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Discurso de Lula volta a ser hegemônico

Com o agravamento da crise diplomática entre Brasil e EUA, Lula retoma o discurso da soberania e amplia apoio político e popular no país.

O discurso espontâneo de Lula, ao se referir às suas origens, é o de um líder sindical. Condições salariais, garantia de emprego e direitos sociais são seus temas habituais.

“Um sujeito que nasceu em Caeté (interior de Pernambuco), que comeu pão pela primeira vez aos 7 anos, foi criado por uma mãe de 8 filhos e se tornou Presidente da República, não é um gringo que vai dar ordens a esse Presidente”.

Foi com essas origens em mente que Lula articulou seu discurso, priorizando políticas sociais no marco do combate ao neoliberalismo. Assim, ele foi eleito e reeleito presidente do Brasil no início deste século, passando de líder sindical a líder político e, depois, presidente do país. No contexto do combate ao neoliberalismo, esse discurso se tornou hegemônico no Brasil.

O mesmo discurso permitiu a eleição de sua sucessora, Dilma Rousseff, que só foi removida da presidência por meio de um novo golpe da direita: a guerra jurídica, a judicialização.

O mundo mudou desde então. A crise e o esgotamento do neoliberalismo chegaram, mas o capital financeiro especulativo permaneceu como o eixo da economia global.

De repente, Trump presenteou Lula com essa situação, guiado pelos sábios ensinamentos do filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, que parece ter se tornado a força motriz da política americana em relação ao Brasil. Ele chegou a ameaçar usar um porta-aviões para pousar no Brasil. Ficou claro que a tarifa de 50% era uma ameaça, caso o Brasil não encerrasse o processo contra Bolsonaro por suas responsabilidades na tentativa de golpe. Então, Lula assumiu seu terceiro mandato.

Lula aproveitou a situação para retomar o discurso da soberania — uma categoria do vocabulário nacionalista que parecia ter sido deixada de lado há muito tempo. Segundo Lula, um país soberano não permite que ninguém do exterior tente intervir nas decisões do Judiciário brasileiro, impondo uma tarifa brutal à economia do país.

O raciocínio era claro: tarifas de 50% até que a suposta perseguição a Bolsonaro — considerado por Trump um líder excepcional e mundialmente reconhecido — fosse encerrada. Uma decisão política, não econômica, que, no dia seguinte, foi acompanhada por uma ação judicial para investigar supostas irregularidades, inclusive ambientais, cometidas pelo governo brasileiro. Mais uma operação suicida do governo Trump.

Após declarações feitas no Congresso e em entrevista coletiva por Bolsonaro, ameaçando um membro do Tribunal Superior Eleitoral com sanções do governo americano, a mais alta corte do Brasil decidiu intervir. Uma operação às 6h da manhã na casa de Bolsonaro impôs o uso de tornozeleira eletrônica e diversas restrições, incluindo contato com seu filho, que está nos EUA, com quaisquer diplomatas e outras limitações, com o claro objetivo de impedir que Bolsonaro se isolasse na embaixada americana.

Nesse contexto, o apoio às posições de Lula se espalhou de líderes empresariais brasileiros, prejudicados pela tarifa de 50%, para a mídia, indignada com a postura da família Bolsonaro de prejudicar a economia brasileira em troca da revogação da proibição de Bolsonaro de concorrer à presidência. A busca pela anistia é o objetivo dos bolsonaristas.

O discurso de Lula, nesse contexto, recuperou a capacidade de se tornar hegemônico no Brasil, despontando como o defensor dos interesses do país. Quem consegue emergir como representante da soberania do país torna-se a maior expressão dos interesses nacionais.

Lula, mais uma vez, passa de líder sindical a estadista, de lutador pelos interesses econômicos e sociais a governante de todos os brasileiros. As pesquisas refletem isso, com o apoio crescente a Lula projetado para continuar aumentando. Sua reeleição parece cada vez mais provável, assim como a prisão de Bolsonaro.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/discurso-de-lula-volta-a-ser-hegemonico