O Brasil tem 214 milhões de habitantes, segundo dados de 2022 do IBGE e do Ministério da Previdência. Deste total, 98 milhões de pessoas estão ocupadas, ou seja, trabalham de alguma forma, e 75 milhões estão não-ocupadas, o que inclui desempregados, estudantes, pessoas dedicadas ao trabalho doméstico não remunerado e aposentados. Há ainda um grupo expressivo de 41 milhões de pessoas com 13 anos ou menos, que representa a próxima geração que em breve entrará no mercado de trabalho.
Dentro do grupo dos ocupados, há uma grande diversidade de formas de inserção laboral. Cerca de 35,9 milhões trabalham com carteira assinada no setor privado (regime CLT), que representa a forma mais tradicional e formal de emprego. Outros 12,9 milhões trabalham no setor privado sem carteira assinada, compondo o mercado informal. Essa informalidade revela desafios importantes de proteção social e arrecadação tributária para o país.
O trabalho por conta própria, ou seja, empreendedores individuais e autônomos, reúne 25,5 milhões de pessoas — um contingente expressivo que mostra a força do empreendedorismo no Brasil, mas também a precarização de parte desse grupo. Há ainda 11,9 milhões de empregados no setor público, que garantem serviços essenciais e têm estabilidade no emprego, e 5,8 milhões de trabalhadores domésticos, um dos grupos mais vulneráveis historicamente. Um grupo menor, mas relevante, é o de 4,2 milhões de empregadores, que geram postos de trabalho e dinamizam a economia.
As pessoas não-ocupadas somam 75 milhões e englobam diferentes situações: há os desempregados procurando emprego, os inativos por escolha ou necessidade e aqueles que vivem de aposentadorias, pensões ou programas sociais. Apenas em aposentadorias, há 22,2 milhões de beneficiários; pensões por morte somam 8,2 milhões. Programas de transferência de renda, como o Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família), alcançam 19,3 milhões de pessoas, desempenhando papel crucial na redução da pobreza extrema.
Este retrato mostra um país em que metade da população está ativa no mercado de trabalho e metade está fora dele, seja por idade, estudo, aposentadoria ou falta de oportunidade. Isso cria desafios de financiamento da previdência e da seguridade social, pois a população economicamente ativa precisa sustentar uma parcela crescente de inativos, especialmente em um país que está envelhecendo rapidamente.
Por fim, o gráfico evidencia que o Brasil enfrenta uma agenda complexa: aumentar a formalização do emprego, ampliar a produtividade, garantir sustentabilidade fiscal e manter políticas sociais que reduzam desigualdades. Cada número reflete não apenas estatísticas, mas histórias de milhões de brasileiros, e serve como base para políticas públicas que precisam equilibrar crescimento econômico, proteção social e inclusão.

O Brasil e a Explosão de CNPJs: O Desafio da Identificação Empresarial
Nos últimos anos, o Brasil assistiu a um crescimento impressionante no número de empresas formalizadas. O Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), criado para identificar de forma única cada entidade empresarial, já ultrapassou a marca de 64 milhões de registros, somando empresas ativas e inativas. Esse crescimento acelerado é reflexo direto de transformações no mercado de trabalho, no empreendedorismo e na economia digital.
Grande parte desse aumento se deve à popularização do MEI (Microempreendedor Individual), regime simplificado que facilita a formalização de pequenos negócios e autônomos. Com a pejotização de profissionais liberais e o surgimento de novos empreendedores, a base de CNPJs cresceu em ritmo recorde. Hoje, mais de 25 milhões de estabelecimentos estão efetivamente ativos, representando o coração da atividade econômica do país.
Esse fenômeno, no entanto, trouxe um problema inesperado: o risco de esgotamento das combinações numéricas do sistema de CNPJs. Com 14 dígitos exclusivamente numéricos, o cadastro tem um número finito de combinações possíveis. Diante do ritmo de novas aberturas, a Receita Federal já se prepara para modernizar o sistema. A partir de 2026, o CNPJ passará a aceitar letras e números, criando um formato alfanumérico e garantindo que o registro continue disponível para novas empresas nas próximas décadas.
O aumento de CNPJs também reflete mudanças estruturais na economia. Muitos trabalhadores que antes estavam no emprego formal migraram para o empreendedorismo ou para o modelo de prestação de serviços como pessoa jurídica, uma tendência que se acelerou após a pandemia. Esse movimento traz impactos fiscais, trabalhistas e previdenciários, exigindo atualização das políticas públicas.
Apesar dos desafios, o crescimento da base de CNPJs é sinal de dinamismo econômico. Cada novo número representa uma tentativa de geração de renda, inovação e criação de valor. Ao mesmo tempo, o esgotamento do modelo atual mostra que o país precisa constantemente adaptar sua infraestrutura institucional para acompanhar a transformação produtiva.
O Brasil vive, assim, uma fase paradoxal: de um lado, celebra o empreendedorismo e a capacidade de milhões de brasileiros se formalizarem; de outro, precisa repensar seu sistema de registros para que ele continue sendo uma ferramenta de inclusão, simplificação e segurança jurídica para empresas de todos os portes. O novo CNPJ alfanumérico será um passo importante nesse caminho.
FONTE: https://www.paulogala.com.br/como-a-populacao-brasileira-esta-dividida-um-retrato-da-estrutura-social-e-economica/