O Brasil não se rendeu. A diplomacia venceu. Tarcísio de Freitas e toda a extrema-direita brasileira saíram derrotados deste processo.
Deu certo!
Não deve ser fácil ser bolsonarista hoje. Os apoiadores de Eduardo Bolsonaro acordaram com uma péssima notícia. Depois de serem praticamente chutados para fora do Departamento de Estado quando tentaram sabotar a normalização das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, eles terão que explicar mais essa derrota.
Passaram as últimas semanas prometendo a seus seguidores que o Donald Trump aplicaria um “golpe” ao indicar Marco Rubio como interlocutor. Não aconteceu nenhum golpe. Marco Rubio se encontrou amigavelmente com Mauro Vieira, nosso Ministro de Relações Exteriores. Depois disseram que Trump tentaria humilhar Lula em público. Também não aconteceu.
Neste domingo, 26 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com Donald Trump em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a 47ª cúpula da ASEAN. O encontro, que durou aproximadamente 50 minutos, foi o primeiro entre os dois desde uma breve conversa na Assembleia Geral da ONU em setembro. Ocorreu na esteira da imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e de sanções a autoridades brasileiras em razão do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ao lado de Lula estavam o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira e, do lado americano, o secretário de Estado Marco Rubio. O encontro foi marcado por um tom amistoso que desmentiu todas as previsões catastróficas dos bolsonaristas sobre uma possível humilhação ou “golpe” diplomático.
Durante o encontro, o presidente brasileiro foi direto ao ponto. Afirmou que não há razão para divergências entre Brasil e Estados Unidos e pediu a Trump a suspensão imediata do tarifaço enquanto os dois países estiverem em entendimento. “O Brasil tem interesse de ter uma relação extraordinária com os Estados Unidos. Não há nenhuma razão para que haja qualquer desavença, porque quando dois presidentes sentam em uma mesa, cada um coloca seu ponto de vista e a tendência natural é encaminhar para um acordo”, afirmou Lula.
Segundo um integrante da delegação brasileira, o presidente também disse a Trump que o julgamento do ex-presidente seguiu o devido processo legal e que as sanções a autoridades do Supremo Tribunal Federal eram injustas. Lula reiterou o desejo de uma relação estável e produtiva entre os dois países, deixando claro que tinha uma pauta extensa para discutir.
O presidente norte-americano sinalizou abertura para acordo. Disse ser uma honra estar com o líder brasileiro e que provavelmente fariam “alguns bons acordos”. “Nós vamos discutir [tarifas] um pouco. Nós sabemos que nos conhecemos. Nós sabemos o que cada um quer”, afirmou Trump. Quando perguntado sobre Jair Bolsonaro, o presidente americano disse que “se sente mal” pelo que o ex-presidente passou, mas não respondeu se o assunto seria discutido.
Mais significativo foi a declaração de admiração de Trump pela trajetória política de Lula. Segundo o chanceler Mauro Vieira, Trump reconheceu que Lula “já tendo sido duas vezes presidente da República, tendo sido perseguido no Brasil, se recuperado, provado sua inocência, voltado a se apresentar e, vitoriosamente, conquistando o terceiro mandato” — um elogio que desmente completamente a narrativa bolsonarista de confronto.
Após o encontro, o chanceler Mauro Vieira confirmou o sucesso. “A conversa foi muito positiva, o saldo final é ótimo. O presidente Trump declarou que dará instruções a sua equipe para começar um processo de negociação bilateral, que deve se iniciar hoje ainda, porque é para tudo ser resolvido em pouco tempo”, observou Vieira. Trump autorizou sua equipe a iniciar as negociações para revisão do tarifaço ainda na noite de domingo, no horário local da Malásia.
A expectativa do governo brasileiro é que, durante a negociação bilateral, as tarifas sejam suspensas. Segundo Vieira, “esperamos em pouco tempo concluir um acordo que trata de cada um dos setores da atual tributação americana ao Brasil”.
O presidente brasileiro também aproveitou o encontro para propor-se como interlocutor entre os EUA e a Venezuela, reafirmando a tradição do Brasil como elemento de paz na região. “O presidente Lula disse que a América do Sul é uma região de paz e se prontificou a ser interlocutor com a Venezuela, para se buscar soluções mutuamente aceitáveis entre os dois países”, disse o chanceler. “O Brasil estará sempre disposto a atuar como elemento da paz e do entendimento, o que sempre foi a tradição do Brasil”, completou.
Os dois presidentes combinaram visitas recíprocas: Trump expressou vontade de vir ao Brasil, e Lula aceitou ir aos Estados Unidos com prazer. Trump também declarou que admira o Brasil e gosta imensamente do povo brasileiro.
Podemos dizer que o “tarifaço” foi mais um enésimo turno político em que o bolsonarismo tentou reverter o resultado das urnas. Gerou uma fragorosa derrota para a extrema direita brasileira. Talvez essa tenha sido a derrota mais profunda e duradoura.
Deu certo a estratégia do presidente Lula de não se ajoelhar ao império, de oferecer resistência firme, mas pacífica, sem retaliações comerciais, mas com protestos retóricos duros e destemidos. Deu certo a grande mobilização diplomática e extradiplomática, reunindo os maiores profissionais do Itamaraty e grandes empresários do Brasil e dos Estados Unidos. Deu certo o cálculo brilhante de escolher terreno mais favorável a Lula, sem coletiva de imprensa ao vivo para evitar armadilhas, com os presidentes sentados a uma distância razoável.
O presidente não demonstrou medo. Manteve uma postura direta e, por vezes, dura, em defesa do que considera ser a obrigação de um chefe de Estado latino-americano: criticar o assassinato de tripulações de embarcações sem julgamento e transparência, criticar o tarifaço, defender a soberania nacional. E conseguiu, através da inteligência diplomática, transformar uma situação de confronto muito complicada numa oportunidade de abertura para entendimento bilateral.
O Brasil não se rendeu. A diplomacia venceu. Tarcísio de Freitas e toda a extrema-direita brasileira saíram derrotados deste processo. Tarcísio, em particular, revelou carecer da fibra moral necessária para liderar um país como o Brasil. Durante o auge do tarifaço, ele sugeriu publicamente que Lula deveria se humilhar perante a imprensa internacional no Salão Oval, oferecendo uma vitória a Trump — como se o presidente brasileiro devesse posar de Zelensky. Enquanto Lula negociava com inteligência e firmeza, Tarcísio permanecia à margem, incapaz de compreender que ceder ao império não é pragmatismo, é capitulação.
Foto: Ricardo Stuckert
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/encontro-de-lula-e-trump-e-mais-uma-dura-derrota-para-o-golpismo-vira-lata-da-extrema-direita
 
															