Haddad alertou que está à vista a inflação de oferta, decorrente da concentração de renda especulativa favorecida pelos juros elevados, mantidos pelo BC.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, alertou os banqueiros, em palestra, em SP, no evento do Banco Pactual, que está à vista a inflação de oferta, decorrente da superacumulação/concentração de renda especulativa favorecida pelos juros elevados, mantidos pelo BC Independente comandado pelo bolsonarista Roberto Campos.
Roberto Campos, por sua vez, em entrevista ao O Globo, previu aumento da inflação por conta, na sua opinião, da desancoragem de expectativas inflacionárias, relativas à alta dos preços além do centro da meta (4,5% ao ano) fixada pelo BC, devido à pressão da demanda, sinal de que os juros deverão subir ao longo de 2025.
Inflação de demanda ou de oferta?
A mídia corporativa, porta-voz da Faria Lima, manteve-se cinicamente em silêncio sobre o alerta ministerial.
O resultado de contradições insolúveis de pontos de vista entre o ministro da Fazenda e o presidente do BC tem como pano de fundo o processo de aceleração da financeirização econômica impulsionada pelos juros especulativos, causa central do baixo crescimento econômico e sua consequente desigualdade social.
A excessiva ganância do mercado financeiro/Faria Lima, a sustentar, de um lado, minoria de ricos cada vez mais ricos, e, de outro, expansão, igualmente, crescente de maioria de pobres, afetados por queda de seu poder de compra, redunda em fuga de consumidores diante da alta dos preços, conforme pesquisa de especialistas em varejo (Neogrid e Opinion Box).
Para Haddad, a pressão inflacionária subjacente ao movimento dos preços advém, portanto, da renúncia do consumo em face da oferta, entendida por ele como insuficiência dos investimentos na produção, decorrente dos juros altos praticados pelo Banco Central Independente.
Os empresários, nesse contexto de incerteza, jogam mais de 2/3 do seu resultado operacional no mercado acionário especulativo, para compensar a queda da demanda afetada pelos baixos salários.
Eles saem da produção, onde veem cair sua taxa de lucro, para ganhar na especulação dos juros Selic de 10,5%, mais altos do mundo, de modo a garantir a sobrevivência dos seus ativos.
O movimento altista da bolsa estaria na fuga dos empresários para a especulação, diante da insuficiência de consumo, produzida pela queda do poder de compra.
Desindustrialização e desemprego
Resultado: desindustrialização por falta de investimento, queda do emprego de qualidade e da produtividade nacional e elevação da pressão empresarial por subsídios à produção, forçando desajuste fiscal.
Configura-se e aprofunda-se a desigualdade social crescente: o governo desembolsa para salvar ricos, diante da perda de competitividade para concorrentes estrangeiros, e fica sem recursos suficientes para gastar com os pobres, por meio de investimentos sociais, maiores responsáveis por puxar a demanda global.
A causa do desajuste fiscal não é o consumo dos pobres, mas a falta de produtividade dos ricos.
A inflação de oferta, prevista por Haddad, avança quanto mais o BC Independente, monitorado pela ganância da Faria Lima, diagnostica que a pressão inflacionária advém de causa oposta, isto é, da excessiva demanda dos trabalhadores.
Dá razão a Haddad, frente ao diagnóstico equivocado do BC, pesquisa de varejo, nos supermercados, feitas pelas empresas especializadas Neogrid e Opinion Box, em “Hábitos de Compra no Varejo Alimentar”, realizada entre junho e julho de 2024, divulgada nesta quarta-feira, dando conta de que 82% dos consumidores desistem de levar para casa itens programados para consumirem, devido aos preços altos.
Dessa forma, sobram mercadorias nas prateleiras, configurando o que ministro da Fazenda está dizendo: pode aumentar a inflação de oferta, no cenário em que os consumidores renunciam ao consumo por falta de renda.
Os empresários, consequentemente, reduziram a oferta e elevaram os preços para manter constante sua taxa de lucro, enquanto descolam da produção para a bolsa, em alta especulativa, nos últimos dias.
A superação desse processo de concentração da renda na jogatina financeira, bombeada pelo BC, para sustentar a lucratividade infinita dos especuladores, somente ocorrerá não com cortes de despesas públicas, mas, justamente, com o aumento dos gastos sociais.
Seria a forma de elevar a renda dos trabalhadores, a fim de consumirem mais, equilibrando demanda mais alta para salvar oferta mais baixa.
Trata-se de movimento necessário capaz de aumentar investimentos, de modo a conter pressão inflacionária de oferta, possibilitada por juros mais baixos.
O busílis da questão, portanto, está não no diagnóstico neoliberal do BC, de forçar queda dos salários, para conter inflação, mas na valorização do poder de compra dos trabalhadores, foco central de Lula, para evitar o que Haddad está prevendo: pressão inflacionária pela fuga de investimentos na produção em benefício da especulação.
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/ganancia-da-faria-lima-produz-inflacao-de-oferta-e-inviabiliza-industrializacao-e-criacao-de-empregos