A opção libertadora latino-americana estará em aliar-se à China e à Rússia, no âmbito dos BRICS.
O mundo multipolar, puxado pelos BRICS, em expansão territorial e econômica, está nascendo e solidificando-se, porque tem uma base fundamental política e econômica conjugadas para fazer frente, em igualdade de condições, ao império americano, que perdeu hegemonia global.
A fragilidade relativa americana se acentua no campo econômico e financeiro de forma rápida, com tendência a se acelerar, porque os fundos de investimentos internacionais que têm a poupança do mundo comandada por eles em aplicações nos títulos do tesouro americano estão deixando de ser uma ponte segura.
Isso abala a hegemonia imperial como horizonte da segurança global.
A poupança capitalista, majoritariamente financeirizada, está sem porto sustentável no contexto da financeirização com propensão para o rompimento de diques a cada notícia internacional dando conta de que poupadores estão vendendo seus títulos do tesouro americano, para fazer liquidez.
A opção pela liquidez é o norte do investidor, quando o tesouro americano entrou na onda nacionalista protecionista de Donald Trump, que não dá retorno financeiro suficiente para garantir a acumulação capitalista de modo a remunerar a massa trilionária de dinheiro especulativo diante de um dólar ameaçado pela recessão que se anuncia para os Estados Unidos.
A produção não sustenta lucrativamente a massa de dinheiro especulativo em circulação; o financismo triunfou sobre o produtismo, no cenário capitalista.
Como a massa de capital especulativo continuará remunerada de modo a garantir a sobreacumulação capitalista, se ela é incompatível com o protecionismo trumpista nacionalista?
O financismo destrói a industrialização americana, razão da luta política de Trump, que o levou à Casa Branca.
China, a nova utilidade
Desse modo, para a América Latina e para o BRICS, a jogada é fugir para portos seguros, em nome da utilidade, que é o suprassumo da ideologia capitalista, manual essencial do capitalismo
Essencialmente, o utilitarismo é baseado no conceito de que o certo é o que está dando certo.
Os Estados Unidos não vendem mais esse conceito, porque ele se transforma em insegurança para o investidor, ferindo a sua própria ideologia.
O porto seguro, do ponto de vista da utilidade, é o porto Chinês.
O capitalismo é dominado pela ideologia do utilitarismo: “Tudo que é útil é verdadeiro; se deixa de ser útil, deixa de ser verdade”(Keynes).
Os Estados Unidos, do ponto de vista da ideologia utilitarista, não é mais o negócio que puxa a demanda global; não está sendo mais aprovado pelo mercado pelo critério da utilidade.
Os olhos e interesses objetivos do capitalismo ocidental, em risco de implodir, se faltar credibilidade internacional nos títulos do tesouro americano, voltam-se para a China.
A opção chinesa de substituir o dólar por moeda local nas relações internacionais está pegando geral, diante do temor de o mercado fugir do dólar com medo de calote na dívida pública americana, que já está na casa dos 37 trilhões de dólares.
Protecionismo x financismo
O protecionismo trumpiano é a maior ameaça aos aplicadores nos títulos americanos, simplesmente, porque o protecionismo ataca o déficit comercial que é a fonte de especulação internacional sobre os déficits americanos, bancados por dívida pública sob juros flutuantes.
Os empresários do mundo inteiro, portanto, estão preferindo a opção pela segurança chinesa, nas relações comerciais, do que continuar suportando a insegurança disseminado do protecionismo, que sinaliza calote no financismo especulativo?
A sensação de segurança do espírito de organização e planejamento chinês está conquistando a classe empresarial e trabalhadora mundo afora por vender confiança e previsibilidade.
Os Estados Unidos, com o protecionismo nacionalista agressivo, vendem exatamente o contrário, o que aumenta o descrédito americano no ambiente global, dado o histórico de guerras financiadas pela especulação financeira.
