Ele afirma que sanções econômicas de Trump contra o petróleo russo expuseram limites do poder americano e aceleraram a transição para um mundo multipolar.
247 – Em uma palestra publicada no canal YouTube sob o título “The U.S. Has Lost Control of the Global Energy Battlefield” (Os Estados Unidos perdem controle do tabuleiro energético global), o professor John Mearsheimer, um dos mais influentes teóricos do realismo político, afirmou que as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos ao setor de energia da Rússia representam “um sintoma de fraqueza, e não um sinal de força”.
Segundo Mearsheimer, as medidas anunciadas pelo presidente Donald Trump – atual presidente dos Estados Unidos – com o objetivo de “estrangular a economia de guerra de Moscou” revelam a perda da capacidade de Washington de converter poder em estratégia. “As sanções não expressam liderança, mas impotência. Elas substituem a diplomacia pela coerção, o cálculo pelo espetáculo”, afirmou o professor.
A ilusão do controle
O especialista destacou que as sanções contra o petróleo russo, que incluíram transportadoras, seguradoras e intermediários financeiros, pretendiam isolar Moscou dos mercados internacionais. Entretanto, a iniciativa acabou acelerando a formação de um sistema financeiro paralelo, fora do domínio do dólar.
“Os Estados Unidos acreditam que ainda têm o mesmo poder de influência que tinham em 1992, mas o mundo que tornava essas ferramentas eficazes já não existe”, afirmou. Para ele, a fragmentação do sistema financeiro global e o fortalecimento de blocos como os BRICS e a Organização de Cooperação de Xangai enfraqueceram a hegemonia americana.
“Cada nova sanção imposta à Rússia aprofunda a infraestrutura de resistência à influência dos Estados Unidos. O que Washington chama de isolamento econômico, Moscou chama de independência estratégica”, disse Mearsheimer, argumentando que o efeito real foi o fortalecimento de alternativas ao sistema ocidental.
A emergência de um sistema multipolar
O professor realista ressaltou que a resposta russa foi rápida e adaptativa: redirecionar exportações de petróleo para a Ásia, realizar transações em moedas como o yuan, o rublo e a rúpia, e utilizar frotas “sombra” para contornar as restrições. Com isso, países como China e Índia se beneficiaram ao adquirir energia a preços reduzidos, enquanto a Europa se tornou a principal vítima da guerra econômica.
“O continente europeu, dependente do gás russo, foi levado a substituir energia barata por importações muito mais caras, o que enfraqueceu sua competitividade industrial e criou tensões dentro da própria aliança transatlântica”, explicou.
Para Mearsheimer, essa nova realidade marca o fim da era de “domínio sem esforço” dos Estados Unidos. “A tentativa de transformar interdependência econômica em arma se voltou contra quem a empunhou. O mundo aprendeu a viver sem o guarda-chuva financeiro americano”, afirmou.
O declínio do império da coerção
Em sua análise, Mearsheimer compara o atual comportamento de Washington à decadência de impérios anteriores, como o Britânico e o Soviético, que se apoiaram excessivamente em instrumentos coercitivos para manter a primazia. “O poder americano se deteriora não por derrota militar, mas por esgotamento estratégico. O país confunde comando com caos, força com reação e punição com política”, disse.
Segundo ele, sanções se transformaram em um ritual político interno: “Elas dão aos presidentes a aparência de ação, mas não produzem resultados. Tornaram-se um espetáculo de soberania — um gesto para o eleitorado, não uma estratégia de Estado”.
O professor alertou ainda que a insistência na coerção acelera a erosão da legitimidade americana. “Quando o poder é exercido sem prudência, ele se transforma em seu próprio castigo. O império da coerção está descobrindo que alcance não é sinônimo de obediência”, concluiu.
O nascimento de uma nova ordem
Mearsheimer encerrou sua análise com uma observação sombria, mas realista: “O sistema internacional está passando de uma ordem unipolar para um equilíbrio multipolar. A tentativa dos Estados Unidos de isolar a Rússia apenas confirmou que o mundo já se reorganiza em torno de novas potências e novas moedas”.
Para o teórico, “a história pune a arrogância não com catástrofe, mas com irrelevância”. A lição, segundo ele, é que a verdadeira força de uma potência global não está em sua capacidade de punir, mas em sua habilidade de se adaptar.
“Todo império termina da mesma forma — não com uma derrota, mas com a negação. A questão agora é se os Estados Unidos aprenderão com sua própria história antes de se tornarem apenas mais um exemplo dela”, concluiu.
Foto: Universidade de Chicago
FONTE: https://www.brasil247.com/ideias/estados-unidos-perdem-controle-do-tabuleiro-energetico-global-diz-john-mearsheimer
 
															