Editorial critica tarifas impostas por Washington, que resultaram em prejuízos bilionários para agricultores e aumento da tensão nas negociações bilaterais.
247 – A crise enfrentada pelos produtores de soja nos Estados Unidos voltou a expor os efeitos negativos da guerra comercial contra a China. Segundo editorial publicado pelo jornal chinês Global Times neste domingo (15), agricultores norte-americanos estão “perdendo bilhões de dólares em vendas de soja para a China, justamente no auge da temporada de comercialização” (fonte original).
O texto ressalta que, desde os anos 1990, a demanda chinesa transformou o setor agrícola dos EUA, impulsionando inovação, modernização de linhas de produção e criação de empregos. Durante décadas, metade das exportações de soja norte-americana teve como destino a China. “Um único grão de soja pode parecer pequeno, mas reflete que China e EUA são parceiros naturais na cooperação agrícola, destacando a essência ganha-ganha das relações econômicas e comerciais bilaterais”, afirma o editorial.
Impacto direto nos agricultores
Com a safra em andamento, cresce a insatisfação entre produtores que relatam dificuldades inéditas para escoar a produção. Muitos dizem estar prestes a colher sem ter pedidos de compra da China, algo inédito em anos recentes. Vídeos publicados em redes sociais mostram agricultores expressando desespero por não conseguirem vender sua produção, apesar de terem colhido mais do que o normal.
Em agosto, o presidente da American Soybean Association, Caleb Ragland, enviou carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pedindo que o governo busque rapidamente um acordo com a China para aliviar a crise no setor.
Efeitos da guerra comercial
O impasse se intensificou após Washington impor tarifas elevadas sobre produtos chineses, o que levou Pequim a retaliar com tarifas sobre a soja e outros bens norte-americanos. Como consequência, empresas chinesas buscaram fornecedores alternativos, principalmente no Brasil e na Argentina, além de reforçarem reservas estratégicas para garantir segurança alimentar.
O Global Times critica a postura de Washington de usar produtos agrícolas como “moeda de troca” em disputas políticas e comerciais. O editorial afirma que a narrativa de que a China estaria “armando a soja” ignora que foram os EUA que iniciaram tarifas injustificadas e que cabe a compradores chineses diversificar sua oferta para proteger a cadeia de suprimentos.
Custos internos para os EUA
Além dos prejuízos aos agricultores, o texto destaca que a economia dos EUA também sofre os efeitos das tarifas, que contribuem para inflação elevada, desemprego e risco de “pouso forçado” econômico. Segundo o editorial, o uso político de sanções e restrições à exportação não apenas erode a confiança mútua, mas também encarece negociações e aumenta os custos de produção.
O Departamento de Comércio dos EUA anunciou em 12 de setembro novas sanções contra empresas chinesas, apenas dois dias antes do início das conversas em Madri. Para Pequim, a medida lança dúvidas sobre as reais intenções de Washington. “O respeito mútuo é condição necessária para iniciar uma nova rodada de negociações”, observou o porta-voz do Ministério do Comércio da China.
Caminho para o diálogo
Apesar das tensões, nos últimos meses equipes econômicas de ambos os países realizaram três rodadas de negociações em Genebra, Londres e Estocolmo, alcançando consensos parciais. O editorial defende que “a cooperação em condições de igualdade é o caminho correto” e lembra que o comércio bilateral saltou de menos de US$ 2,5 bilhões para mais de US$ 680 bilhões em 2024.
Para a publicação chinesa, insistir em sanções, isolamento e bloqueios apenas aumenta os custos e gera expectativas negativas. O texto conclui que o mundo observa com atenção as negociações em Madri, esperando que China e EUA avancem pelo caminho do diálogo e da cooperação, de forma a estabilizar a ordem econômica internacional.
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FONTE: https://www.brasil247.com/globaltimes/crise-dos-produtores-de-soja-nos-eua-expoe-fracasso-da-guerra-comercial-com-a-china-aponta-global-times