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Destruição x cooperação: choque dialético global China x EUA no século XXI

O império sob o presidente Donald Trump abandonou a pax americana.

O fascismo, crise aguda do capitalismo, leva a humanidade a um tempo de destruição que abala a democracia, condenando-a à mera representatividade sem força política, cristalizando-se como conceito de desutilidade histórica.

Se deixa de ser útil, conforme a lei maior do capitalismo, que é a utilidade, a ideologia utilitarista deixa, então, de ser verdade.

O império sob o presidente Donald Trump abandonou a pax americana.

Rasgou a máscara.

Agora, é tempus belli, velha guerra de conquista.

Em cena global, a ideologia da destruição.

A democracia é incompatível com a agressividade da guerra.

O governo Trump prometeu uma coisa e fez outra.

Ambiguidade total.

As guerras, disse em campanha, iriam acabar.

O presidente tinha por meta recuperar a indústria nacional mediante protecionismo comercial como antídoto à perda de competitividade para a China.

O propósito de Trump falhou, porque a China está ganhando a competição comercial e, pior para os Estados Unidos, abrindo e ampliando mercados.

Filosofia chinesa anti-guerra, maior inimiga

Maior produtividade, maior conhecimento, maior espírito de cooperação — enfim, filosofia anti-guerra — colocou a China na vanguarda do objetivo maior da população mundial: o desenvolvimento com justiça social e distribuição de renda.

O discurso chinês pela produtividade cooperativa matou o discurso agressivo, isolacionista e egoísta trumpista.

A alternativa Trump, fracassado em seu propósito inicial de criar uma era de paz fortalecendo a indústria americana com protecionismo, foi render-se à lógica do capitalismo de guerra — arma desenvolvimentista do império americano, substituto do imperialismo inglês.

Com o argumento de guerra para salvar Israel, detonou a economia belli e enterrou a economia neoliberal anti-funcional, protecionista, que aceleraria a decadência americana.

Seria voltar ao laissez-faire, que leva à deflação e à destruição de capital.

Opção pela deflação, como disse Keynes, é um erro eterno.

Máquina de guerra combate multilateralismo

Trump partiu para a guerra, levando o capital americano novamente aos conflitos externos para ativar a máquina de produção bélica e espacial, que depende do aumento dos gastos do governo como cliente consumidor de guerra.

Os gastos públicos em guerra são proporcionalmente crescentes para puxar a demanda global.

A estrutura produtiva e ocupacional imperial precisa vender armas para sustentar a acumulação capitalista imperialista expansionista, anti-cooperativa, por ser intrinsecamente agressiva, em termos geopolítico e econômico.

Principal inimiga

Trump, como todos já perceberam, quer dominar o Irã, como pretexto para disputar a hegemonia com a China, alvo principal da economia de guerra.

O Irã, por sua vez, é a peça-chave do multilateralismo chinês que, de acordo com os estrategistas americanos, precisa ser destruído.

Se Trump conseguisse essa façanha, os Estados Unidos controlariam o Estreito de Ormuz para enforcar os chineses, dependentes do petróleo iraniano que passa pelo famoso canal estratégico.

Interrompê-lo afetaria as relações globais em conflito, no tempo da destruição imperialista, que tenta subjugar o tempo da construção cooperativa pregado pela China.

Trump, portanto, invadiu o Irã para aprofundar a guerra contra a China, que ganha a concorrência comercial dos Estados Unidos.

Visão ideológica chinesa esvazia dólar

O nacionalismo internacionalista chinês, movendo-se rumo ao socialismo, abre novos mercados pelo apelo à cooperação.

Dessa forma, dita nova ideologia cooperativa global, alternativa ao utilitarismo capitalista de guerra.

Ao mesmo tempo, esvazia — com expansão dos mercados por mercadorias chinesas — o valor do dólar, reduzindo sua influência como moeda hegemônica.

A produtividade chinesa acelerada desdolariza e desvaloriza o dólar, enquanto valoriza o yuan chinês nas relações de trocas globais.

A economia de guerra, que produz não-mercadorias (produto bélico e espacial consumido pelo gasto estatal) para a destruição, tem, portanto, na produtividade chinesa seu inimigo principal, que precisa ser destruído.

Caso contrário, a produtividade chinesa acelerada desloca o dólar como moeda hegemônica.

A guerra contra o Irã é o preparativo para a grande guerra, que visa atacar a produtividade chinesa — imparável por propor um propósito cooperativo global, a nova ideologia multilateralista para combater o marginalismo utilitarista ideológico.

