“Novamente estamos em uma guerra mundial do nazifascismo contra o mundo livre”.
A primeira Guerra mundial ocorreu entre 1914 e 1918, contudo, hoje, não há historiador que não aponte o ano de 1906 e a Crise do Marrocos com a conferência de Algeciras como o início político do conflito. Ali, já estavam presentes as forças e questões que levariam ao início do conflito total em 1914. O mesmo ocorre com a segunda guerra, que ocorreu oficialmente entre 1939 a 1945, mas que os historiadores apontam o ano de 1931, com a invasão da Manchúria como o início político do conflito.
21 de junho de 2025 foi o início da terceira guerra mundial. Donald Trump e Benjamin Netanyahu são os responsáveis pelo fim da civilização como conhecemos. No momento que escrevo essas linhas Pete Hegseth, secretário de defesa dos EUA faz um pronunciamento vergonhoso, parecido com um filme de super-heróis, dizendo um monte de asneiras e levantando as mãos à “genialidade” de Trump nos ataques às instalações nucleares iranianas. Eles chamam essa “operação” de “Midnight Hammer”. Nada poderia ser mais infantil e estúpido. Um sinal da incapacidade dos líderes mundiais atuais entenderem o que fizeram.
Aponto aqui três pontos duradouros que explicam o que aconteceu ontem. O problema nem é o ataque norte-americano mas todo o pacote de ações diplomáticas, políticas e militares que vem junto com a decisão de Trump.
Em primeiro lugar, os EUA deixaram de ser um ator confiável. Menos de 72 horas antes, Donald Trump afirmou publicamente que os EUA esperariam duas semanas para agir. Mentiu. A mentira aqui torna qualquer comunicação dos EUA ineficaz. Donald Trump não gosta de Lula e de Alexandre de Moraes. A partir de agora, o que impede a ele de bombardear o STF ou sequestrar um avião em algum lugar do mundo em que Lula ou Moraes estejam? Afinal, basta que “ameace os interesses norte-americano” e nada mais importa. Nem a diplomacia, nem a política e muito menos as declarações públicas. Os EUA se tornaram um “rogue state”, um Estado cuja inadequação aos padrões de ação internacional os torna perigosos por si só. Essa quebra de conduta é mais destrutiva do que os ataques em si. O que impede que os EUA ataquem o Mar da China? Ataquem locais de desenvolvimento de tecnologia na China? Na Coréia do Sul, especialmente se a Samsung não aceitar isolar a China?
Todos, a partir de agora, estão em risco no mundo.
O segundo ponto é que as ações de Trump colocam TODOS os cidadãos norte-americanos como alvos. Indiscutivelmente as forças militares dos EUA são superiores. Trump será protegido. Porém qualquer “Joe Black” ou “Maureen Steve” em qualquer lugar do mundo agora, são alvos de retaliação à conta-gotas, contra os abusos do governo dos EUA. Nem se fala aqui que Trump desrespeitou a constituição dos EUA e iniciou uma guerra sem autorização do parlamento. Os EUA não são uma democracia constitucional mais desde a eleição de Trump. Ocorre que hoje Trump mostra que apenas sua vaidade e seus interesses importam na tomada de decisão militar e nuclear dos EUA. É a política do “rei louco” que levou a enormes guerras na Europa da Idade Média e moderna. Ao longo do século XX desenvolveu-se uma série de instituições que dariam previsibilidade e capacidade de comunicação crível para as nações e isso era entendido como a principal ferramenta contra a guerra. Isso não existe mais e o cabelo com gel do secretário de defesa dos EUA é mais sério e confiável do que qualquer palavra que ele fale para evitar a guerra.
Um terceiro ponto precisa ser explicitado. O BRICS falhou. Na verdade, o BRICS nunca passou de uma série de atos retóricos sem consistência ou capacidade de coesão. Porém, como hoje os historiadores apontam a fraqueza da Liga das Nações como causa da primeira guerra, a fraqueza do BRICS em deixar um membro completamente isolado corrobora para a terceira guerra. Mesmo sem ser uma aliança militar, o BRICS aspirava a se tornar uma aliança estável que contrabalançasse as ações cada vez mais unilaterais dos EUA. Ele falhou. Putin, Xi Jinping, Lula e todos os líderes falharam. Ou estão perigosamente flertando com a ingenuidade histórica ou acreditam em palavras vãs cujo sentido – agora vemos – é apenas permitir que os EUA tenham as mãos livres para atacar um a um dos seus desafetos e consolidarem-se como o líder tirânico que ao longo do século XX se esforçaram (maquiaram) por não parecer.
Tivessem os BRICS agido com sua ferramenta econômica mais evidente, e a guerra poderia ter sido evitada. O que se vê, todavia, é que cada país está preocupado em salvar o seu e não em pensar a geopolítica do mundo. Era necessário conter a ação dos EUA. Agora, “a Inês é morta”.
O que Adolf Hitler significou para o mundo no século XX, Benjamin Netanyahu é para o século XXI. O monstro de Telavive mantém um genocídio em andamento, quatro conflitos simultâneos, amaça nuclearmente o mundo e arrasta o planeta para a destruição. Sem ser freado. Sem ser contestado. E tudo isso por um sentido de superioridade racial evidente, com mentiras, análises estúpidas e elocubrações míticas como a “Israel do Eufrates ao Nilo”. Netanyahu é o monstro do século XXI como Hitler foi o do século XX.
Por fim, novamente estamos em uma guerra mundial do nazifascismo contra o mundo livre. Mas desta vez, o nazifascismo é composto por EUA, Israel e seus apoiadores. O mundo livre, veja a ironia, se desenha como China, Rússia e seus aliados. O BRICS? O BRICS morreu ontem. Soterrado pelos ataques dos EUA. Trump conseguiu. Tornou a aliança que pensava transformar o mundo em uma página virada nos livros de história. Ei-la, Terceira Guerra Mundial.
FOTO: Mehr News Agency
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/habemus-guerra