China dá xeque-mate na Nova Direita tupiniquim, obrigada a apoiar os chineses para garantir a base econômica que lhe sustenta politicamente no Congresso.
A Nova Direita (ND), reunida em Federação com União Brasil (UB)-Partido Progressista (PP), agora, maioria no Congresso, deverá adotar discurso de política externa favorável à China contra a guerra protecionista do presidente Donald Trump; sua base eleitoral – exportadores de commodities (agronegócio e mineração) – tende a ganhar mais poder político aliando-se aos chineses do que tentando manter relações amistosas com os americanos, que não têm interesse algum em fortalecer a economia nacional, atualmente dominada pelos setores agrícola e mineral.
A guerra tarifária trumpista joga o agronegócio e a mineração na esquerda, especialmente no momento em que a China, agredida por Trump, abandona os exportadores americanos de grãos, dando preferência para os agricultores brasileiros.
Nesse sentido, para estar ao lado dos chineses, os exportadores nacionais passarão a defender, mais determinadamente, a proposta de Xi Jinping de incrementar a Rota da Seda.
Nesse sentido, farão mais pressão sobre o governo Lula, que preferiu esfriar o assunto, no encontro com o líder chinês no Brasil no ano passado, a pedido do ex-presidente americano Joe Biden, do partido democrata.
A nova geopolítica global, depois da guerra tarifária detonada por Donald Trump, vira a política externa brasileira de cabeça para baixo quanto à opção brasileira diante da polarização Estados Unidos-China.
Os exportadores de commodities, beneficiados pelas importações chinesas de grãos e minérios, para sobreviverem econômica e financeiramente, precisam solidificar relações comerciais com a China, responsável por quase 40% das exportações agrícolas e minerais; sem elas, entrariam em bancarrota, levando, junto, os interesses nacionais como um todo para o buraco, num cenário em que a indústria nacional não tem condições de competir com a marca Made in China, nem com Europa, nem Estados Unidos, especialmente diante do protecionismo trumpista.
O agronegócio e o setor mineral nacional têm muito mais a ganhar, adotando relações com o partido comunista chinês, que garante previsibilidade para suas estratégias de investimento, do que com o capitalismo americano, ameaçado de bancarrota com a política tarifária trumpista, bombeadora de inflação e juros, ameaçando a estabilidade financeira do império de Tio Sam.
Nova direita e Lula unidos pelos BRICS – A reviravolta geopolítica provocada pelo trumpismo nacionalista protecionista, que se escorrega diante da China por não terem os Estados Unidos competitividade para disputar mercado mundial com os chineses, coloca a economia brasileira, dominada pelos exportadores de commodities, dependentes do mercado chinês e aliado incondicional da política chinesa.
Tal posição induz ao discurso do agronegócio em favor dos BRICS, onde a posição chinesa é dominante, propensa a um maior confronto com os Estados Unidos, estratégia essa que teria apoio dos exportadores brasileiros, forçando uma guinada diplomática brasileira pró-Rota da Seda.
A palavra de ordem é ganhar a confiança da China, da qual são dependentes econômica e financeiramente.
As condições objetivas da economia brasileira, dominada pelo setor primário exportador, dependente dos chineses, levam-na ao distanciamento de Washington, fato que refletirá diretamente no acirramento do governo Lula com o governo Trump.
Direita brasileira X direita trumpista – A contradição maior, nesse contexto, é que a direita brasileira, expressa na força econômica do setor primário exportador, tornou-se incompatível com a direita trumpista, enquanto sua compatibilidade se aprofunda em relação à China, sem a qual não sobrevive.
Por isso, ao se organizar para tentar chegar ao poder em 2026, a direita brasileira, articulada, a partir de agora, em torno da Federação União Brasil (UB)-Partido Progressista (PP), fica em situação contraditória e delicada quanto à relação com o governo Lula.
Ambos, Lula e Nova Direita, cujos partidos que a formam fazem parte da Frente Ampla lulista montada para ganhar a eleição de 2022 contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, estão, na prática, no mesmo barco, em matéria de prioridade econômica.
No plano econômico, portanto, Lula e a Nova Direita têm tudo a ver.
Como presidente dos BRICS, que se reúnem neste ano no Brasil, Lula passa a ser mais atrativo politicamente para a Nova Direita, no contexto da nova geopolítica global, na qual se encontra aliado à China, do que ser hostilizado por ela nas disputas no Congresso, para favorecer, por exemplo, ao bolsonarismo, esvaziado pela impossibilidade de Bolsonaro disputar a eleição em 2026.
Para piorar, para a Nova Direita, embora ela passe a dispor de maioria no Legislativo, não tem programa de governo, com perfil popular, nem candidato para competir com Lula, conforme anunciam pesquisas de opinião pública.
A complexidade política com a qual a Nova Direita, formada pela Frente UB-PP, passa a viver, implica sua nova e necessária atuação no parlamento em relação à política internacional no cenário da guerra tarifária trumpista nacionalista.
Seria um desastre para a ND apoiar a direita trumpista fascista, como defendem os bolsonaristas, sabendo que ela tem sua base econômica e política dependente da China para sobreviver.
Assim, a Nova Direita vive uma contradição: jamais pode apoiar Bolsonaro, aliado de Trump, sob pena de contrariar os chineses, que dão as cartas na economia mundial, especialmente a partir dos BRICS.
A direita brasileira, portanto, não apoia mais a direita americana trumpista, como fazem os bolsonaristas, visto que os seus interesses vitais não estão nos Estados Unidos, mas na China, com a qual Trump está em luta de vida e morte no ambiente protecionista.
Colapso americano em marcha – O capitalismo americano, ao priorizar o protecionismo agressivo, não consegue mais, como outrora, fortalecer a indústria americana, como aconteceu no final do século 19 até metade do século 20, por uma razão simples: a China ultrapassou os Estados Unidos em competitividade industrial.
Demoraria muito tempo para uma recuperação americana, atrasada tecnologicamente.
O protecionismo, dessa forma, traria, como fator de curto prazo, a inflação, que obrigaria o BC americano a tomar decisões ortodoxas, como elevar os juros para conter os preços.
O custo da dívida americana, na casa dos US$ 37 trilhões, aumentaria ainda mais, levando os compradores de títulos do tesouro americano a saírem do dólar, temerosos de um calote.
Haveria perigo de repeteco, em maior dimensão, da crise de 1929.
O mundo deixaria os Estados Unidos de lado e se voltaria para a China, a alternativa que está dando certo etc.
O Brasil, igualmente, teria – já está tendo – que abandonar a prioridade aos Estados Unidos para se aproximar mais velozmente dos chineses, como saída de sobrevivência.
Portanto, a alternativa Trump, de direita, à qual o bolsonarismo e seus apoiadores direitistas defendem pode deixar de ser solução.
Restaria à ND cair nos braços da China.
Afinal, ela, representante da base econômica ancorada no modelo econômico exportador de commodities – agricultura e minério de ferro –, financiado pelos juros subsidiados do Estado, tem como mercado principal a China, que compra a sua produção.
A retaliação chinesa a Trump passa a ser favorável aos exportadores nacionais, visto que os chineses estão abandonando o agronegócio americano para intensificar relação com o agronegócio brasileiro.
Ao sair do mercado da soja americano para o mercado da soja brasileiro, a China dá xeque-mate na Nova Direita tupiniquim, obrigada a apoiar os chineses responsáveis por garantir a base econômica que lhe sustenta politicamente no Congresso.
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FONTE: https://www.brasil247.com/blog/direita-passa-a-defender-a-china-para-garantir-sua-base-politica-dependente-dos-chineses-cqqct77b