Palestina, o laboratório da destruição

O massacre dos palestinos, do ponto de vista do império americano, é a chama da guerra que precisa estar acesa para guerrear os chineses, em vantagem na disputa capitalista global.

A produtividade da economia de guerra, que se alimenta da própria guerra, requer a ampliação constante dos conflitos, para gerar subprodutos que se transformarão em objeto de consumo tecnológico, fomentando individualismo agressivo, anti-cooperativo.

A Palestina sob massacre é o treinamento da agressão expansionista imperialista trumpista.

Trump keynesiano

Trump, portanto, partiu para a economia de guerra como resultado da derrota na guerra tarifária, seu projeto original para fortalecer o capitalismo americano.

Era o sonho de uma noite de verão do presidente megalomaníaco.

Agora, ele aprendeu a lição, a mesma que Keynes ditou para o presidente Roosevelt, em 1936:

 “Penso ser incompatível com o capitalismo que o governo eleve seus gastos na escala necessária capaz de fazer valer a minha tese — a do pleno emprego —, salvo em condições de guerra. Se os Estados Unidos se insensibilizarem para a preparação das armas, aprenderão a conhecer sua força.”
(Lauro Campos, em A crise da ideologia keynesiana, ed. Boitempo, 2012).

Trump agora, sob pressão da indústria armamentista, insiste na trilha keynesiana ao apostar na força e abandonar a trilha neoliberal do protecionismo comercial, incompatível com a expansão do poder imperial.

Colapso do neoliberalismo

Sem a guerra, a expansão não existe, e o capitalismo neoliberal retorna à crise de 1929, propensa à expansão da hiperinflação, se não for contida por dívida pública, em modelo antineoliberal.

Eis o sentido maior das bombas que o presidente Trump mandou jogar no Irã para destruir suas usinas atômicas.

Com esse tiroteio, Trump age como quem já chegou lá, ou seja, ao apogeu, abalando o sistema iraniano nacionalista, apoiado pela Rússia e pela China.

Pode ser uma amarga ilusão.

O aiatolá Khamenei disse que o Irã não se abalou e que venceu a disputa com Israel, sucursal dos Estados Unidos no Oriente Médio.

O clima de guerra se desloca, agora, para Wall Street, intranquila diante da suposta mentira de Trump de que destruiu as usinas iranianas, ao contrário do que dizem especialistas e o governo iraniano.

O Irã resistente às bombas eleva a instabilidade bursátil, desvaloriza o dólar e aumenta a inflação.

Guerra pisa na democracia

O estado de guerra, portanto, permanece, a partir da ação intervencionista dos Estados Unidos para socorrer Israel contra o Irã, sem consultar o Congresso americano.

A democracia foi pisada por ações de guerra.

O império entrou em tempo de destruição como reprodução do capital.

Marx profetizou que, historicamente, o capitalismo desenvolveria ao máximo as forças produtivas, até entrar em crise de superacumulação e queda da taxa de lucro.

A partir de então, passa a produzir o oposto ao máximo: a expansão das forças destrutivas.

A economia de guerra é o âmago da macroeconomia política capitalista que, no limite, produz o fascismo.

Sem economia de guerra, o império não gera renda suficiente para sustentar a máquina imperialista expansionista.

A crise da ideologia keynesiana, que o ex-senador Lauro Campos, do PT, descreve como grande ensaio marxista, é dada pela incerteza financeira que a economia de guerra produz em forma de propensão popular à fuga pela liquidez — correndo aos bancos.

Guerra x perigo de pânico social

A solução keynesiana, que expande dívida pública como saída para a acumulação sem limites do capital, cria, com esse espírito social preventivo que teme a guerra e a destruição da poupança popular, o pânico nas bolsas.

A predominância da economia de guerra, que se nutre da financeirização global especulativa, cria riscos que tendem a sair do controle das elites imperialistas.

A China, com sua proposição oposta, aumenta o pânico do capital especulativo, propenso à guerra, sob risco de implosão financeira.

Os chineses fazem o contrário: promovem a cooperação global na África.

Os africanos entrarão na China mediante política tributária diferenciada, capaz de permitir competitividade aos seus produtos em relação aos demais países que disputam o cobiçado mercado da China.

Eis o novo choque global: a total incompatibilidade entre a economia de guerra imperialista trumpista e a economia da cooperação chinesa, como arma reflexo nos BRICS, é o novo antagonismo global dialético.

A China, do ponto de vista dialético, é a negação dos Estados Unidos imperialistas aos olhos da humanidade.

Guerra x Cooperação: quem vencerá?

Foto: CGTN

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/destruicao-x-cooperacao-choque-dialetico-global-china-x-eua-no-seculo-xxi