Pela primeira vez na História deste país, a esquerda pareceu vencer a disputa narrativa nas redes sociais e conseguiu colocar o Congresso nas cordas. A “crise do IOF” serviu para que a comunicação governamental pudesse conquistar a tão sonhada “furada da bolha” e o discurso do “Congresso inimigo do povo” colou muito bem para além no nicho militante progressista.
Avesso às nuances da opinião pública, os deputados do chamado centro político são muito mais suscetíveis às críticas negativas do que muitos poderiam imaginar. O discurso do “Estado mínimo” e dos cortes de gastos sociais ainda é muito mal visto pela população e o calcanhar de Aquiles destes parlamentares. Numa conjuntura de correlação de forças desfavorável para o governo, trabalhar com a mobilização popular sempre foi a alternativa mais eficiente. Bem mais eficaz do que a conciliação com os agentes do mercado e com os representantes da chamada elite financeira internacional.
Infelizmente, a crise do IOF, a alegação muito bem trabalhada do governo pautando a opinião pública contra os interesses rentistas e privatistas dos deputados e a caracterização de um Congresso que “defende rico” só durou uma semana, aproximadamente. Logo, o presidente Lula, seus principais assessores e as lideranças petistas jogaram um belo balde de água fria na militância. Em discurso no último dia 4, Lula elogiou a relação do governo com o Congresso nos termos mais ridículos possíveis.
“Parece que tem uma guerra entre o governo e o Congresso. Eu sou muito agradecido à relação que tenho com o Congresso. O Congresso aprovou 99% das coisas que mandamos. Quando tem uma divergência, é bom para a gente sentar à mesa, conversar e resolver”, disse Lula para uma plateia de petroleiros.
De alguma maneira, a base esquerdista foi desautorizada a continuar atacando esse que é um dos piores mandatos parlamentares de todos os tempos. Em um momento fundamental, onde a mobilização popular é a única tábua de salvação eleitoral para o próximo ano, mais uma vez o governo petista aposta na conciliação com canalhas, com os traidores e com os corruptos do Centrão.
Quando o barco já estiver afundando, será tarde demais “convocar a militância” a defender o legado lulista. Enquanto isso, coloquem de volta no armário o correligionário da base, peça para ele se acalmar, e tranque-o no escuro.
Por Daniel Spirin Reynaldo
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