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Chefe do Pentágono ameaça Hemisfério Sul. Celso Amorim diz que isso é extremamente preocupante

Foi aceso o alerta sobre a “operação contenção” ser uma resposta ao apelo de Flávio Bolsonaro para que os EUA bombardeassem também navios na baía de Guanabara.

O embaixador, ex-chanceler e assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, recebeu com preocupação a notícia do secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, de que o seu país tem em mente realizar a “Operação Lança do Sul”, “nas Américas”, varrendo, segundo ele, o risco do “narcoterrorismo”, um termo que eles decidiram colocar no lugar do arcaico e desprestigiado “anticomunismo”, que já não engaja mais.

Pego de surpresa ao cair da noite desta quinta-feira (13/11), com a “ameaça” do chefe do Pentágono, Hegseth, e depois de uma semana cheia de trabalho na COP-30, onde acompanha cada passo do presidente Lula nas discussões sobre a crise climática, ao saber da ameaça estadunidense de “expulsar os narcotraficantes do Hemisfério Ocidental”, reagiu:

“Não posso dar uma posição oficial, sem falar com o Itamaraty e submeter o assunto ao presidente. Pessoalmente, acho extremamente preocupante qualquer tipo de ação militar unilateral na América Latina, seja qual for a alegação. Consequências são imprevisíveis”.

Durante os últimos anos, depois do desastre das ditaduras sanguinárias, que só obtiveram como resultado o atraso, a ameaça comunista virou uma espécie de espantalho no arrozal, uma figura inofensiva, que fica ali, sob sol e chuva, sem função. Não assusta a mais ninguém. Desta forma, para transferir a hegemonia estadunidense do Oriente Médio – onde já deram o que tinha de dar, com fracassos retumbantes, como a saída atabalhoada do Afeganistão, e os 20 anos de degradação do Iraque -, agora se voltam apara a América Latina. Nesse território, há riquezas mais modernas, como o lítio e minerais críticos – o Brasil é a segunda reserva de terras raras do planeta -, e o petróleo da Venezuela, calculado em 303,4 bilhões de barris.

São riquezas que, se exploradas com autonomia pelos países que as possuem, podem resultar num impulso para a região, vista pelos estadunidenses como “quintal”. Ainda mais em tempos de construção de um multilateralismo que eles temem mais que ao diabo.

Até aqui, a AL via as ameaças de Trump tão assustadoras como as de invadir e tomar a Groenlândia e o Canadá. Porém, com a subida de tom feita na noite desta quinta-feira, o mais correto é ligarmos o alerta e, tal como Celso Amorim, atinar para as “consequências imprevisíveis” e ter o seu olhar de preocupação.

Se Amorim, tido como um dos maiores expoentes da diplomacia mundial, está vendo desse jeito, não temos motivos para negligenciar do que está se passando no mar do Caribe, onde 20 barcos, a princípio de pescadores, (porque os EUA não tiveram interesse de apurar, não comprovaram que são terroristas e tampouco traficantes de drogas), são afundados envoltos numa bola de fogo, sem deixar ninguém vivo para desmenti-los.

Até então, as ações se passavam no mar, espreitadas pelo porta-aviões USS Gerald Ford. De acordo com fontes ouvidas pela rede CBS, parceira da BBC nos Estados Unidos, porém, membros do alto escalão do governo apresentaram a Trump, na quarta (12/11), opções para possíveis ações na Venezuela, como bombardeios em terra nos próximos dias.

Hegseth teria estado presente no encontro, assim como o general Dan Caine, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA. Entretanto, nenhuma decisão definitiva sobre o formato da operação teria sido tomada. Segundo a CBS, as conversas resultaram no anúncio da operação “Lança do Sul” nesta quinta. Observem que até então, as notícias eram em torno de uma invasão à Venezuela. Agora Hegseth fala em “hemisfério Sul”, o que nos engloba, é claro.

Para os que costumam ligar os pontos, aos primeiros acordes fúnebres da tragédia que vitimou 121 pessoas no Rio, foi aceso o alerta sobre ser a “operação contenção”, do governador Claudio Castro, uma resposta ao apelo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), para que os EUA bombardeassem também navios na baía de Guanabara. (Esse artigo escrito na tarde da tragédia carioca: https://www.brasil247.com/blog/governador-do-rio-parece-querer-aticar-a-ideia-de-que-o-brasil-e-a-capital-do-narcotrafico ).

A ação, que tinha como função caracterizar o Brasil como um país “narcoterrorista”, reverberou no mundo todo. Ou seja, cumpriu em parte esse papel. Agora, é esperar para ver até onde irá o alcance dos mísseis estadunidenses, uma vez que o chefe do Pentágono falou em “Hemisfério Sul”. O nosso país tem cerca de dois mil quilômetros de fronteira seca com a Venezuela. Uma invasão por terra, nos deixa vulneráveis. Amorim tem razão de estar apreensivo. É mesmo muito preocupante.

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/chefe-do-pentagono-ameaca-hemisferio-sul-celso-amorim-diz-que-isso-e-extremamente-preocupante