Com acordos bilionários e IPOs de sucesso, setor biotecnológico da China sobe mais de 60% em 2024 e reforça papel como polo global de inovação.
247 – As ações de empresas chinesas de biotecnologia vêm protagonizando uma impressionante recuperação em 2024, com valorização superior a 60% no Índice Hang Seng Biotech. Segundo matéria da Bloomberg, a alta tem superado até mesmo o desempenho do setor de tecnologia impulsionado pela inteligência artificial, colocando a biotecnologia no centro das atenções do mercado financeiro asiático.
O otimismo do mercado foi alimentado por dois megacontratos de licenciamento envolvendo grandes multinacionais. Em maio, a norte-americana Pfizer anunciou um aporte recorde de US$ 1,25 bilhão para licenciar um medicamento experimental contra o câncer desenvolvido pela 3SBio Inc., além de investir mais US$ 100 milhões em ações da empresa chinesa. Poucas semanas depois, a Bristol-Myers Squibb firmou acordo de até US$ 11,5 bilhões com a alemã BioNTech para licenciar um fármaco oncológico que havia sido previamente licenciado da chinesa Biotheus Inc. em 2023.
A valorização das ações dessas empresas tem sido vertiginosa. A 3SBio disparou 283%, superando o índice global de biotecnologia da Bloomberg, enquanto a RemeGen Co., especializada em anticorpos terapêuticos, subiu mais de 270%, impulsionada pelo interesse de farmacêuticas internacionais em possíveis acordos de licenciamento.
Yiqi Liu, analista sênior da Exome Asset Management em Nova York, destacou que “a biotecnologia chinesa já não é apenas uma promessa em desenvolvimento como há dez anos — agora é uma força disruptiva que está redefinindo a inovação farmacêutica global”. Para ela, “a ciência é concreta, os fundamentos econômicos são fortes e as pipelines estão começando a entregar resultados”.
IPOs em alta e fusões bilionárias
A recuperação do setor tem sido impulsionada também por estreias animadoras na bolsa de Hong Kong. A Duality Biotherapeutics Inc., que atua no desenvolvimento de terapias contra o câncer, teve suas ações dobrando de valor no primeiro dia de negociação em abril. Já a Jiangsu Hengrui Pharmaceuticals Co., maior farmacêutica da China em valor de mercado, subiu 25% em seu IPO em maio — mesmo tendo sido precificada no teto da faixa estimada. Desde então, a Duality acumula alta de 189%, e a Jiangsu, 31%.
A movimentação do setor em fusões e aquisições também reflete esse dinamismo. Só no primeiro trimestre de 2024, o valor de transações com participação de empresas chinesas dobrou em relação ao ano anterior, alcançando US$ 36,9 bilhões — mais da metade dos US$ 67,5 bilhões movimentados globalmente.
Dong Chen, estrategista-chefe da Pictet Wealth Management em Hong Kong, afirmou que as empresas chinesas de biotecnologia estão vivendo “o seu próprio momento DeepSeek”, em referência ao aplicativo de IA que impulsionou o setor de tecnologia da China no início do ano. “Há mais espaço para crescimento”, completou.
Ceticismo e perspectivas
Apesar do entusiasmo do mercado, alguns analistas alertam que parte dessa valorização pode estar excessiva. Em nota recente, o Bank of America destacou que analistas especializados em saúde planejam realizar lucros e que há preferência por ações do setor com perfil mais conservador, como pagamento constante de dividendos e crescimento estável de receita.
A nota observa ainda que alguns investidores enxergam os recentes contratos bilionários como eventos isolados, o que os faz resistir a aplicar múltiplos elevados de valorização nas companhias envolvidas.
Retorno de talentos e resiliência diante de tensões
O cenário de tensão comercial entre Estados Unidos e China, que afetou diversos setores, acabou beneficiando a biotecnologia ao estimular o retorno de talentos chineses que estavam no exterior. Para Nicholas Chui, gestor de fundos de ações chinesas da Franklin Templeton, esse movimento ampliou a capacidade local de pesquisa e desenvolvimento.
A Jefferies também manteve uma visão positiva, avaliando que o aumento das tarifas norte-americanas não representa grande ameaça para as empresas chinesas do setor. Segundo Cui Cui, chefe de pesquisa em saúde para a Ásia na Jefferies, “muitas dessas companhias já têm parcerias com empresas dos EUA e são vistas mais como prestadoras de serviços do que como exportadoras de produtos”.
FOTO: Hadoim H0512
FONTE: https://www.brasil247.com/economia/boom-da-biotecnologia-chinesa-atrai-investidores-e-supera-alta-da-inteligencia-artificial