E há quem lucre com a emergência – abutres sempre voam nos céus nos momentos difíceis…
Cabul, capital do Afeganistão, dentro de cinco anos será a primeira cidade moderna a ficar sem água. Samjung, aldeia nepalesa situada a 4 mil metros de altitude no Himalaia, foi abandonada por todos os seus habitantes: há três anos não vê sequer um floco de neve. Moradores de Tuvalu vão para a Austrália. Sul de Creta arrasado por um incêndio florestal de enormes proporções. São as mudanças climáticas que chegaram para ficar.
Na tarde de 2 de julho, quarta-feira, um incêndio florestal de grandes proporções atingiu a região de Ierapetra, no sul da ilha de Creta. O que se viu nas horas seguintes, até a alta madrugada, foram cenas de inferno na terra: Mais de 1.500 pessoas, incluindo moradores e visitantes, e 5.000 turistas foram retiradas às pressas de hotéis e residências em vilarejos como Ferma, Achlia, Koutsounari, entre outros, sendo direcionadas a abrigos, hotéis seguros na ilha ou transferidas via barco. Fotos e vídeos da região passaram a rodar pelos canais da Internet, documentando imagens que pareciam saídas de algum filme catástrofe: centenas de pessoas correndo pelas estradas tentando se salvar das chamas que chegavam a galope.
Em Creta, nos últimos dias, os termômetros não estiveram a menos de 42 graus centígrados – como, por sinal, em boa parte da Europa que, a cada verão vive ondas de calor cada vez mais intensas. Bastaram ventos de até 130 km/h para que uma simples centelha, de origem natural ou por descuido humano, inflamasse o mato seco e transformasse em deserto de cinzas toda uma parte dessa belíssima ilha do Mediterrâneo.
Cabul está secando – Ao mesmo tempo, em plena Ásia Central, vem a notícia de que Cabul, capital do Afeganistão, dentro de cinco anos será a primeira cidade moderna a ficar sem água. Como se não bastassem décadas de guerras, ocupações e regimes talibãs, agora a cidade enfrenta essa nova emergência. Essa previsão é da ONG humanitária Mercy Corps, que atua há anos no Afeganistão: em seu relatório mais recente, “Kabul’s Water Crisis”, a organização chega a prever, caso as tendências atuais se confirmem, o esgotamento, até 2030, dos aquíferos que abastecem a capital afegã e seus sete milhões de habitantes. O nível das reservas subterrâneas de água de fato diminuiu 30 metros na última década. Isso se deve às mudanças climáticas, mas também a um crescimento vertiginoso da população, que passou de menos de um milhão de pessoas em 2001 para os atuais sete milhões.
A isso se soma a péssima qualidade da água: segundo o relatório da Mercy Corps, até 80% dos lençóis freáticos de Cabul estão em risco de contaminação, com presença de esgoto, arsênico e alta salinidade.
E há quem lucre com a emergência – abutres sempre voam nos céus nos momentos difíceis em busca de presas fáceis: muitas empresas privadas extraem água do subsolo e a revendem a preços altíssimos. Em algumas áreas da capital, o custo para encher recipientes a partir de caminhões-pipa dobrou nas últimas semanas, passando do equivalente a seis dólares a cada dez dias para doze.
Acabou a neve no teto do mundo – Nem mesmo as alturas do Himalaia, a cordilheira que possui os picos mais elevados do mundo, parece a salvo das consequências das mudanças climáticas atualmente em curso. Samjung, no Nepal, uma aldeia histórica situada a 4 mil metros de altitude, parece destinada a se tornar um dos lugares-símbolos da crise: todos os seus moradores tiveram de partir ao longo do último ano.
Mesmo estando no teto do mundo, Samjung há três anos não vê sequer um floco de neve. E eram justamente as nevascas que ditavam o calendário sazonal, determinando quando se plantavam as culturas de cevada, trigo-sarraceno e batatas, ou influenciando o bem-estar do gado nos pastos. Sem neve, nada de água liberada com regularidade. Porque, em vez disso, os fenômenos meteorológicos extremos se intensificaram, com inundações que arrasaram as casas construídas com tijolos de barro. E assim Samjung perdeu suas poucas centenas de habitantes e se tornou uma vila fantasma, fechada por conta da seca.
Os ex-habitantes de Samjung juntam-se à já extensa lista de migrantes climáticos, ou seja, populações forçadas a se deslocar porque o aumento das temperaturas globais torna seus locais de origem inabitáveis. Os cientistas preveem que, até o final do século, as áreas áridas da Terra subirão de 31% para 34%. Até 80% do volume das geleiras do Hindu Kush e do Himalaia pode desaparecer neste século se as emissões de gases de efeito estufa não forem drasticamente reduzidas. E algumas ilhas do Pacífico podem se tornar inabitáveis até 2050.
Povo de Tuvalu se torna australiano – Tem mais: Justamente nestes dias, 3 mil habitantes de Tuvalu, um Estado insular polinésio, participaram da seleção para os 280 vistos oferecidos anualmente pela Austrália, como parte de um acordo de migração climática que o governo de Canberra definiu como “o primeiro do tipo no mundo”. Os 280 afortunados fazem as malas e se tornam cidadãos australianos. Quem, entre os 10 mil habitantes da ilha, não conseguir emigrar para a Austrália ou encontrar um novo destino, terá de enfrentar o aumento do nível do mar que, em 25 anos, poderá submergir mais da metade da capital, Funafuti.
Nos picos mais altos da Terra, o êxodo já aconteceu: em Samjung só restam casas de barro em ruínas, terraços queimados pelo sol e santuários budistas tibetanos em decadência. A vida se foi, pois não existe vida sem água.
Cúpula de calor africano cobre a Europa – Tudo isso nesta primeira semana de Julho! Na Europa, uma cúpula de calor (ou “heat dome”) de origem africana permanece sobre o Velho Continente, com temperaturas anormalmente elevadas, frequentemente acima de 40 °C nas regiões mais afetadas. Os registros extremos mais recentes assinalam: Até 46,6 °C em Mora (Portugal) no dia 29 de junho; picos de 46 °C em Huelva (Espanha) em julho. Na Alemanha, Andernach atingiu 39,3 °C, maior marca do ano. Temperaturas mínimas tropicais
(~27 °C) em Valência, algo nunca antes registrado. Em Roma e em Cagliari, na Sardenha, picos de 42 graus. Temperaturas até 10 graus acima das médias da atual estação.
E tem negacionista por aí dizendo que o aquecimento global não existe…
FOTO: Pixabay
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/calor-mortal-incendios-e-secas-a-fatura-do-clima-chegou