Jovem integrou a equipe de Paulo Guedes no Ministério da Economia antes de ser contratado por um dos maiores bancos do Brasil.
Em agosto de 2024, o site O Bastidor publicou a notícia de que Matheus Ferreira de Freitas, filho do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, teria sido contratado pelo BTG, um dos principais bancos de investimento do país.
A notícia parou por aí. O site não voltou ao tema nem houve repercussão na imprensa, apesar do interesse público.
Não se trata de questionar a competência de Matheus – ele era na época estudante de Engenharia de Produção da Universidade de Brasília (UnB), uma das instituições de ensino mais importantes do País.
O que chamou a atenção foi a falta de transparência e também o potencial conflito de interesse.
Em seu currículo no LinkedIn, Matheus mantém a experiência como assessor comercial na empresa júnior do curso de engenharia da UnB, além de ter sido estagiário no Ministério da Economia entre 2020 e 2022, quando Paulo Guedes era o titular da pasta.
Nesse mesmo período, Tarcísio atuava como ministro da Infraestrutura no governo federal.
Apesar da divulgação da nova posição, o perfil de Matheus não foi atualizado com essa experiência, mantendo como última entrada apenas a assessoria feita até 2022.
O BTG é hoje uma das maiores instituições financeiras da América Latina, com forte presença nas áreas de banco de investimento, gestão de ativos e wealth management.
Sua atuação envolve diretamente grandes operações de crédito, fusões e aquisições, além de investimentos estratégicos em setores-chave da economia brasileira.
Pelo porte e influência que exerce junto ao mercado financeiro e às políticas econômicas do país, qualquer contratação ou relação do banco com figuras próximas ao poder político desperta especial atenção.
No caso do wealth management, trata-se de um serviço de gestão patrimonial voltado a clientes de alta renda, que inclui desde a administração de grandes carteiras de investimentos até o planejamento tributário, sucessório e de longo prazo.
A área é considerada estratégica porque concentra parte relevante do relacionamento do banco com empresários, investidores e famílias de grande patrimônio.
Procurado para comentar a contratação, o BTG inicialmente pediu informações sobre a pauta e prazo de publicação. Após consulta interna, a assessoria limitou-se a informar que o banco não faria comentários sobre o caso.
Questionado novamente sobre a permanência de Matheus na instituição e sobre o cargo que ele ocuparia atualmente, o BTG não respondeu.
Além da solicitação de esclarecimentos ao banco, foi também encaminhada à assessoria do governador a seguinte questão:
“Encaminho solicitação de informações sobre a contratação de Matheus de Freitas pelo BTG. Pergunto se o governo considera que possa haver conflito de interesses nessa contratação. E também conflito ético, considerando que há setores do mercado financeiro que apoiam a candidatura do governador de São Paulo a presidente da República.”
Resposta da assessoria do governador
Em nota oficial, a assessoria do governador Tarcísio de Freitas encaminhou o seguinte posicionamento:
“O conflito de interesses, segundo o Decreto 64.974/25, consiste na situação gerada pelo confronto entre os interesses públicos e privados, que possa comprometer o interesse coletivo ou influenciar, de maneira imprópria, o desempenho da função pública.
As regras que disciplinam o Sistema Financeiro Nacional são estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, Banco Central e Comissão de Valores Mobiliários, não possuindo o Governador de qualquer Estado da Federação quaisquer competências sobre o assunto.
A contratação do profissional em questão deveu-se única e exclusivamente a sua competência profissional, inexistindo quaisquer irregularidades, inclusive ética, visto não ter sido adotada nenhuma ação por autoridade pública, no exercício do cargo, com fins de beneficiar particulares em detrimento da função pública.”
É natural que surjam questionamentos sobre potenciais conflitos de interesse, uma vez que Banco e Governo mantêm interlocuções frequentes. O fato de o jovem ter trabalhado no Ministério da Economia durante o governo Bolsonaro e depois assumir estágio em uma das maiores instituições financeiras do país reforça o debate sobre redes de influência.
O espaço continua aberto para que, querendo, o BTG, o governador Tarcísio de Freitas e seu filho, Matheus, se manifestem.
Foto: Marcelo S. Camargo/Governo do Estado de SP
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/btg-emprega-filho-de-tarcisio-de-freitas-que-nega-conflito-de-interesses