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BRICS Press Meeting aprova a ‘Carta de Niterói’ por nova ordem informativa global

Presidente da Biblioteca Nacional exaltou diversidade dos BRICS e criticou hegemonia econômica durante encontro de jornalistas em Niterói.

247 – O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, foi o responsável pela palestra de abertura do BRICS Press Meeting, realizado nesta sexta-feira (4) em Niterói, reunindo jornalistas de países que integram o bloco às vésperas da cúpula dos chefes de Estado, marcada para os dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. As informações são do site Toda Palavra.

Lucchesi, que também é poeta, tradutor e membro da Academia Brasileira de Letras, emocionou o público logo no início ao pedir solidariedade ao povo palestino. “A tragédia vem sendo acompanhada ao vivo”, lamentou, em referência à situação em Gaza.

Ao abordar o tema de sua conferência — “Cultura dos BRICS” — o intelectual destacou que o bloco representa um espaço simbólico de trocas e aproximações entre civilizações diversas. Segundo ele, é preciso enxergar esse movimento como uma “complementação de civilizações”, em que “o Oriente se ocidentaliza e o Ocidente se orientaliza”, criando pontes em vez de muros.

Lucchesi defendeu a centralidade da cultura nas relações internacionais e fez uma crítica ao predomínio da lógica econômica. “Se as relações se basearem apenas na economia, nos tornaremos funcionários do capital. Nós somos funcionários da utopia”, afirmou, sob aplausos. Para ele, o BRICS tem potencial cultural equivalente à força do Produto Interno Bruto conjunto dos países membros, e isso deve ser valorizado como ativo geopolítico.

O presidente da Biblioteca Nacional também insistiu na valorização das línguas originárias de cada país do bloco, destacando a necessidade de romper com o “esperanto simplificado” e o “basic english”. “Que as línguas não sejam barreira, sejam convite”, afirmou. “Quando olhamos para as diferenças culturais dos BRICS crescemos ainda mais, nos multiplicamos a partir desse grande legado de línguas que são construções que atravessam milênios”.

Lucchesi ainda ressaltou que escolas e universidades devem ser protagonistas na construção de uma memória futura compartilhada, baseada na diversidade, que, segundo ele, “não deve ser apenas tolerada, mas cultivada e admirada”.

Na sequência, o editor executivo da Rádio e Jornal TODA PALAVRA, Luiz Augusto Erthal, destacou o papel do BRICS como pilar da transição geopolítica global. “O bloco surgiu em prol da multipolaridade do poder entre nações e pela construção de um mundo mais justo”, afirmou. “Lidando com forças hegemônicas, acompanhamos muitos jornalistas independentes se esforçando para promover essa mudança”.

A programação do encontro seguiu com uma apresentação da professora da UFRJ Beatriz Bissio, e uma mesa-redonda com os professores Eduardo Gomes e Lier Pires Ferreira, do Núcleo de Estudos BRICS da UFF (NuBRICS), que propuseram a ideia de sediar permanentemente o BRICS no Rio de Janeiro — já que o bloco, desde sua criação, não tem uma sede fixa.

Durante a tarde, duas mesas redondas ampliaram os debates. A primeira teve como tema “Imprensa independente, mídia regional/comunitária e jornalistas independentes – Alternativas à mídia oligárquica”, com participações de Paulo Miranda (TVCOM/DF), Luan Scliar (iBRICS), Eduardo Vasco e Mário Souza (SJPRJ), sob mediação do jornalista Osvaldo Maneschy.

Na sequência, representantes de veículos independentes como Telesur, Sputnik, Al Mayadeen, HispanTV e EIR debateram o “Desenvolvimento de redes de comunicação independentes para o Sul Global”. Os jornalistas Luiz Augusto Erthal e Beto Almeida conduziram os trabalhos. TV BRICS e Prensa Latina enviaram vídeos, mas não puderam comparecer presencialmente.

O encerramento foi marcado por uma fala do jornalista Pepe Escobar sobre os “Desafios e conquistas do mundo multipolar”, acompanhado por Leonardo Attuch, do portal Brasil 247.

Ao final do BRICS Press Meeting, os participantes aprovaram a “Carta de Niterói” — documento que propõe ações concretas para o fortalecimento da comunicação no Sul Global e será entregue ao governo brasileiro para divulgação entre os demais integrantes do bloco.

A carta propõe a criação de uma nova ordem informativa internacional, sustentada por uma rede colaborativa de jornalistas independentes, com o objetivo de combater campanhas de desinformação promovidas por veículos da mídia ocidental contra países como China, Rússia e Irã.

Entre as sugestões está também o desenvolvimento de uma plataforma digital exclusiva para o compartilhamento de documentos, notícias e informações entre os membros do BRICS.

Ficou decidido, por fim, que o fórum de debates lançado neste primeiro encontro será tornado permanente, fortalecendo o papel da comunicação como eixo estratégico da agenda dos BRICS.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

FONTE: https://www.brasil247.com/midia/brics-press-meeting-aprova-a-carta-de-niteroi-por-nova-ordem-informativa-global