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Em busca de consenso no G20, Brasil aposta no combate à fome e às mudanças climáticas

“O principal desafio do Brasil será conseguir uma comunicação conjunta relevante”, pontuou Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV.

A presidência brasileira do G20 colocou como prioridades temas convergentes entre a comunidade internacional e questões em que o Brasil tem credenciais e experiência para debater. É o que afirma o embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty e coordenador da trilha de sherpas (negociadores) do G20.

Entre as prioridades do Brasil, que ocupa a presidência rotativa do grupo, estão o combate à fome e às mudanças climáticas. A agenda brasileira e a capacidade de o país gerar consensos foram tema da primeira mesa do projeto G20 no Brasil, uma parceria entre Valor Econômico, “O Globo” e CBN.

Segundo Lyrio, os dois são temas capazes de gerar mais convergência dentro do fórum. Ele participou, por chamada de vídeo, do evento Kick-off G20 no Brasil”, realizado nesta quarta-feira (20) no Rio de Janeiro.

Citando o combate à fome, o embaixador defendeu que o Brasil tem capacidade de contribuir no debate ao mostrar sua experiência bem-sucedida de tirar o país do mapa da fome no início da década de 2010. Lyrio afirmou que, com essa credencial, o país pode liderar uma aliança global contra a fome e a pobreza.

“Além de ser uma questão social básica, o combate à fome também é importante do ponto de vista econômico social. Vimos que é possível haver uma inter-relação positiva entre inclusão e desenvolvimento”, explicou Lyrio.

Também no evento, o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, Oliver Stuenkel, afirmou que o Brasil precisa “tomar cuidado” para que questões geopolíticas não contaminem o debate técnico.

O especialista disse ainda que a presidência brasileira tem capacidade para criar uma ‘ponte’ entre os países do bloco, mas destacou que o contexto de escalada de conflitos globais impõe dificuldades para um consenso entre os países.

“O Brasil tem capacidade de ser ponte, mas não dá para superestimar essa capacidade porque ela depende dos pares. Achar consensos hoje é muito mais difícil do que era no passado”, disse.

O especialista lembrou ainda que na última cúpula de líderes do bloco – realizada no ano passado, na Índia – os negociadores enfrentaram dificuldades na elaboração de um documento conjunto.

“O principal desafio do Brasil será conseguir uma comunicação conjunta relevante”, pontuou.

Em fala inicial no seminário, o embaixador Mauricio Lyrio afirmou que o G20 se tornou o mais importante foro de diálogo entre as potências globais. O embaixador destacou ainda que a proposta brasileira não envolve negociar declarações antes da reunião de líderes, que será realizada em novembro, no Rio de Janeiro.

“É muito importante da parte dos países do G7 preservar o G20 porque não há interesse em uma fragmentação entre o G7 e o Brics ampliado. Também vejo da parte dos Brics interesse em preservar o grupo como foro de concertação”, disse.

Também participaram do debate a diretora de infraestrutura do BNDES, Luciana Costa e Marcos Caramuru, ex-embaixador do Brasil na China e conselheiro internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Outro desafio para a presidência brasileira apontado pelos participantes foi como financiar projetos de infraestrutura e transição energética, sobretudo em países do Sul Global.

Para Caramuru, os recursos das instituições internacionais não são suficientes para alcançar as ambições da liderança brasileira. “É preciso trazer o setor privado”, afirmou.

O G20, ou “grupo do 20”, concentra as maiores economias do mundo. O bloco representa quase 80% da população mundial e concentra cerca de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Ao longo do ano, o grupo terá mais de 130 reuniões a portas fechadas no Brasil, entre ministros, secretários e corpo técnico de áreas que vão das relações exteriores e finanças até a saúde e a transição energética.

FONTE:

https://valor.globo.com/brasil/g20-no-brasil/noticia/2024/03/20/em-busca-de-consenso-no-g20-brasil-aposta-no-combate-fome-e-s-mudanas-climticas.ghtml