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Brasil deve receber recorde de investimento estrangeiro direto em 2025, diz Alckmin.

O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o Brasil caminha para registrar, em 2025, o maior volume de investimento estrangeiro direto (IED) da sua história, superando com folga o resultado de 2024. A declaração abre espaço para discutir tanto os números quanto o que está por trás desse movimento – e os riscos.

O que Alckmin está dizendo

Alckmin tem usado dados do Banco Central para sustentar que o fluxo de IED em 2025 já se aproxima ou supera o total de 2024 e pode bater o recorde histórico, que hoje é pouco acima de 100 bilhões de dólares em um único ano. Ele lembra que em 2024 o Brasil recebeu algo em torno de 71 bilhões de dólares em IED, e que, em 2025, até setembro, o acumulado já passa de 60 bilhões de dólares, com meses em que entraram mais de 10 bilhões de dólares, patamar considerado muito alto para padrões brasileiros. Em suas falas, o vice-presidente associa esse resultado à maior confiança de investidores estrangeiros na economia brasileira e à agenda de reindustrialização e exportações.

De onde vêm esses investimentos

O IED costuma se concentrar em alguns setores: energia (inclusive renováveis), petróleo e gás, agronegócio e sua cadeia de logística, indústria de transformação e serviços de alto valor agregado (como tecnologia, telecomunicações e finanças). Na narrativa do governo, o aumento do IED reflete:
  • Projetos de longo prazo em infraestrutura, transição energética e produção de alimentos.
  • Interesse em usar o Brasil como plataforma exportadora para América do Sul, África e Ásia, aproveitando acordos comerciais do Mercosul e de novas negociações em andamento.
Há também um componente de reconfiguração das cadeias globais (nearshoring/friendshoring): parte das multinacionais busca diversificar produção fora da Ásia, e o Brasil tenta capturar esse movimento com pacotes de incentivos e crédito.

As políticas usadas para atrair capital

Alckmin enfatiza algumas frentes de política econômica e comercial como “vitrine” para o investidor externo:
  • Simplificação regulatória e redução do chamado “Custo Brasil”, com iniciativas como uma “janela única” para registro, licenciamento e acompanhamento de projetos, prometendo menos burocracia e mais previsibilidade.
  • Defesa ativa de exportadores brasileiros em disputas tarifárias, especialmente com os Estados Unidos, tentando retirar produtos industriais do “tarifaço” imposto contra o Brasil.
  • Ampliação de crédito subsidiado ou com condições favorecidas (como programas específicos para empresas atingidas por tarifas externas e linhas apoiadas por bancos multilaterais, a exemplo do BID, direcionadas a infraestrutura, logística e inovação).
Essas medidas são apresentadas pelo governo como forma de sinalizar compromisso com investimento produtivo, integração comercial e estabilidade regulatória, elementos que pesam na decisão de investidores globais.

O que isso significa para a economia real

Um recorde de IED, em princípio, é uma boa notícia:
  • Tende a ampliar a capacidade produtiva, gerar empregos formais e transferir tecnologia, principalmente quando o capital entra em forma de novas fábricas, plantas de energia, centros de pesquisa ou ampliação de operações.
  • Ajuda a financiar o déficit externo sem depender tanto de capital especulativo de curto prazo, o que reduz vulnerabilidades cambiais.
No entanto, a qualidade do investimento importa tanto quanto o volume. Se grande parte do IED for, por exemplo, aquisição de ativos já existentes (fusões e aquisições puramente financeiras) ou projetos concentrados em poucos setores extrativos, o efeito sobre emprego, inovação e diversificação produtiva tende a ser bem menor do que o discurso oficial sugere.

Pontos de atenção e dúvidas em aberto

Há questões críticas que uma matéria mais analítica precisa levantar:
  • Quanto desse fluxo é investimento produtivo novo (greenfield) e quanto é apenas troca de controle de ativos existentes?
  • A concentração setorial (energia, óleo e gás, agronegócio) reforça uma especialização primário-exportadora ou vem acompanhada de cadeias industriais e tecnológicas mais complexas?
  • A melhora no IED é estrutural — ligada a reformas, aumento sustentado de produtividade e estabilidade institucional — ou cíclica, favorecida por fatores pontuais como juros globais, preço de commodities ou arbitragem cambial?
  • Como compatibilizar a entrada de capital com metas ambientais e climáticas, evitando que projetos de alto impacto ambiental sejam “empacotados” como investimento verde apenas por marketing?
Uma abordagem crítica deve, portanto, tratar o anúncio de recorde de IED como um dado relevante, mas não como prova automática de “milagre econômico”. O desafio central é transformar esse capital em diversificação produtiva, inovação, empregos de melhor qualidade e aumento de complexidade da economia brasileira – e isso depende tanto de política industrial e educacional quanto da própria capacidade do Estado de coordenar, regular e fiscalizar esses investimentos. Foto : Cadu Gomes/VPR FONTE: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas ( Reprodução autorizada mediante citação da fonte: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas )