A família Bolsonaro e seus aliados internacionais representam forças do passado que tentam impedir o avanço civilizatório da humanidade.
O Brasil vive um momento histórico singular na defesa de sua democracia. Pela terceira vez em menos de uma década, forças antidemocráticas articulam uma tentativa de golpe de Estado, mas desta vez com uma característica inédita: a substituição da tradicional pressão militar pela intervenção direta de uma potência estrangeira. A família Bolsonaro, incapaz de mobilizar as Forças Armadas como em 2022 e 2023, agora recorre ao imperialismo fascista de Donald Trump para coagir as instituições brasileiras e garantir a impunidade de seus crimes contra a democracia.
Esta nova modalidade golpista representa uma evolução tática preocupante no repertório autoritário global. Se antes os golpes dependiam do controle interno das forças de segurança, hoje assistimos à instrumentalização da política externa estadunidense para fins eleitorais domésticos brasileiros. Trata-se de uma violação flagrante da soberania nacional que deveria mobilizar todos os democratas e patriotas, independentemente de suas divergências políticas internas.
A tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 marcou um ponto de inflexão na história democrática mundial. Pela primeira vez, uma democracia consolidada enfrentou uma insurreição planejada e executada através das redes sociais, com a participação ativa de empresas de tecnologia que permitiram a disseminação massiva de desinformação. O Brasil tornou-se, involuntariamente, um laboratório global para novas formas de guerra híbrida contra as instituições democráticas.
As big techs, especialmente aquelas controladas por oligarcas alinhados com o trumpismo (Google, Meta, et caterva), transformaram-se em agentes ativos da desestabilização democrática. Sob o pretexto da “liberdade de expressão”, essas plataformas facilitaram a organização de grupos extremistas, a disseminação de teorias conspiratórias e a coordenação de ataques às instituições. O que presenciamos não foi um uso neutro da tecnologia, mas sua instrumentalização deliberada para fins golpistas.
Esta realidade exige uma resposta proporcional das instituições democráticas. A regulamentação das redes sociais deixou de ser uma questão técnica para se tornar um imperativo de segurança nacional. Países que permitem que empresas estrangeiras operem sem controle em seus territórios digitais estão, na prática, cedendo parcelas de sua soberania a interesses privados e geopolíticos externos.
Diante dessas ameaças inéditas, emerge o conceito de “democracia combativa” – um modelo de resistência institucional que reconhece a necessidade de medidas excepcionais para preservar a ordem constitucional. Diferentemente do autoritarismo, a democracia combativa mantém-se dentro dos marcos legais, mas adapta suas respostas à natureza evolutiva das ameaças antidemocráticas.
O Supremo Tribunal Federal brasileiro, ao enfrentar ataques virulentos que incluíram até mesmo planos de assassinato de seus ministros, tornou-se pioneiro mundial na aplicação deste conceito. As decisões judiciais que alguns setores criticam como “excessivas” são, na verdade, respostas proporcionais a riscos factuais de violação da ordem jurídica que nenhuma outra democracia contemporânea havia enfrentado.
A experiência brasileira demonstra que a defesa da democracia no século XXI exige instrumentos jurídicos e políticos mais sofisticados que aqueles desenvolvidos no século XX. As ameaças híbridas – que combinam desinformação digital, financiamento obscuro, articulação internacional e violência política – demandam respostas igualmente híbridas, que articulem diferentes poderes e esferas de governo.
A omissão de parcela significativa do Congresso Nacional diante das tentativas golpistas revela uma das fragilidades estruturais da democracia brasileira: a prevalência do oportunismo político sobre os princípios democráticos. Senadores e deputados que deveriam estar na vanguarda da defesa institucional preferem calcular vantagens eleitorais, demonstrando que, como observado criticamente, “democratas de verdade são bem poucos” e sua atuação “depende sempre das vantagens que podem auferir”.
