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Governo Lula estuda limitar remessa de dividendos de empresas americanas com operação no Brasil

Quebra de patentes dos medicamentos também está em avaliação no Palácio do Planalto, que espera medidas mais duras de Trump após operação da PF envolvendo Bolsonaro.

O Palácio do Planalto espera medidas ainda mais duras contra o Brasil por parte dos Estados Unidos depois que uma operação da Polícia Federal alvejou Jair Bolsonaro (PL) nesta sexta-feira, 18, obrigando o ex-presidente a usar tornozeleira eletrônica. Agora, se as negociações com os EUA não avançarem, o governo Lula avalia novas frentes de reação. Uma das ideias em estudo prevê até mesmo limitar a remessa de dividendos de empresas com sede nos EUA e operações no Brasil.

Após a publicação da reportagem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ao Estadão/Broadcast que o governo não planeja adotar medidas mais rígidas de controle sobre dividendos, caso as tratativas para reverter o tarifaço de 50% aos produtos brasileiros não prosperem.

Embora o ministro negue, a proposta está sob análise e chegou ao comitê interministerial que cuida das negociações sobre qual deve ser o tom da resposta aos EUA. O governo precisa ter cartas na manga para reagir se o presidente dos EUA, Donald Trump, decidir endurecer ainda mais o jogo.

A resposta sob avaliação do governo inclui, em primeiro lugar, a quebra de patentes de medicamentos, como antecipou o Estadão/Broadcast. A proposta de limitar remessas de dividendos realizadas por multinacionais americanas instaladas no Brasil também está na mesa, embora haja divergências sobre isso dentro do governo.

Na prática, o Planalto começou a se debruçar sobre várias possibilidades antes mesmo de o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciar nas redes sociais, nesta sexta-feira, 18, que determinou a revogação dos vistos americanos do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, familiares e “aliados” na Corte. Outros sete magistrados também tiveram o visto cassado.

A prioridade do governo brasileiro, neste momento, é levar as negociações com os EUA ao extremo e esgotar a via diplomática. Três interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disseram ao Estadão/Broadcast, porém, que uma reação mais firme pode ser adotada a partir de 2 de agosto, se as negociações não vingarem.

As opções têm sido analisadas pelo Planalto, após passarem por escrutínio técnico, mas tudo estará em aberto até que o Brasil veja necessidade de fazer algum anúncio para responder às sanções, como a abertura de investigações sobre práticas comerciais do País.

Alas do governo divergem em relação a algumas das propostas, como a de maior controle sobre as remessas de dividendos aos EUA, mas admitem que são sugestões no cardápio. A decisão ainda depende do aval de Lula.

Interlocutores do presidente disseram, sob reserva, que haveria uma gradação sobre qual o volume de dividendos teria de ficar no Brasil. Seria uma operação similar à progressividade que o governo tenta emplacar na área tributária.

A “régua”, no entanto, não foi definida. Não está acertado se seria levado em conta o tamanho do lucro da companhia no Brasil ou apenas o montante destinado aos dividendos.

O governo não pretende proibir as remessas de lucros das empresas, mas inserir mecanismos de maior monitoramento e fiscalização no processo.

Representantes dessas companhias também já externaram ao vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin, que coordena o comitê interministerial e tem conduzido as negociações, preocupação com a eventual medida. Argumentaram, por exemplo, que há necessidade de previsibilidade para manutenção dos investimentos no País. Aproximadamente 4 mil empresas americanas atuam hoje no Brasil.

O objetivo do Planalto é levar as tratativas ao limite e retomar o diálogo bilateral. A posição também vem sendo defendida pelos exportadores que seriam mais afetados pela taxação.

No momento, a quebra de patentes é a medida com mais chance de ser adotada como reação do Brasil porque foi a primeira saída avaliada pelo governo assim que Trump venceu a eleição, no fim do ano passado, e começou a incorporar ameaças comerciais em seus discursos.

Os estudos foram interrompidos quando o Brasil ficou entre os países com as menores sobretarifas – de 10%, no Dia da Libertação, de 2 de abril. Mas a suspensão das patentes de remédios é considerada uma das ações mais eficientes para sensibilizar o governo norte-americano, dado o peso da indústria farmacêutica nos Estados Unidos.

Um dos técnicos que participam das negociações citou inclusive o Mounjaro, com recente aprovação no Brasil. O medicamento para tratamento da diabete, fabricado pelo laboratório Eli Lilly, é também um sucesso de vendas no controle da obesidade.

A quebra de patentes já foi adotada no País. Durante o contencioso do algodão, disputa que se estendeu de 2002 a 2014, os Estados Unidos retomaram as tratativas com o Brasil somente após a ameaça brasileira de quebra de propriedade intelectual e de patentes.

Big techs também estão na mira de Lula

Além dessas medidas, Lula também mira as big techs. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é a instituição multilateral que vem liderando estudos nessa área, assim como o grupo das 20 maiores economias do mundo (G-20).

São vários os modelos de controle de big techs analisados no Brasil. Os EUA têm se mostrado refratários a todos os tipos de imposição de tributos, já que a maior parte das empresas está em solo americano, embora a maioria dos consumidores esteja em outros locais.

As discussões giram em torno de como migrar pelo menos parte dos impostos pagos por essas gigantes, da origem para o destino.

O endurecimento para o controle da entrada de americanos no Brasil também foi apontado como uma medida possível de ser adotada, mas, até o momento, a proposta foi rejeitada por integrantes do governo.

FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil

FONTE: https://www.estadao.com.br/economia/governo-lula-espera-reacao-trump-operacao-pf-bolsonaro-avalia-limitar-remessas-dividendos-eua/