Presidente do BB, Tarciana Medeiros alerta para “litigância abusiva”: “vamos combater”.
247 – O setor bancário brasileiro enfrenta um aumento expressivo da inadimplência no agronegócio, segundo reportagem do Valor Econômico. O problema ocorre mesmo diante de projeções otimistas para a safra de 2025, com colheita recorde de milho e alta relevante na produção de soja. A combinação de endividamento elevado, queda no preço das commodities e mudanças regulatórias acendeu um sinal de alerta para as instituições financeiras.
Banco do Brasil sente maior impacto
Com participação de quase 50% no crédito ao agronegócio, o Banco do Brasil é o mais afetado. A inadimplência disparou, chegando a 3,94% em 2025, contra 0,96% no fim de 2023. A carteira do banco soma R$ 404,9 bilhões, com cerca de 20 mil clientes em atraso, dos quais 74% nunca haviam deixado de pagar antes de 2023.
Segundo a presidente do BB, Tarciana Medeiros, o número de recuperações judiciais também preocupa. “Recuperação judicial é para quem precisa, vamos combater litigância abusiva”, afirmou, criticando escritórios de advocacia que, segundo ela, incentivam produtores a recorrerem a esse mecanismo de forma predatória.
Recuperações judiciais em alta
Após decisão do STF em 2020, grandes produtores rurais passaram a poder solicitar recuperação judicial (RJ) como pessoa física. Desde então, os casos se multiplicaram. Dados da Serasa Experian apontam que os pedidos de RJ no setor chegaram a 389 apenas no primeiro trimestre de 2025, um crescimento de 44,6% em relação ao mesmo período de 2024.
O diretor de agro da empresa, Marcelo Pimenta, avalia que o ambiente se deteriorou: “Muitos produtores enfrentam custos altos, prazos longos para receber, maior exigência de garantias e dificuldades na rolagem de dívidas”.
Trump agrava a instabilidade
Outro fator que ameaça os produtores é o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil, que pode reduzir a competitividade das exportações e afetar diretamente a receita do setor.
Bancos privados adotam cautela
Nos bancos privados, a avaliação é de que o ciclo atual do agronegócio é o mais desafiador dos últimos anos.
- O CEO do Santander, Mario Leão, destacou: “Estamos possivelmente vivendo o momento mais duro do ciclo do agro, mas em algum momento isso vai voltar”.
- No Itaú, Milton Maluhy Filho afirmou que a carteira diversificada da instituição reduziu o impacto: “Isso é consequência de uma gestão de portfólio muito ativa, feita de forma cuidadosa, com boas garantias”.
- Já o CEO do Bradesco, Marcelo Noronha, reforçou que a situação está sob controle: “O agro do Brasil é o mais competitivo do mundo, o mais produtivo em todas as culturas”.
Desafios para crédito e Plano Safra
Entre as cooperativas, o Sicredi também admite crescimento da inadimplência e aumento de pedidos de RJ, embora com variação regional. O governo, por sua vez, anunciou o Plano Safra 25/26, de R$ 594,4 bilhões — um reajuste de apenas 1,69% em relação ao ciclo anterior, abaixo da inflação do período.
Para especialistas, juros altos, menor subsídio e instabilidade fiscal elevam o risco de novos calotes. O diretor de agro do Santander, Carlos Aguiar, resume: “Vai ser um ano difícil”.
BB muda estratégia de cobrança
Diante do cenário, o Banco do Brasil endureceu sua política. O vice-presidente financeiro da instituição, Geovanne Tobias, destacou que a postura mudou: “O banco era conhecido por não executar garantias, que gostava de tomar um cafezinho com o cliente e evitar estresse na relação, mas agora isso está mudando”.
A instituição tem trocado garantias para modalidades mais rápidas de execução, além de ampliar a judicialização dos casos.
Foto: Agência Brasil
FONTE: https://www.brasil247.com/agro/inadimplencia-no-agronegocio-pressiona-bancos-e-expoe-riscos-de-endividamento