A guerra política no império americano, no momento, é: produtismo – que Trump representa – contra o financismo, dominando pelo Wall Street, aliado dos democratas de Obama, Clinton, Biden e cia ltda, rendidos aos interesses do Pentágono, do deep state etc.
A opção Wall Street entrou em estresse, porque é dependente do financismo especulativo instável, em sua convivência com a estratégia tarifária trumpista, que requer juro baixo para sobreviver.
Wall Street é pura especulação para financiar as guerras do Pentágono, guerras estas perdidas, como é o caso da guerra na Ucrânia jogaria fogo no incêndio monetário para financiar guerras perdidas, como a da Ucrânia.
Guerra, a anti-solução
Os Estados Unidos foram os maiores perdedores na guerra na Ucrânia; estimulou a Otan a ocupar o país, e a partir do território ucrâniano transformá-lo em base de foguetes para atingir Moscou, alvo do imperialismo ocidental.
Deu xabu.
Os americanos perderam a guerra para Vladimir Putin e estão sendo obrigados a uma paz negociada sob os termos impostos pela Rússia, vencedora do conflito.
Trump caiu fora da solução de guerra do partido democrata, financiada pela especulação de Wall Street, para abastecer o Pentágono, porque estouraria as finanças americanas financiadas por títulos do tesouro negociado com os fundos financeiros internacionais.
O desastre do financismo, que já está em andamento, tende a cair no colo de Trump, e ele, claro, quer se safar dessa.
Os Estados Unidos estão em sinuca de bico; se apostar na guerra, a bolsa estoura; se insistir no protecionismo, perde, certamente, a concorrência para a China, e não conseguirá superar o déficit comercial.
Ficará explícito que o império sem guerra não consegue sustentar a lucratividade especulativa dos títulos da dívida nas mãos dos fundos internacionais.
Como, então, dar preferência para a guerra, se os Estados Unidos não conseguem vencer seus dois maiores adversários: Rússia e China?
Para a população americana, insistir nessa alternativa é perder dinheiro na desvalorização das ações das empresas que tocam a economia de guerra.
A financeirização pode estar com seus dias contados, se o protecionismo encontrar dificuldades crescentes para que Trump continue insistindo numa hegemonia imperialista de Washington sobre o mundo que não existe mais.
Hora da libertação latino-americana da doutrina Monroe
Se a opção do mercado financeiro propende pelo descolamento crescente dos títulos da dívida americana, que colocam em risco tanto a opção pelo protecionismo como pela financeirização – no contexto do embate entre financismo e produtismo –, a opção estratégica do investidor é pular para o barco da China, que já ganhou a competição comercial com os Estados Unidos.
O protecionismo trumpista obriga os Estados Unidos a fazer superávit comercial para combater o déficit comercial, de modo a conquistar credibilidade no mercado financeiro; do contrário, vira alvo de ataque especulativo pelo próprio mercado financeiro, essencialmente, apátrida; esse é o jogo da financeirização que não tem pátria, tem interesse etc.
Nesse contexto protecionista, o império americano tende a aumentar a exploração colonial sobre a América do Sul, para acumular riqueza capaz de fazer frente à China; se Washington domina a América do Sul, radicalizando a Doutrina Monroe, a China negociará o interesse latino-americano com os Estados Unidos e não com a América Latina economicamente integrada.
A opção libertadora latino-americana estará, portanto, em aliar-se à China e à Rússia, no âmbito dos BRICS, para não se tornar moeda de troca dos Estados Unidos na relação com os chineses e os russos.
A Doutrina Monroe passa a ser, no cenário do protecionismo nacionalista trumpista, a Espada de Dâmocles sobre a cabeça da América Latina, para ela não se debandar, politicamente, para os BRICS, onde pontificam o poder comercial e militar da China e da Rússia, em contraposição ao império americano.
Foto: Presidência brasileira do BRICS
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/brics-e-integracao-latino-americana-nova-forca-global-contra-o-imperio-americano