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Entre o “austericidio” e a MMT: O Caminho do Meio para a Política Fiscal

Entre os extremos da Teoria Monetária Moderna (MMT) e do chamado “austericídio” existe um vasto território de equilíbrio fiscal e pragmatismo econômico. A MMT defende que um Estado soberano em sua moeda pode emitir recursos para financiar gastos públicos sem se preocupar com déficits, desde que a inflação esteja sob controle. Já o austericídio, termo que critica políticas de ajuste fiscal severo em momentos de baixo crescimento, aponta os riscos de sufocar a economia com cortes indiscriminados. Ambos os polos têm implicações profundas: enquanto a MMT pode estimular excessivamente a demanda e gerar pressões inflacionárias, a austeridade cega pode frear investimentos e agravar desigualdades sociais.

O verdadeiro desafio para o governo está em construir uma política fiscal que mantenha responsabilidade sem sacrificar o desenvolvimento. Em países emergentes como o Brasil, essa tarefa é ainda mais complexa: o Estado tem amplas demandas sociais, gargalos de infraestrutura e baixa produtividade, ao mesmo tempo em que enfrenta desconfiança dos mercados e restrições de financiamento. A busca por uma sintonia fina entre gasto público eficiente, controle da dívida e estímulo ao crescimento exige planejamento de longo prazo, capacidade técnica e coragem política.

Encontrar esse meio-termo significa reconhecer que o equilíbrio fiscal não é um fim em si mesmo, mas um meio para garantir estabilidade macroeconômica e espaço para políticas públicas consistentes. Isso inclui manter regras claras de controle de gastos, como o arcabouço fiscal, mas também assegurar que os investimentos públicos — sobretudo em áreas como saúde, educação e infraestrutura — sejam protegidos e bem direcionados. A qualidade do gasto é tão importante quanto o seu volume, e é possível aumentar sua eficiência sem abandonar a responsabilidade fiscal.

Portanto, o debate não deveria se resumir a escolher entre gastar sem limites ou cortar a qualquer custo, mas sim construir um caminho sustentável, transparente e orientado para resultados. A verdadeira sintonia fina está em desenhar uma política fiscal que funcione como instrumento de transformação social e crescimento econômico, respeitando os limites fiscais e ampliando a confiança de investidores e da sociedade. Nesse espaço entre a MMT e o austericídio é que reside a maturidade da política econômica.

FONTE: https://www.paulogala.com.br/entre-o-austericidio-e-a-mmt-o-caminho-do-meio-para-a-politica-fiscal/