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John Mearsheimer explica o declínio inevitável dos Estados Unidos e o fim da hegemonia global

Teórico das Relações Internacionais afirma que o império americano vive um processo de erosão irreversível.

247 – Em vídeo publicado no canal Geopulse no YouTube, intitulado “The Inevitable Decline: John Mearsheimer on the Coming Fall of Washington”, o cientista político John Mearsheimer, professor da Universidade de Chicago e um dos mais influentes teóricos do realismo nas Relações Internacionais, analisa as causas do enfraquecimento da hegemonia norte-americana e prevê um reordenamento do sistema global.

Para Mearsheimer, o que o mundo presencia “não é um colapso súbito, mas o lento desmonte da hegemonia americana”, um processo que, segundo ele, “redefinirá a ordem mundial nas próximas décadas”. O professor ressalta que o poder, ao longo da história, “nunca é estático” e que o declínio de impérios é resultado da dinâmica natural das relações internacionais: “Quando um Estado se torna poderoso demais, outros inevitavelmente se equilibram contra ele, direta ou indiretamente.”

A ilusão da unipolaridade

Após o colapso da União Soviética, os Estados Unidos acreditaram ter alcançado o “fim da história”, como proclamavam intelectuais liberais da época. Mearsheimer explica que, nos anos 1990, Washington se viu “sozinho no topo”, dominante militar, econômica e ideologicamente. Convencido de sua superioridade moral, o país tentou remodelar o mundo à sua imagem — liberal, capitalista e democrático.

Mas, segundo o professor, essa confiança cega foi o início da queda: “Essa convicção foi a semente da arrogância. O poder convida à ilusão, e a unipolaridade, por sua própria natureza, estimula a cegueira estratégica.” A expansão da OTAN para o Leste Europeu e as intervenções militares no Oriente Médio — no Iraque, Afeganistão e Líbia — são, segundo ele, expressões dessa “ilusão de poder ilimitado”.

 “A guerra do Iraque foi talvez a expressão mais clara da arrogância unipolar. Washington acreditava poder depor um ditador, instalar uma democracia e reconfigurar toda uma região com mínima resistência. O resultado foi o caos”, afirma Mearsheimer.

O retorno do equilíbrio de poder

Enquanto os Estados Unidos se envolviam em guerras dispendiosas e mal planejadas, seus rivais observavam e aprendiam. A China, explica o analista, “modernizou-se silenciosamente”, construindo poder industrial, tecnológico e militar “sem provocar confronto prematuro”. Já a Rússia, “enfraquecida nos anos 1990, recuperou-se sob Vladimir Putin, reerguendo suas forças armadas e traçando linhas vermelhas em sua vizinhança”.

Esses movimentos, observa Mearsheimer, desmontaram o mito da ordem americana incontestada. A crise financeira de 2008, cujo epicentro foi o próprio sistema financeiro de Wall Street, expôs a vulnerabilidade do modelo liberal. “O colapso não ocorreu no mundo em desenvolvimento, mas no coração do capitalismo ocidental”, ressalta o teórico.

A sobreextensão imperial e o desgaste interno

Mearsheimer argumenta que o declínio dos Estados Unidos não decorre apenas de fatores externos, mas também de contradições internas. “Guerras sem fim drenaram a confiança pública, a desigualdade econômica se ampliou e a polarização política paralisou a governança”, resume. Ainda assim, a política externa de Washington continuou a ignorar essas limitações, insistindo em uma presença global que já não pode sustentar.

O professor compara a trajetória norte-americana à de impérios passados que sucumbiram ao excesso de ambição:

“O Império Britânico acreditava em sua missão civilizadora; a União Soviética, em sua certeza ideológica. Ambos ignoraram os custos de manter compromissos globais insustentáveis. Os Estados Unidos repetem esses erros sob o manto do universalismo liberal.”

O mundo multipolar e o fim da hegemonia

Para Mearsheimer, a era unipolar inaugurada em 1991 foi uma anomalia histórica, sustentada pela ausência de rivais comparáveis. “Essas condições já não existem”, afirma. O poder está disperso, a legitimidade americana foi abalada e as capacidades econômicas e militares estão mais distribuídas. “Os Estados Unidos ainda podem moldar o mundo, mas não mais ditá-lo.”

O professor alerta que a sobreextensão — militar, econômica e tecnológica — tornou-se “um limite ativo ao poder americano e um catalisador de instabilidade global”. Washington tenta manter supremacia em áreas como inteligência artificial, semicondutores e espaço, mas enfrenta concorrência crescente de ChinaRússia e até de aliados europeus que buscam maior autonomia estratégica.

“O declínio não é uma hipótese, é uma certeza”

No encerramento de sua análise, Mearsheimer é categórico:

 “A queda de Washington não é uma questão de se, mas de quando.”

Para ele, o declínio norte-americano já está em andamento, e a transição para uma ordem multipolar será inevitável — e turbulenta. “A história é implacável”, conclui. “Impérios se expandem até ultrapassar seus limites. Adversários se adaptam. E a ilusão da invencibilidade cede lugar à dura realidade do equilíbrio, da contenção e das consequências.”

Foto: Universidade de Chicago

FONTE: https://www.brasil247.com/ideias/john-mearsheimer-explica-o-declinio-inevitavel-dos-estados-unidos-e-o-fim-da-hegemonia-global