Garantia do FGC e incentivos aos agentes ampliaram vendas de CDBs do banco, cuja liquidação já exige o maior resgate da história.
247 – A liquidação do Banco Master voltou a colocar as plataformas de investimento no centro do debate sobre riscos, incentivos e supervisão. Nesta linha, segundo a agência Bloomberg, o Master cresceu de forma acelerada impulsionado principalmente pela XP, maior corretora do país, que liderou a venda de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) da instituição. A plataforma distribuiu cerca de R$ 26 bilhões em papéis do banco nos últimos anos, o que permitiu que a carteira de crédito do Master avançasse, em média, 86% ao ano.
O papel da XP na expansão acelerada do Master
A XP, maior corretora de varejo do país, vendeu mais CDBs do Master do que qualquer outra instituição. A operação tinha um componente decisivo: a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que permitia oferecer os títulos como alternativas seguras ao investidor comum. A proteção somada a rendimentos que chegavam a 140% do CDI tornava os papéis especialmente atraentes. Enquanto grandes bancos ofereciam 100% do DI ou menos, o Master chamava atenção pela rentabilidade muito acima da média.
Comissões e incentivos que impulsionaram a venda de CDBs
O modelo de captação do Master dependia da emissão de títulos com prazos longos, o que gerava comissões mais altas imediatamente aos agentes autônomos. O desenho criou questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse.
“Eu vejo nitidamente um conflito de interesse que tem de ser mudado”, afirmou Cleveland Prates, professor da Fundação Getulio Vargas, em entrevista à Bloomberg News. Segundo ele, o formato leva assessores a “oferecerem um CDB de um banco de mais risco, com taxa absurdamente alta, e ganhando comissão sobre isso”. Em comunicado à Bloomberg, a XP informou que a remuneração média para produtos de renda fixa é de 0,3% ao ano, percentual inferior ao de outras classes da plataforma.
A dependência crescente das plataformas de varejo
Nos últimos anos, a venda de títulos bancários por plataformas tornou-se um dos principais motores de financiamento para instituições de menor porte. Segundo dados citados pela reportagem, metade dos bancos do país já obtém mais de 20% de seus recursos nesse mercado.
Outras plataformas também comercializaram títulos do Master. O BTG Pactual vendeu R$ 6,7 bilhões e suspendeu novas ofertas no fim de 2024. A Easynvest, adquirida pelo Nubank, vendeu cerca de R$ 2,9 bilhões, metade antes da compra. O Nubank interrompeu a distribuição em julho do ano passado. BTG e Nubank não comentaram à agência.
Prisão do presidente do Master e avanço das investigações
A crise se agravou após a prisão do presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, investigado sob suspeita de fabricar carteiras de crédito falsas vendidas ao Banco de Brasília (BRB). Ele foi solto no dia 29 por decisão da desembargadora Solange Salgado, do TRF-1, que determinou uso de tornozeleira eletrônica e outras restrições. A defesa nega as acusações.
Impacto bilionário sobre o FGC e o sistema bancário
A liquidação do Master desencadeou o maior pagamento da história do FGC: R$ 41 bilhões a 1,6 milhão de credores. O valor pode chegar a R$ 55 bilhões caso outras instituições ligadas ao caso também sejam liquidadas. O fundo possui R$ 160 bilhões em ativos e cerca de R$ 122 bilhões em liquidez, mas terá de ser recapitalizado já no início do ano que vem. Jairo Saddi, ex-presidente do conselho do FGC, afirmou: “Precisamos mudar o arranjo. Outros precisam participar dessa conta, discutir responsabilidades.”
Pressão por mudanças regulatórias no modelo de distribuição
A disparidade entre quem distribuiu e quem pagará a conta reacendeu o debate público. Plataformas como a XP contribuem pouco para o FGC, enquanto grandes bancos — que venderam poucos ou nenhum CDB do Master — arcarão com a maior parte da recapitalização, custo que tende a recair sobre seus clientes por meio de spreads mais altos.
Analistas citados pela Bloomberg avaliam que o Banco Central deve reforçar a supervisão, especialmente sobre instituições que dependem de forma intensa do FGC. Há quem sugira limites para juros garantidos pelo fundo e maior diversificação das fontes de financiamento.
Christian Keleti, diretor-executivo da Alpha Key Capital, avaliou que, embora o FGC absorva as perdas, “no final, os grandes bancos acabarão pagando a conta, e eles não são os principais culpados”.
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FONTE: https://www.brasil247.com/economia/crise-do-banco-master-expoe-riscos-das-plataformas-de-investimento