S. Paulo, que ouviu executivos do alto escalão do setor.

Logo nos primeiros relatos, os banqueiros destacaram que tanto o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) quanto a própria Febraban enviaram alertas formais ao Banco Central apontando o aumento acelerado das vendas de CDBs de risco elevadíssimo feitas pelo Master. Ainda assim, afirmam que Campos Neto “viu o problema surgir, crescer e nada fez”, levando alguns a mencionarem até possível prevaricação.

Críticas intensas e conexão política levantam suspeitas

Segundo o jornal Estado de S. Paulo, a percepção entre os executivos é de que Campos Neto teria se eximido da responsabilidade por estar “comprometido com um grupo político”. O ex-presidente do BC é muito próximo do senador Ciro Nogueira (PP-PI), embora as investigações da Polícia Federal ainda não tenham identificado o político supostamente envolvido no caso.

O rombo no FGC, que chega a R$ 41 bilhões, só reforçou as críticas sobre a falta de ação tempestiva. Para boa parte do mercado financeiro, a inação contribuiu para que o problema ganhasse proporções inéditas.

Campos Neto, que hoje ocupa o cargo de vice-chairman do Nubank, foi procurado pelo jornal Estado de S. Paulo, mas não concedeu entrevista.

Galípolo ganha pontos entre os bancos ao liquidar o Master

Enquanto Campos Neto enfrentava forte desgaste, o atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, recebeu elogios de dirigentes das instituições financeiras por ter conduzido a liquidação do Master. Galípolo fazia parte da diretoria do BC, mas sua atuação estava concentrada na política monetária, distante da área que viu o problema crescer.

O presidente da Febraban, Isaac Sidney, também destacou a postura de Galípolo ao afirmar, em discurso durante o evento, que ele “elevou a régua da dignidade institucional” do Banco Central — declaração que repercutiu de forma positiva entre os presentes.

Mercado espera regras mais rígidas para evitar novo colapso

Questionados pelo jornal se Galípolo poderia adotar alguma punição ao antecessor, banqueiros preferiram não comentar, citando o corporativismo interno do Banco Central e o compartilhamento das mesmas equipes técnicas.

O setor financeiro, porém, é unânime em defender que a atual gestão endureça a regulação e o monitoramento para impedir o surgimento de um “novo Master”. A crise reacende discussões sobre a capacidade de supervisão do BC e sobre o papel da instituição em momentos de risco sistêmico — debates que devem permanecer no centro das atenções nos próximos meses.

FOTO: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

FONTE: https://www.brasil247.com/economia/banqueiros-avaliam-que-campos-neto-pode-ter-prevaricado-ao-deixar-o-caso-master-ir-longe-demais