A comparação entre os sistemas financeiros do Brasil e da China revela o abismo criado pelas escolhas políticas e institucionais de cada país, especialmente no século XXI. Enquanto o sistema chinês se transformou em elemento-chave para o crescimento, inovação e desenvolvimento produtivo, o sistema brasileiro tornou-se motor de financeirização, de especulação e de uma estrutura rentista que sufoca a economia real e impede avanços sociais.
China: Planejamento, Crédito Produtivo e Estado Forte
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O sistema financeiro chinês foi reformado para centralizar os bancos públicos e a intermediação do crédito, combinando abertura gradual ao mercado de capitais com forte supervisão estatal. Quase 80% do financiamento produtivo segue nas mãos dos bancos públicos, alinhados aos objetivos industriais, tecnológicos e estratégicos definidos pelo governo central.
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A China mantém taxas de juros reais historicamente baixas e usa instrumentos públicos para absorver choques, limpar balanços de bancos e direcionar crédito às áreas prioritárias.
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O Estado chinês calibra liquidez e crédito conforme prioridades nacionais, evitando a especulação desenfreada e promovendo o crescimento massivo do setor produtivo e da classe média. A dívida pública é usada majoritariamente para infraestrutura e inovação.
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O sistema financeiro chinês se adapta com agilidade, sem perder controle estatal sobre fluxos de crédito e direção do desenvolvimento, permitindo respostas rápidas a crises e evitando o domínio de rentistas.
Brasil: Financeirização, Rentismo e Sufocamento do Desenvolvimento
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No Brasil, especialmente desde os anos 1990, o sistema financeiro passou a dominar a economia. O crédito produtivo, que deveria apoiar empresas e famílias, é minoritário diante da predominância de títulos públicos e operações que beneficiam uma elite rentista.
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As taxas de juros reais são as maiores do mundo — em 2025 aproximam-se de 10% ao ano, disparando o custo do crédito, impedindo investimentos produtivos e promovendo transferência massiva de renda ao sistema bancário.
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A dívida pública já ultrapassa R$ 7,9 trilhões, com cerca de R$ 1,3 trilhão em pagamentos de juros e amortizações só em 2025 — mais de metade do orçamento federal. Grande parte deste valor é destinada ao pagamento de aplicações financeiras e não de investimentos produtivos.
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A financeirização levou o Brasil a um círculo vicioso: o déficit orçamentário pressionou a dívida, forçando o aumento dos juros e, por consequência, alimenta ainda mais o rentismo. O sistema só privilegia bancos, fundos e grandes investidores — enquanto empresas e trabalhadores ficam sufocados por taxas abusivas.
Impactos Sociais e Econômicos
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A estrutura chinesa permitiu a geração massiva de empregos, o crescimento inclusivo e a expansão tecnológica, com redução progressiva da desigualdade social.
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Já a financeirização no Brasil provocou estagnação do PIB, concentração de renda, queda no investimento em infraestrutura e bloqueio do desenvolvimento social e econômico. O crédito caro força as empresas a reduzir o progresso e os investimentos, agravando o desemprego e a precarização.
Conclusão
A China demonstra que um sistema financeiro pode — e deve — ser desenhado para apoiar o desenvolvimento, a inovação e a inclusão social, sob comando estatal eficaz. O Brasil, ao contrário, é um exemplo de como escolhas feitas à financeirização e ao rentismo resultam na destruição da economia real, nas altas taxas, nas transferências bilionárias aos bancos e na paralisação estrutural. O contraste entre os modelos é uma lição viva sobre a importância da arquitetura institucional e do planejamento público para o sucesso econômico e social de uma nação.
FOTO: Chronis Yan/Unsplash