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China amplia domínio sobre minerais estratégicos e desafia os Estados Unidos

Reportagem do The New York Times mostra como Pequim transformou o controle das terras raras em instrumento de poder econômico e geopolítico.

247 – A China consolidou seu domínio sobre os chamados minerais críticos — insumos essenciais para a fabricação de produtos de alta tecnologia e armamentos — e passou a usá-lo como uma poderosa ferramenta de política internacional. Segundo reportagem do The New York Times, o governo chinês vem adotando desde o ano passado uma série de medidas rigorosas para controlar as exportações desses materiais, reforçando sua posição como principal fornecedor mundial.

Esses minerais, conhecidos como terras raras, são indispensáveis para a produção de semicondutores, veículos elétricos, turbinas eólicas, satélites e equipamentos militares. A China é o único país que domina todas as etapas da cadeia produtiva: mineração, refino e fabricação de ímãs de terras raras. Detém o monopólio do samário — metal usado em aplicações militares — e é o único produtor do disprósio ultrapuro, fundamental para chips de altíssimo desempenho.

Escalada regulatória e controle global

O processo de restrição começou em outubro de 2024, quando Pequim passou a exigir que exportadores chineses apresentassem informações detalhadas sobre o destino e o uso dos metais vendidos ao exterior. Essa medida deu ao Ministério do Comércio um mapeamento preciso das cadeias globais de suprimentos.

Em dezembro do mesmo ano, o governo suspendeu o envio de quatro metais estratégicos aos Estados Unidos — gálio, germânio, antimônio e tungstênio — usados em semicondutores e munições. Foi uma retaliação direta às sanções americanas que restringiram o acesso chinês a chips avançados.

Nos meses seguintes, as restrições se intensificaram. O Ministério do Comércio chinês passou a controlar também sete dos 17 elementos de terras raras e os ímãs produzidos com eles, interrompendo exportações não apenas aos Estados Unidos, mas a diversos países. No início de outubro de 2025, Pequim bloqueou a transferência de tecnologias relacionadas à mineração e ao refino desses materiais e proibiu a exportação de equipamentos essenciais ao seu processamento.

Arma econômica e geopolítica

De acordo com o New York Times, as medidas deram à China uma influência sem precedentes sobre cadeias produtivas globais. O país não apenas consolidou seu papel de fornecedor dominante, mas passou a definir o ritmo de funcionamento de indústrias inteiras no Ocidente. A escassez de terras raras e metais críticos já começa a afetar montadoras, fabricantes de chips e empresas de defesa nos Estados Unidos, Europa e Japão.

O controle chinês sobre esses recursos tornou-se um ponto central de atrito com Washington. O tema deve ser abordado no encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder chinês Xi Jinping. Autoridades americanas temem que as restrições prejudiquem a segurança industrial e tecnológica do país e acusem Pequim de usar o comércio como ferramenta de pressão estratégica.

Impactos e riscos para o Ocidente

Enquanto a China reforça sua posição como potência mineral, países dependentes de seus insumos enfrentam um dilema: acelerar o desenvolvimento de cadeias produtivas próprias ou aceitar as condições impostas por Pequim. A incerteza sobre licenças de exportação e o risco de novos embargos já afetam os preços globais e ameaçam a continuidade de linhas de produção em setores-chave da economia mundial.

A reportagem do New York Times conclui que a China, ao controlar a extração, o refino e a exportação de minerais críticos, assumiu o papel de árbitro da nova economia tecnológica — e mostrou ao mundo que a guerra do futuro pode ser travada não apenas com armas, mas com recursos naturais estratégicos.

FOTO: GEOSCAN

FONTE: https://www.brasil247.com/economia/china-amplia-dominio-sobre-minerais-estrategicos-e-desafia-os-estados-unidos