Combate ao narcotráfico serve como pretexto para controlar o petróleo venezuelano.
247 – Tropas dos Estados Unidos, vinculadas ao Comando Sul, farão exercícios militares conjuntos com as forças de Trinidad e Tobago entre 16 e 21 de novembro. A informação foi divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores de Trinidad e Tobago, conforme noticiado pelo RT Brasil.
O governo do país caribenho afirmou que a iniciativa “demonstra a sólida aliança” com Washington e integra uma colaboração militar “longa, frutífera e contínua” com o Comando Sul. O comunicado destaca que o exercício tem como objetivo promover “intercâmbio militar”, permitindo que as equipes de ambos os países conheçam equipamentos, táticas e técnicas utilizadas nas operações, inclusive com helicópteros, em ambientes urbanos e rurais.
Trinidad e Tobago argumentou que enfrenta um “flagelo” relacionado à violência armada e à atuação de gangues, justificando que a presença norte-americana integra a estratégia nacional de segurança. “Trinidad e Tobago continua sofrendo com o flagelo dos crimes com armas de fogo e da violência das gangues”, afirma o documento, que atribui o exercício a políticas prometidas no programa eleitoral do governo, incluindo a missão de “restabelecer a ordem”.
Escalada militar dos EUA reforça percepções de que o discurso antidrogas é um pretexto
A operação ocorre poucos dias após o secretário de Guerra dos EUA, Peter Hegseth, anunciar a “Operação Lança do Sul”, apresentada como ofensiva destinada a “eliminar os narcoterroristas” do hemisfério ocidental. Ele afirmou que a iniciativa visa “proteger” os Estados Unidos “das drogas que estão matando” seus cidadãos, mas não ofereceu detalhes sobre alcance, armamento ou número de tropas.
A retórica de Washington, no entanto, tem sido amplamente questionada por diversos governos e especialistas — e por autoridades venezuelanas — que denunciam o uso do combate às drogas como pretexto geopolítico. Estados Unidos e Venezuela são países sem fronteira terrestre e com rotas marítimas altamente militarizadas; mesmo assim, Washington intensificou a presença militar na região desde agosto, com destróieres, submarinos, aviões de combate e bombardeios contra embarcações no Caribe e no Pacífico, que já deixaram mais de 70 mortos.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos acusam o presidente Nicolás Maduro de chefiar uma organização de narcotráfico — uma acusação sem provas, repetida desde o governo de Donald Trump.
Venezuela denuncia agressão e diz que objetivo é o petróleo
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirma que Washington intensificou uma campanha para “mudar o regime” em Caracas e recuperar o controle sobre a “imensa riqueza petrolífera” do país. Para as autoridades venezuelanas, as ações de Washington configuram uma ofensiva multilateral, acompanhada por campanhas de difamação, que tenta criar um ambiente político favorável a intervenções militares.
Maduro declarou que o discurso antidrogas serve como cortina de fumaça: a verdadeira motivação, segundo ele, é estratégica e energética, alinhada ao histórico dos EUA de pressionar governos que administram grandes reservas de petróleo fora de sua influência direta.
Reações internacionais: temor de desestabilização no Caribe
A movimentação militar dos Estados Unidos já despertou preocupação global. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse esperar que Washington evite ações que possam desestabilizar o Caribe e os arredores da Venezuela. Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, afirmou que Moscou se opõe ao uso da força pelos EUA contra o país sul-americano.
O chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, classificou como “falácia” a justificativa norte-americana e acusou Washington de promover um “desdobramento militar desproporcional, extraordinário, mobilizado sob falsos pretextos”.
Já o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, declarou que a destruição de embarcações sem julgamento ou processo é “inaceitável” e típica de “países fora da lei”. Ele advertiu que a política de Washington “não melhorará a reputação” dos Estados Unidos perante a comunidade internacional.
ONU e países latino-americanos também condenam as ações
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, criticou os bombardeios, que atingem embarcações de pequeno porte, e governos como Colômbia, México e Brasil também expressaram preocupação.
Especialistas classificam os ataques como “execuções sumárias” que violam o direito internacional — um alerta que reforça a visão de que o avanço militar norte-americano está muito mais relacionado à disputa geopolítica por energia e influência regional do que a um combate real ao narcotráfico.
Foto: Divulgação I Logan Goins/Marinha dos Estados Unidos
FONTE: https://www.brasil247.com/americalatina/de-olho-no-petroleo-eua-realizam-exercicios-militares-em-pais-vizinho-a-venezuela