Há grande expectativa em relação à quarta-feira, 2 de abril, considerada por muitos como o “dia da libertação”, devido aos anúncios esperados sobre tarifas por parte do ex-presidente Donald Trump. Ele afirmou que pretende anunciar muitas tarifas, apesar de também ter mencionado uma boa conversa com o novo primeiro-ministro do Canadá.
Ainda há muita incerteza sobre os desdobramentos da semana. Na quarta-feira passada, foi anunciada uma tarifa de 25% sobre automóveis, o que afetou significativamente europeus — especialmente italianos e alemães —, além de países asiáticos como o Japão. Há também preocupação com a indústria de vinhos, devido à possibilidade de taxação de bebidas.
As bolsas caíram na sexta-feira, refletindo o aumento do temor de estagflação. O dado de inflação divulgado mostrou alta no núcleo (core inflation), mesmo com a linha cheia (headline) estável. As expectativas de inflação subiram um pouco: os títulos indexados à inflação (TIPS) já precificam uma inflação de 3% para os próximos dois anos.
Esse ambiente gera preocupação com uma possível desaceleração econômica combinada com inflação nos Estados Unidos, impulsionada pelas políticas de Trump. Na sexta-feira, sairá o payroll — o dado mais relevante da semana e do mês, trazendo uma leitura sobre o mercado de trabalho norte-americano.
No Brasil, o destaque da sexta-feira foi o CAGED, que mostrou a criação de mais de 400 mil vagas formais em fevereiro — um resultado surpreendente. Não me lembro de um mês de fevereiro com número tão forte. Normalmente, há forte contratação no final do ano, com queda em dezembro. Fevereiro tende a ser mais fraco, mas esse resultado foi explosivo.
Esse dado reacende a discussão de que o Brasil pode estar crescendo mais do que se imaginava. Vínhamos com a perspectiva de que o ciclo de alta dos juros estava perto do fim, com o Banco Central podendo realizar mais duas altas e levar a Selic a 15,00%. O Relatório de Política Monetária, divulgado na quinta-feira, trouxe projeções dentro do esperado.
O CAGED, no entanto, foi uma surpresa significativa. No Boletim Focus mais recente, a expectativa de inflação estabilizou: permanece em 5,65% para 2024 (acima da meta), 4,50% para 2025, e estável também para 2026 e 2027. Ainda não há queda nas expectativas, mas elas pararam de subir — o que pode indicar um ponto de inflexão.
As expectativas de crescimento (PIB) caíram levemente, mas ainda não refletiram o impacto dos dados recentes. O Focus projeta crescimento de 1,97% para 2024 e 2,60% para 2025, praticamente igual à semana anterior.
A Selic esperada pelo Focus é de 15,00% ao final de 2024, 12,50% para 2025, e 10,50% para 2026 e 2027 — sinalizando uma trajetória de queda nos juros.
A expectativa de câmbio também se estabilizou abaixo de R$6,00. O mercado prevê dólar a R$5,90 ao fim de 2025, com projeções em torno de R$6,00 para os anos seguintes.
Portanto, há uma acomodação nas expectativas de inflação, crescimento, juros e câmbio. O cenário parece ter estabilizado — ainda distante de uma convergência ideal, mas sem deterioração adicional.
Encerramos o mês e o trimestre com saldo positivo para o Brasil. O primeiro trimestre foi bastante bom, tanto para o câmbio quanto para a bolsa. Ainda resta o pregão de hoje e, claro, a quarta-feira, que será muito importante por conta dos anúncios internacionais.
FONTE: https://www.paulogala.com.br/brasil-surpreende-com-forte-geracao-de-empregos-em-meio-a-incertezas-globais/