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Faria Lima já espera Carbono Oculto II e Lula x Tarcísio

Ao ver seus próprios símbolos sob suspeita de lavar dinheiro do PCC, o campo de apoio de Tarcísio foi atingido em cheio.

A elite financeira da Avenida Faria Lima ainda não se recuperou do choque da primeira fase da Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal. O pavor tomou conta de gestores e oligarcas após a devassa em fundos e fintechs suspeitos de lavar bilhões para o PCC. Mas o impacto vai além da economia: a ofensiva escancarou a disputa política entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que se colocam como polos da eleição de 2026.

Na quinta-feira (28), a “Wall Street brasileira” amanheceu tomada por sirenes, camburões e tropa de choque. Escritórios de peso, como a Reag Investimentos, foram lacrados. Ao todo, cinco endereços da avenida foram alvo, com 42 dos 350 investigados.

As ações da Reag despencaram 15% na Bolsa, enquanto o Ibovespa fechou em alta de 1,32%. O contraste evidenciou a blindagem momentânea do mercado, mas nos corredores de vidro e mármore a conversa era outra: todos já esperam a fase II da operação.

Analistas do mercado reconhecem, em off, que a engenharia financeira exposta pela PF apenas confirmou suspeitas antigas: o crime não apenas rondava a Faria Lima, mas já circulava nas mesas de operação, lado a lado com executivos de fundos e gestoras.

O Planalto não escondeu o protagonismo da Polícia Federal e da Receita Federal. Ministros da Fazenda e da Justiça dividiram o palco com Lula em Brasília para celebrar a devassa. Na avaliação da ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR), a Carbono Oculto recolocou no centro do debate o projeto contra o devedor contumaz, há anos engavetado no Congresso.

Gleisi já pediu urgência no Senado, em movimento que fortalece a pauta de combate à sonegação e ao crime econômico. Para o governo, sufocar empresas de fachada é estratégia de asfixiar o PCC pelo bolso. A operação também blindou a publicação de norma da Receita que obriga fintechs a prestarem as mesmas informações dos bancos, derrubando a fake news bolsonarista sobre “taxar o Pix”.

Do outro lado, Tarcísio de Freitas buscou capitalizar o papel do Ministério Público de São Paulo na operação. Seu secretário de Segurança, Guilherme Derrite (PP), convocou uma coletiva quase simultânea à fala de Lula. A cena reforçou a guerra de narrativas: de um lado, o governo federal exibindo a coordenação da PF; de outro, o governador paulista tentando mostrar que as forças locais também comandam o combate ao crime.

Mas a Faria Lima é, historicamente, reduto político da direita e caixa de ressonância de pesquisas eleitorais financiadas por bancos e fintechs. Ao ver seus próprios símbolos sob suspeita de lavar dinheiro do PCC, o campo de apoio de Tarcísio foi atingido em cheio.

O impacto da Carbono Oculto se estende ao Congresso, segundo avaliação da colunista Mariana Londres. A PEC da Segurança Pública ganhou fôlego, assim como projetos para regular combustíveis e coibir a sonegação. Parlamentares do PL, como Nikolas Ferreira (MG), que ajudaram a espalhar a mentira sobre a “taxação do Pix”, agora enfrentam desgaste político, já que investigações apontam que a desinformação favoreceu diretamente esquemas de lavagem.

Nos bastidores de Brasília, líderes admitem que a segunda fase da operação pode atingir políticos influentes. Para Lula, o timing não poderia ser melhor: o discurso de firmeza contra o crime organizado reforça sua imagem de estadista. Para Tarcísio, a contaminação da avenida que financia a direita mina sua blindagem midiática e abala o projeto presidencial.

A Operação Carbono Oculto é um divisor de águas não só para o mercado, mas para a política nacional. Pela primeira vez, a PF e a Receita expuseram a simbiose entre crime organizado e elite financeira, abrindo espaço para uma disputa franca entre dois projetos: o de Lula, que se ancora no Estado como guardião da legalidade, e o de Tarcísio, que tenta sustentar-se num mercado abalado.

Segundo o Ministério da Justiça, a Carbono Oculto é considerada a maior ofensiva da história contra o crime econômico no Brasil. A força-tarefa desbaratou uma rede que atuava no setor de combustíveis, fintechs e fundos de investimento, movimentando cifras bilionárias por meio de sonegação, adulteração de combustíveis, emissão de notas frias e lavagem de dinheiro em larga escala. Além do bloqueio judicial de mais de R$ 1 bilhão em bens, foram identificados fundos avaliados em R$ 30 bilhões, postos de fachada e até imóveis de luxo usados para ocultar patrimônio, num esquema que envolveu dezenas de empresas em ao menos dez estados.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil | Marcelo S. Camargo/Governo do Estado de SP

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/faria-lima-ja-espera-carbono-oculto-ii-e-lula-x-tarcisio#google_vignette