Esta postura oportunista não é apenas moralmente condenável, mas estrategicamente perigosa. Ao permitir que a família Bolsonaro recorra à intervenção estrangeira sem consequências políticas imediatas, o Congresso sinaliza que a soberania nacional pode ser negociada em troca de benefícios partidários. Tal precedente abre caminho para futuras interferências externas ainda mais graves.
A cassação dos mandatos de Flávio Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro deveria ser uma medida automática diante de suas articulações com agentes estrangeiros para coagir instituições brasileiras. Em “um país sério”, como bem observado, tais condutas já teriam resultado em processos céleres de perda de mandato. A inação parlamentar diante dessa situação configura, ela própria, uma forma de cumplicidade com o golpismo.
A tentativa de instrumentalizar a política externa americana para fins eleitorais brasileiros insere-se em um contexto geopolítico mais amplo de disputa entre modelos de organização social. O trumpismo representa uma vertente do capitalismo autoritário que busca expandir sua influência através da desestabilização de democracias periféricas, especialmente aquelas que desenvolveram políticas soberanas de desenvolvimento nacional.
O Brasil, por sua posição estratégica na América do Sul e por seus recursos naturais, torna-se alvo prioritário dessa ofensiva imperialista. A família Bolsonaro funciona como uma espécie de “quinta coluna” do imperialismo americano, disposta a sacrificar a soberania nacional em troca de proteção política pessoal. Esta dinâmica reproduz, em escala contemporânea, os mecanismos clássicos de dominação imperialista descritos pela teoria marxista-leninista.
A resistência a essa ofensiva não pode ser meramente defensiva. Exige a construção de alternativas soberanas que fortaleçam as instituições democráticas nacionais e reduzam a dependência externa em setores estratégicos, especialmente no campo digital e comunicacional. A soberania democrática do século XXI passa necessariamente pela soberania tecnológica e informacional.
O momento atual exige uma articulação ampla de forças democráticas, patrióticas e progressistas em defesa da soberania nacional e das instituições republicanas. Esta articulação deve superar divergências setoriais para enfrentar a ameaça comum representada pelo golpismo internacionalizado.
A experiência brasileira de resistência ao golpismo híbrido pode contribuir para o fortalecimento democrático global, especialmente em países do Sul Global que enfrentam pressões similares. O conceito de “democracia combativa” desenvolvido no Brasil tem potencial para se tornar uma referência internacional na defesa institucional contra ameaças autoritárias contemporâneas.
Contudo, a consolidação dessa resistência depende da capacidade de transformar a indignação popular em organização política efetiva. As instituições, por mais combativas que sejam, não podem sustentar sozinhas a defesa democrática. É necessário um movimento social amplo que compreenda a gravidade do momento histórico e se mobilize ativamente pela preservação da soberania nacional e da ordem constitucional.
O que se escreve no Brasil contemporâneo é, efetivamente, “um verdadeiro capítulo inédito na história da resistência democrática”. As forças progressistas brasileiras enfrentam o desafio de defender simultaneamente a democracia política, a soberania nacional e a justiça social, em um contexto de ofensiva coordenada do imperialismo fascista internacional.
Esta tríplice defesa constitui um “imperativo civilizatório” que transcende as fronteiras nacionais. O sucesso ou fracasso da resistência democrática brasileira influenciará decisivamente os rumos da luta global entre democracia e autoritarismo no século XXI. Por isso, a defesa irredutível dos preceitos constitucionais brasileiros não é apenas uma questão nacional, mas uma contribuição fundamental para a preservação do próprio conceito de Estado de Direito na era contemporânea.
A família Bolsonaro e seus aliados internacionais representam forças do passado que tentam impedir o avanço civilizatório da humanidade. Sua derrota não será apenas uma vitória da democracia brasileira, mas um passo decisivo na construção de um mundo mais justo, soberano e democrático para todos os povos.
FOTO: The White House
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/golpismo-2-0-quando-a-intervencao-estrangeira-substitui-a-dos-quarteis