Associação Brasileira dos Jornalistas

Seja um associado da ABJ. Há 12 anos lutando pelos jornalistas

“Israel é a extensão de um império em declínio”, diz Richard Wolff

Economista norte-americano analisa o colapso dos Estados Unidos como potência imperial e critica o papel anacrônico de Israel.

247 – Em entrevista ao professor Glenn Diesen, publicada em seu canal no YouTube, o economista norte-americano Richard Wolff — professor universitário e autor best-seller — ofereceu uma análise contundente sobre a decadência dos Estados Unidos enquanto potência hegemônica. Com base em paralelos históricos, Wolff traça o perfil de um império em crise, incapaz de reconhecer sua própria falência interna e apostando em ações cada vez mais agressivas para manter sua posição no mundo.

“Os impérios, ao declinar, sempre negam que isso está acontecendo”, afirmou. “Aqui nos Estados Unidos, é impensável mencionar o colapso do império. Nem Trump, nem Biden, nem Harris disseram uma palavra sequer sobre isso na última eleição”.

Israel como projeção do poder imperial americano

Ao abordar o papel de Israel no cenário geopolítico, Wolff foi incisivo: “Israel é um exemplo espetacular de algo totalmente anacrônico. Em pleno século XXI, tenta expandir um projeto colonial de assentamento, enquanto o mundo caminha há 150 anos para o anticolonialismo”.

Para ele, a relação entre Washington e Tel Aviv ultrapassa a aliança estratégica: “Os Estados Unidos enxergam em Israel o seu próprio projeto — tentar sustentar o insustentável. Por isso há tanta determinação em manter esse apoio, apesar do crescente repúdio internacional”.

China em ascensão: o contraste entre hegemonias

Wolff observa que, enquanto os EUA reduzem investimentos públicos e apostam no militarismo, a China investe pesadamente em infraestrutura, saúde e educação. “O contraste está evidente. Nos Estados Unidos, cortam-se verbas de educação e serviços públicos; na China, ampliam-se os investimentos para o bem comum”, destacou.

O economista também chamou atenção para o estado do ensino superior norte-americano: “Hoje, meus alunos com doutorado não conseguem empregos acadêmicos. Faculdades fecham. E o Estado responde com mais cortes sociais, enquanto aumenta o orçamento militar em mais de 100 bilhões de dólares”.

O colapso da ideologia neoliberal

Outro ponto central da entrevista foi a crítica à falência do modelo neoliberal. “Fui treinado nas melhores universidades americanas para ensinar que o livre comércio era a melhor política. Hoje, essa ideologia está desmoralizada”, disse.

Wolff destaca que a ironia histórica é reveladora: “Agora é a China quem defende o livre comércio e a globalização, enquanto os Estados Unidos adotam o protecionismo, impõem tarifas e atacam seus próprios aliados comerciais”.

Crise social, opioides e o ressentimento da classe trabalhadora

Wolff também abordou a desindustrialização americana e suas consequências sociais devastadoras. “Os principais afetados foram os trabalhadores brancos sindicalizados da indústria. Foram abandonados por todos — tanto republicanos quanto democratas — e acabaram entregues à marginalização e à crise dos opioides”.

Segundo ele, o ressentimento dessa parcela da população foi instrumentalizado por figuras como Donald Trump: “Ele se apresentou como o único que reconhecia sua dor e transformou essa frustração em raiva contra imigrantes, negros, mulheres e qualquer figura associada à diversidade”.

Sistema político paralisado e a ausência de alternativas reais

Wolff não vê, no horizonte político imediato, forças dispostas a romper com o status quo. “Nenhuma liderança, em nenhum dos dois partidos, está tratando das questões fundamentais. Estamos apenas cambaleando entre crises, guerras e desculpas frágeis”, criticou.

No entanto, ele reconhece sinais de renovação política em figuras como Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez e candidatos socialistas em eleições locais. “Em Nova York, por exemplo, socialistas assumem posições relevantes pela primeira vez em 75 anos. Se romperem com o sistema de doações bilionárias que domina a política, podem provocar uma verdadeira reorganização nacional”.

Uma potência sem rumo diante do colapso

A entrevista conclui com um alerta: os Estados Unidos estão diante de uma escolha histórica. “Eles não sabem onde pousar. Continuam mergulhados em guerras, ignorando o custo humano e político disso. O mundo inteiro já começa a acumular antipatia pelas aventuras militares americanas. Essa rejeição vai explodir de várias formas”, advertiu.

Para Richard Wolff, o modelo a ser seguido seria o da reconciliação pacífica, como ocorreu entre EUA e Reino Unido no século XIX. “É possível viver num mundo multipolar. Mas para isso, seria preciso reduzir o orçamento militar, aceitar o fim da hegemonia e investir no próprio povo. Nada disso está sendo feito”.

Com lucidez e firmeza, Wolff revela o que muitos se recusam a enxergar: o império americano chegou ao seu limite — e sua continuidade ameaça não apenas sua própria sociedade, mas a estabilidade do planeta. Assista:

Foto: Reprodução

FONTE: https://www.brasil247.com/ideias/israel-e-a-extensao-de-um-imperio-em-declinio-diz-richard-wolff